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quarta-feira, 26 de março de 2014

O jogo pesado contra o Brasil...



O jogo pesado: tirar a Petrobras de campo

O caso Pasadena pode ser tudo menos aquilo que alardeia a sofreguidão conservadora. O alvo é: espetar na Petrobras a prova da presença do Estado na economia.


por: Saul Leblon - Da Agência Carta Maior
 


O caso Pasadena pode ser tudo menos aquilo que alardeia a sofreguidão conservadora.

Pode ser o resultado de um ardil inserido em um parecer técnico capcioso. Pode ser fruto de um revés de mercado impossível de ser previsto, decorrente da transição desfavorável da economia mundial; pode ser ainda  –tudo indica que seja--  a evidência ostensiva da necessidade de se repensar um critério mais democrático para o preenchimento de cargos nas diferentes instancias do aparelho de Estado.
Pode ser um mosaico de  todas essas coisas juntas.
Mas não corrobora justamente aquela que é a mensagem implícita na fuzilaria conservadora nos dias que correm.
Qual seja,  a natureza prejudicial da presença do Estado na luta pelo desenvolvimento do país.
Transformar a história de sucesso da  Petrobrás em um desastre de proporções ferroviárias é o passaporte para legitimar a agenda conservadora nas eleições de 2014.
Ou não será exatamente o martelete contra  o ‘anacronismo intervencionista do PT’  que interliga as entrevistas e análises de formuladores e bajuladores das candidaturas Aécio & Campos? (Leia neste blog ‘Quem vai mover as turbinas do Brasil?’)

Pelas características de escala e eficiência, ademais da  esmagadora taxa de êxito que lhe é creditada – uma das cinco maiores petroleiras do planeta, responsável pela descoberta das maiores reservas  de petróleo do século XXI--  a Petrobrás figura como uma costela de pirarucu engasgada na goela do mercadismo local e internacional.
Ao propiciar ao país não apenas a autossuficiência, mas a escala de descobertas que encerram o potencial de um salto tecnológico, capaz de contribuir para  o impulso industrializante de que carece o parque fabril do país, a Petrobrás reafirma a relevância insubstituível da presença estatal na ordenação da economia brasileira. 
Estamos falando de uma ferramenta da luta pelo desenvolvimento. Não de um conto de fadas.
Há problemas.
A empresa tem arcado com  sacrifícios equivalentes ao seu peso no país.
Há dois anos a Petrobrás vende gasolina e diesel por um  preço 20% inferior ao que paga no mercado mundial.
Tudo indica que a cota de contribuição para mitigar as pressões inflacionárias decorrentes  de choques  externos e  intempéries climáticas tenha chegado ao limite.

Mas  não impediu que a estatal fechasse 2013 como a petroleira que mais investe no mundo: mais de US$ 40 bilhões/ano: o dobro da média mundial do setor.
Ademais, ela é campeã mundial no decisivo quesito da  prospecção de novas reservas.

Os números retrucam o jogral do ‘Brasil que não deu certo’.
O pré-sal já produz  405  mil barris/dia.
 Em quatro anos, a Petrobras estará extraindo 1 milhão de barris/dia da Bacia de Campos.
Até 2017, ela vai investir US$ 237 bilhões; 62% em exploração e produção. Em 2020, serão 2,1 milhões de barris/dia.
Praticamente dobrando  para 4 milhões de barris/dia a produção brasileira atual.

O conjunto explica o interesse dos investidores pela petroleira verde-amarela que está sentada sobre uma poupança  bruta formada de 50 bilhões de barris do pré-sal.

Mas pode ser o dobro disso;  os investidores sabem do que se trata e com quem estão falando.
Há duas semanas, ao captar US$ 8,5 bi no mercado internacional, a Petrobrás  obteve oferta de recursos em volume  quase três vezes superior a sua demanda.

O marco regulador do pré-sal --aprovado com a oposição de quem agora agita a bandeira da defesa da estatal–- instituiu o regime de partilha e internalizou o comando de todo o processo tecnológico, logístico, industrial, comercial e financeiro da exploração dessa riqueza.
Todos os contratados assinados nesse âmbito passam a incluir cláusula obrigatória de conteúdo nacional nas compras, da ordem de 50%/60% , pelo menos.

Esse é o ponto de mutação da riqueza do fundo do mar em prosperidade na terra.

Toda uma cadeia de equipamentos, máquinas, logística, tecnologia e serviços diretamente ligados, e também externos, ao ciclo do petróleo será  alavancada nos próximos anos.
O conjunto pode fazer do Brasil um grande exportador industrial inserido em cadeias globais de suprimento e inovação  –justamente o que falta ao fôlego do seu desenvolvimento no século XXI.
É o oposto do projeto subjacente ao torniquete de manipulação e  engessamento que se forma em torno da empresa nesse momento.
Para agenda neoliberal não faz diferença  que o Brasil deixe de contar com uma alavanca industrializante com as características reunidas pela Petrobrás.
Pode ser até bom.
O peso de um gigante estatal na economia atrapalha a ‘ordem natural das coisas’ inerente à dinâmica dos livres mercados, desabafa a lógica conservadora.

A verdade é que se fosse depender da ‘ordem natural das coisas’ o Brasil seria até hoje um enorme cafezal, sem problemas de congestionamento ou superlotação nos aeroportos, para felicidade de nove entre dez colunistas isentos.

Toda a industrialização pesada brasileira, por exemplo  –que distingue o país como uma das poucas economias em desenvolvimento dotada de capacidade de se auto-abastecer de máquinas e equipamentos— não teria sido feita.
Ela representou uma típica descontinuidade na ‘ordem natural das coisas’.
A escala e a centralização de capital necessárias a esse salto estrutural da economia não se condensam espontaneamente em um país pobre.
Num  mercado mundial já dominado por grandes corporações monopolistas nessa área e em outras, esse passo, ou melhor, essa ruptura, seria inconcebível sem forte intervenção estatal no processo.
Do mesmo modo, sem um banco de desenvolvimento como o BNDES, demonizado pelo conservadorismo, a indústria e a economia como um todo ficariam comprometidos pela ausência de um sistema financeiro de longo prazo, compatível com projetos de maior fôlego.
Do ponto de vista conservador, o financiamento indutor do Estado, a exemplo do protecionismo tarifário à indústria nascente  –implícito nas exigências de conteúdo nacional no pré-sal--  apenas semeiam distorções de preços e ineficiência no conjunto da economia.
É melhor baixar as tarifas drasticamente; deixar aos mercados a decisão sobre  quem subsistirá e quem perecerá para ceder  lugar às importações.

O corolário dessa visão foi o ciclo de governos do PSDB,  quando se privatizou, desregulou e se reduziu barreiras à entrada e saída de capitais.

A Petrobrás resistiu.
Em 1997, até um novo batismo fora providenciado para lubrificar a operação de fatiamento e venda dos seus ativos aos pedaços.
Não seu.
Dez anos depois, em 2007, essa resistência ganharia um fortificante ainda mais indigesto aos estômagos conservadores, com a descoberta e regulação soberana das reservas do pré –sal.
Num certo sentido, a arquitetura de exploração do pré-sal avança um novo degrau na história da industrialização brasileira.
Mais que isso,  esboça um modelo.
Se a empresa privada nacional  não tem escala, nem capacidade tecnológica para suprir as demandas do desenvolvimento, uma estatal pode –como o faz a Petrobras -  instituir prazos e definir garantias de compra que de certa forma  tutelem  a iniciativa privada deficiente.
Dando-lhe encomendas para  se credenciar ao novo ciclo de expansão do país –e até mesmo operar em escala global, inserindo-se nas grandes cadeias da indústria  petroleira.
A outra  alternativa seria bombear  a receita petroleira  diretamente para fora do país, vendendo o óleo bruto.
E renunciar assim aos múltiplos de bilhões de dólares de royalties que vão irrigar o fundo do pré-sal e com ele a educação pública das futuras gerações de crianças e jovens do Brasil. 
Ou  então vazar  impulsos industrializantes para encomendas no exterior , sem expandir polos tecnológicos, sem engatar cadeias de equipamentos, nem elevar  índices de nacionalização em benefício de empregos e receitas locais.
A paralisia  atual da industrialização brasileira  é um problema real que afeta todo o tecido econômico.
Asfixiada durante três décadas pelo câmbio valorizado e pela concorrência chinesa, a indústria brasileira de transformação perdeu elos importante, em diferentes cadeias de fornecimento de insumos e implementos.

A atrofia é progressiva.
O PIB cresceu em média 2,8% entre 1980 e 2010; a indústria da transformação cresceu apenas 1,6%, em média. Sua fatia nas exportações recuou de 53%, entre 2001-2005, para 47%, entre 2006-2010.
O mais preocupante é o recheio disso.
Linhas e fábricas inteiras foram fechadas. Clientes passaram a se abastecer no exterior. Fornecedores se transformaram em importadores.
Empregos industriais foram eliminados; o padrão salarial do país foi afetado, para pior.
É possível interromper essa sangria, com juros subsidiados, incentivos, desonerações, protecionismo e ajuste do câmbio, como está sendo feito pelo governo.

Mas é muito difícil reverter buracos consolidados.
O dinamismo que se perdeu teria que ser substituído por um gigantesco esforço de inovação e redesenho fabril, a um custo que um país em desenvolvimento dificilmente poderia arcar.
Exceto se tivesse em seu horizonte a exploração centralizada e soberana, e o refino correspondente, das maiores jazidas de petróleo descobertas no século 21.

Esse trunfo avaliza a possibilidade de se colocar a  reindustrialização  como uma resposta política  do Estado brasileiro à crise mundial.
Nada disso  pode ser feito sem a  Petrobrás.
Tirá-la do campo em que se decide o futuro do Brasil: esse é o jogo pesado que está em curso no país.

terça-feira, 25 de março de 2014

O Lula, a internet e o currículo...

Circula na rede: 

foto de José Mario Ribeiro.

Breve esclarecimento porque o "apedeuta" como chamam os coxinhas, é na verdade além de cidadão do mundo, "O CARA".

Lula, que não entende de
sociologia,
levou 32 milhões de miseráveis e pobres
à condição de consumidores;
e que também não entende de economia;
pagou as contas de FHC,
zerou a dívida com o FMI e
ainda empresta algum aos ricos;


Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores
juntos [14 universidades públicas e estendeu mais de 40 campi],
e ainda criou o PRÓ-UNI,
que leva o filho do pobre à universidade
[meio milhão de bolsa para pobres
em escolas particulares].

Lula, que não entende de finanças
nem de contas públicas,
elevou o salário mínimo de
64 para mais de 291 dólares [valores de
janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.

Lula, que não entende de psicologia,
levantou o moral da nação e disse que o
Brasil está melhor que o mundo.
Embora o PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que
não.

Lula, que não entende de engenharia,
nem de mecânica,
nem de nada,
reabilitou o Proálcool,
acreditou no biodiesel e levou o país
à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do
planeta].
Lula, que não entende de
política,
mudou os paradigmas mundiais e
colocou o Brasil na liderança
dos países emergentes,
passou a ser respeitado
e enterrou o G-8 [criou o G-20].

Lula, que não entende de política externa nem de
conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA,
olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos
da América Latina, onde exerce
liderança absoluta sem ser imperialista.
Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc.
Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.

Lula, que não entende de
mulher nem de negro,
colocou o primeiro negro no Supremo
(desmoralizado por brancos) e
uma mulher no cargo de primeira ministra,
e que pode inclusive, fazê-la sua sucessora.

Lula, que não entende de etiqueta,
sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca
de lentes azuis.

Lula, que não entende de desenvolvimento,
nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC;
antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é
hora de o Estado investir;
hoje o PAC é um amortecedor da crise.

Lula, que não entende de crise,
mandou baixar o IPI e levou a
indústria automobilística a
bater recorde no trimestre
[como também na linha branca de eletrodomésticos].

Lula, que não entende de português
nem de outra língua, tem fluência entre
os líderes mundiais;
é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo
atual
[o melhor do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e
outros...].

Lula, que não entende de
respeito a seus pares,
pois é um brucutu,
já tinha empatia e relação direta com George Bush -
notada até pela imprensa americana -
e agora tem a mesma empatia com Barack Obama.

Lula, que não entende nada de sindicato,
pois era apenas um agitador...
é amigo do tal John Sweeny
[presidente da AFL-CIO - American Federation Labor-Central
Industrial Congres - a central de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá
sim, é única...]
e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio
Sam lá, nos "States".

Lula, que não entende de geografia,
pois não sabe interpretar um mapa
é autor da maior mudança geopolítica
das Américas na história.

Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca
estará preparado,
age com sabedoria em todas as frentes e se
torna interlocutor universal.

Lula, que não entende nada de história,
pois é apenas um locutor de bravatas;
faz história e será lembrado por um grande
legado, dentro e fora do Brasil.

Lula, que não entende nada de
conflitos armados nem de guerra,
pois é um pacifista ingênuo,
já é cotado pelos palestinos para
dialogar com Israel.
Lula, que não entende nada de nada...
é bem melhor que todos os outros...!


Pedro Lima * Economista e professor de economia da UFRJ

segunda-feira, 24 de março de 2014

O desastre...


 

Em destaque, sítios de jornais e revistas e os portais das grandes operadoras de telefonia, como é o caso do "Terra", noticiam o rebaixamento da avaliação do Brasil na sua classificação. 

Lá no Terra a manchete: 

Agência de risco Standard & Poor's rebaixa nota do Brasil para BBB-


Isso acontece no mesmo momento em que a Economist, revistona porta-voz do capital especulativo também sai criticando o País, curiosamente em ano de eleição presidencial. 


E fica a pergunta: e daí???

E daí, tirando a clara e evidente manipulação, isso pouco ou nada tem a ver com o povo. Só vale mesmo para especuladores. É até bom que caia a nota desses ag~encia de picaretagem e menos abutres venham pilhar o Brasil...

O Papa, a mídia e a mentira...

O Papa Francisco fez, no sábado uma exortação contra a manipulação do noticiário pela mídia. Curiosamente, o discurso papal não figurou em nenhum dos noticiários de TV - como o Jornal Nacional, da Globo ou o Jornal da Band - e nem foi mencionado nas páginas dos grandes jornais. 



A carapuça entrou feito na mídia brasileira que espalha desinformação e mente abertamente contra o País. 

Aqui estão a fala do Papa e o vídeo de seu discurso: 


Vocês já viram abaixo a nota "Papa aconselha: fujam da desinformação, o mais perigoso pecado da mídia. E agora, Globo?"

Agora tem o vídeo que Jornal Nacional não passou (o Papa Francisco fez esse pronunciamento no sábado). Está falado em italiano, mas dá para entender um pouco quando ele fala:
Mas existem também os pecados da mídia! Permito-me falar um pouco sobre isto. Para mim, os pecados da mídia, os maiores, são aqueles que seguem pelo caminho da mentira e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação. Estes dois últimos são graves, mas não tão perigosos como o primeiro. Por que? Vos explico. A calúnia é pecado mortal, mas se pode esclarecer e chegar a conhecer que aquela é uma calúnia. A difamação é um pecado mortal, mas se pode chegar a dizer: ‘esta é uma injustiça, porque esta pessoa fez aquela coisa naquele tempo, depois se arrependeu, mudou de vida’. Mas a desinformação é dizer a metade das coisas, aquilo que para mim é mais conveniente e não dizer a outra metade. E assim, aquilo que vejo na TV ou aquilo que escuto na rádio não posso fazer um juízo perfeito, pois não tenho os elementos e não nos dão estes elementos. Destes três pecados, por favor, fujam! Desinformação, calúnia e difamação.
Íntegra do discurso do Papa Francisco:




Fonte: Blog "Os Amigos do Presidente Lula"

Como age a "companhia"...

Texto publicado no Luís Nassif Online: 

 

A relação entre a CIA e a intervenção militar

por JNS



A TFP taí ....






OPERAÇÕES DE DESESTABILIZAÇÃO INTERNA

A relação de governos que foram derrubados pela CIA: Irã (1953), Tibet (1950), Guatemala (1954), Cuba (1959), Congo (1960), Iraque (1963), Brasil (1964), Gana (1966), Iraque (1968), Chile (1973), Afeganistão (1973-1974), Iraque (1973-1975), Argentina (1976), Irã (1980), Nicarágua (1981-1990), El Salvador (1980-1992), Camboja (1980-1995), Angola (1980), Filipinas (1986), Irã (2001- até o presente), Iraque (1992-1995), Guatemala (1993), Sérvia (2000), Venezuela (2002), Haiti (2004), Ucrânia (2014).

Observando os acontecimentos envolvendo o Irã e a Líbia, nota-se uma repetição de um “modus operandi” de comprovado sucesso , quando se deseja justificar uma intervenção militar ou a imposição de bloqueio econômico em um determinado país, visando enfraquecê-lo e assim tornar possível a queda do regime vigente, para ser, posteriormente, substituído por uma equipe de governo aliado aos da nação (ou grupo) que mantém interesses no chamado 'país-alvo'.
As motivações para tais operações são:
Interesses de ordem econômica;
Interesses de ordem política;
Manutenção ou obtenção de áreas de influência, entre outras.
O ex-agente da CIA, Philip Agee reconheceu, em seu livro Inside the Company: Cia Diary, que essas operações são arriscadas porque quase sempre significam intervenção, pois visam a influenciar, por meios encobertos, os assuntos internos de outro país, com o qual os Estados Unidos mantêm relações diplomáticas. A técnica consiste essencialmente na “penetration” (inserção de agentes no país), buscando aliados desejosos de colaborar com a CIA e dissidentes do governo estabelecido. 

Daí que a regra mais importante na sua execução é a possibilidade de “plausible denial” (capacidade de negar um fato ou alegação), ou seja, negar convincentemente a responsabilidade e a cumplicidade dos Estados Unidos com o golpe de Estado ou outra operação, uma vez que se fosse descoberto seu patrocínio, as consequências no campo diplomático seriam graves.
Embora as principais potências mundiais (Rússia, China, Inglaterra, França, Espanha e várias outras) utilizem á séculos tal expediente em vários momentos de sua história, analisaremos somente algumas ações atribuídas aos Estados Unidos devido a sua relevância no contexto das Américas Central e Sul, as quais são sua esfera de influência e onde se localiza o nosso país.

Texto completo em:
http://jornalggn.com.br/noticia/a-relacao-entre-a-cia-e-a-intervencao-militar-por-jns

Faltou gente...

Mais um bom relato sobre a "Murcha" da Família com Deus pela Ditabranda" em São Paulo:


Crônica  

Por: Laura Capriglione

Marcha tem apelo à tortura e 'Caça aos Corruptos'

Diferentemente do ato original, nem Deus nem a família compareceram desta vez, com a exceção de dois seminaristas imberbes
 
 
Fotos: Joseh Silva
Deus não deu o ar da graça na Marcha Com Deus pela Família e a Liberdade 2, realizada no sábado 22 em São Paulo. Se há cinquenta anos a Marcha original contra o comunismo e o governo do presidente João Goulart (1919-1976) contou com o apoio militante dos hierarcas católicos, secundados por milhares de mulheres rezando o terço, a de 2014, contra o PT, Dilma, Lula e, é claro, o comunismo, teve de se contentar com dois seminaristas imberbes – as duas únicas batina vistas —, uma réplica em resina da imagem de Nossa Senhora Aparecida e um pôster barato de Nossa Senhora de Fátima.

A Família brasileira também faltou. Em 1964, centenas de milhares estavam presentes na Marcha. Desta vez, se muito, foi uma marchinha. Segundo a Polícia Militar, cerca de 500 manifestantes reuniram-se na Praça da República (centro de São Paulo), de onde saíram em caminhada para a Praça da Sé. “Dilma e Lula vão pra Cuba que os Pariu”, rezava uma faixa.

Não faltou, entretanto, fervor, fantasia e gritaria. Tinha advogado de PM que participou do Massacre do Carandiru protestando contra uma tal “emasculação da polícia pretendida pelo PT”, militante anti-aborto e anti-gay da organização Pró-Vida (“o PT odeia a família”), homens de terno com aventalzinho (eram maçons golpistas), gente embrulhada em bandeira brasileira, com camisetas militares de camuflagem, carecas (skinheads), uma dupla de lésbicas fascistas com o cabelo corta à la capuchinho (elas não explicavam por quê), homens vestidos de caubóis texanos (chapelão e botas).

“Intervenção Militar Já” repetiam os oradores da manifestação, que se desfaziam em aplausos e gritos de apoio ao ver o helicóptero da Polícia Militar sobrevoando seu grupo. Ou quando um militar da reserva subia ao palanque para uma peroração anticomunista.

 


Como a que fez o coronel Ricardo Jacob, da reserva da PM, um dos mais aplaudidos da marchinha, defensor da tortura como método de obtenção de informações: “Porque, na moral, falando, conversando, ninguém fala a verdade”.

Amanda de Jesus Almeida, de 23 anos, estudante de ciências contábeis, lamentou não conhecer o hit parade do hinário cívico brasileiro, ali tocado à exaustão. Diante do Hino da Independência, o “Já Podeis da Pátria Filhos”, ela, que não sabia a letra, reclamava do “nível de ensino”. “Eu não tive aulas de Educação Moral e Cívica. Hoje, nas escolas, a juventude só aprende a ser gay, ateu e a fazer aborto”.

 


A falta de gente era compensada pela sonzeira que vinha de caixas acústicas poderosas, instaladas em um ônibus pintado de preto e em um trio elétrico igualmente pintado de preto. Repórteres cobrindo a manifestação apelidaram os dois veículos de “caveirões”, alusão aos veículos blindados usados pelo Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, a Tropa de Elite do Rio.

E parecia mesmo. Decorava um dos veículos uma enorme faixa verde e amarela em que se via uma caveira sinistra, sorrindo. Atravessada por dois rifles, a imagem da morte ainda ostentava boina militar bordada com as letras CCC.

 


Para quem não sabe, CCC é o nome de um organização de extrema-direita que ficou famosa durante a ditadura como tropa de assalto. Em 1968, por exemplo, invadiu e espancou o elenco do espetáculo Roda Viva, que estava em cartaz no Teatro Ruth Escobar. O CCC original queria dizer Comando de Caça aos Comunistas. O de ontem era traduzido por Comando de Caça aos Corruptos.

Foram cerca de 20 execuções do hino nacional, incluindo uma versão em ritmo de forró em um trajeto 1.900 metros entre a República e a Sé. “Não existe nada mais lindo do que isso”, repetia o apresentador do evento, de cima do caveirão.

 


Gabriela Vitória Alexandre de Souza Lima, 18 anos, estudante de gestão comercial da FMU, cantava com os olhos fechados, mão no peito, como em um louvor religioso. Ela foi ao ato levada pelo pastor da Comunidade Evangélica Paz e Bênção, do Jardim Grimaldi (zona leste), que lhe disse que o PT pretende fechar todas as igrejas evangélicas do Brasil. “Tenho certeza de que a Dilma quer fazer isso como forma de calar o povo.”

Na frente da Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, o carro de som exumou a marchinha “Eu te amo meu Brasil”, exaltação do chamado “Brasil Grande” pregado durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici. Senhores na casa dos 60 anos voltaram ao baile da escola. “Foi a aurora da minha vida. Ninguém segura a juventude do Brasil”, emocionou-se Cleide Fonseca Brunoro, 65 anos, camiseta militar camuflada, shorts e botinha de salto. Bem iê-iê-iê.


 


Mas havia um medo no ar. Ali, bem perto, os comunistas – sempre eles –, os vermelhos, os black blocs, os baderneiros, os petralhas, faziam a sua passeata. Chamada “Antifascista” a manifestação dos esquerdistas juntou mil pessoas segundo a PM. O receio era que as duas turmas se encontrassem em algum ponto. Seria pancadaria certa.

A Marcha com Deus tinha a sua tropa privada de proteção. Carecas musculosos, de coturnos, anéis com a imagem da cruz de ferro (símbolo germânico popularizado durante o nazismo), ataduras na mão direita (à moda da proteção usada pelos lutadores de muai thai), carregando grossos canos de ferro na ponta dos quais penduravam-se bandeiras azuis, andavam em formação nos extremos da caminhada da direita.

 


Comandava-os com gestos bruscos um fortão com o cabelo liso emplastrado de gumex, franjinha para o lado, escovinha atrás. E um bigode. “Hitler veio?”, provocou o professor Gumercindo Almeida, de 35 anos, quando o caveirão subia a rua Xavier de Toledo aos gritos de “Deus, Pátria, Família”.

Foi uma hora tensa. Dois rapazes magros, camisas brancas abotoadas até o pescoço, abriram na frente da passeata uma enorme faixa preta em que se viam letras góticas brancas. Nazistas também? Os fortões carecas foram ver o que estava escrito. E confundiram-se. De trás para diante, como se em um espelho, a faixa dizia “Esta imagem está invertida”. Era um divertido protesto punk antifascista. Os dois foram postos para correr por um armário humano com camiseta em que se lia: “Brigadas Integralistas”.

As duas passeatas não se cruzaram. Mas os punks anarquistas, em sua luta eterna contra os skinheads a quem chamam de fascistas, não deixaram barato. Já na Sé, um dos caveirões instalado em frente à escadaria da igreja, abriu-se a faixa verde e amarela “O Brasil não é colônia de Cuba”.

 


Foi então que uma garota punk solitária sacou sorrateiramente o spray vermelho e pichou a faixa. Flagrada, foi correria de savana africana, a menina caçada pelos grandalhões carecas. Mas ela escapou. Ufa!

Porta-voz dos carecas, o jornalista, radialista e pastor evangélico Kleber Ricardo, de 40 anos, dizia que seu grupo retirava inspiração nos ensinamentos de Plínio Salgado (1895-1975), representação do fascismo no Brasil. E prometeu que este foi apenas o primeiro ato. “O bebê nasceu hoje”, fazia-lhe coro o locutor de cima do caveirão.

domingo, 23 de março de 2014

A "murcha" na roça...



Este é o relato da "Marcha Com Deus pela Ditabranda" em uma pequena cidade do interior...


Fui participar da “Murcha da Família com Deus pela Liberdade, a Propriedade e a Ditabranda” aqui na Campanha (MG). Vesti minha (hoje apertada) farda de atirador do TG-058 lá de Ituiutaba, botei na cintura minha garrucha (sem balas, infelizmente) e calcei coturnos engraxados, tudo para me acharem coxinha apoiando a murcha… Peguei uma velha bandeira da Confederação Americana e lá fui… Cheguei e estavam a minha espera o pipoqueiro de plantão no Largo Dom Ferrão, um bêbado que achava que era micareta, duas senhorinhas nos seus setenta anos que se identificaram da família Alencastro da Cunha, da Tradicional Família Mineira lá de São João Del Rey e dois skin-heads que vieram passar férias em Cambuquira. Um cabo, dois soldados e um agente da CIA faziam a vigilância. A turma cantou aquela música do Dom e Ravel saudando a redentora e nós descemos pela Rua Direita em direção a Rua das Almas – trajeto melhor não havia. O bêbado ficou pelo caminho. Os carecas debandaram na Igreja das Dores e eu acabei do lado das duas senhorinhas que não se cansavam de esgoelar “Volta Garrastazzu!!”. Nenhuma equipe da Falha de S. Paulo ou da “Óia” apareceu. O Aécim das Neves que havia prometido apoio disse que ficou preso no pó…da estrada e não podia vir. O FHC também foi retido por compromissos em Higienópolis e o AnastAZIA também não deu as caras. Seis quarteirões depois um grupo que tomava cerveja num bar saiu para nos vaiar. desisti… Já não se fazem mais ditabrandas como antigamente!!!

A doideira da "murcha"...

Com a palavra Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania:

Fascistas transformam centro de São Paulo em hospício


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Confesso que senti medo ao sair de casa no sábado para cobrir a Marcha da Família Fascista que ocorreu em São Paulo e que você, leitor, entre incrédulo e estupefato irá conferir no texto, nas fotos e no vídeo (ao fim do texto) que este post contém.
Meu medo tinha duas origens, uma subjetiva e outra objetiva. A subjetiva, por ver ocorrer de novo em meu país uma demonstração tão grande de selvageria, de egoísmo e de um desprezo surreal pela democracia. A objetiva, por medo de ser reconhecido pelos fascistas.
A necessidade de denunciar toda a loucura que sabia que encontraria, porém, falou mais alto.
Caminhei pelos corredores da estação do metrô próxima de casa como quem caminha para o cadafalso. Inconscientemente – depois me dei conta –, decidi passar primeiro na marcha antifascista que ocorreria na Praça da Sé.
Foi a forma que encontrei de postergar o sofrimento que me impus.
Na Sé, encontrei menos gente do que esperava – cerca de 300 pessoas. Porém, depois a marcha antifascista superaria a fascista em número.

A fauna antifascista era a esperada. Antigos militantes de esquerda, estudantes, black blocs, sindicalistas, intelectuais.
Se não fosse um episódio que me fez criar coragem para ir logo à marcha fascista, teria ficado até menos tempo. Não havia nada para ver lá que já não conhecesse e eu queria era novidade. Como dizem, o cachorro morder o homem não é notícia; notícia é o homem morder o cachorro.
Mas houve um episódio digno de nota, sim.
Uma mulher da marcha fascista foi até a marcha antifascista para provocar. Um estudante discursava contra a ditadura quando ela, aos berros, passou a acusar a manifestação adversária de querer transformar o Brasil em Cuba.


A confusão se formou. Tentaram dialogar com a mulher, mas ela estava enlouquecida. Começou a empurrar as pessoas e, aí, o tempo fechou. Quase foi linchada, mas mulheres e homens mais maduros a conduziram até a polícia militar, que a colocou numa viatura e a levou embora.


Vendo que dali em diante só seria dito naquela manifestação o racional, tomei o caminho da Praça da República para cumprir a missão que me impus.
Chego à República. Os malucos estão diante do Colégio Caetano de Campos. Muita polícia. Umas dez vezes mais do que na marcha antifascista. Depois descobriria que os fascistas convocaram a PM para ir em peso “protegê-los”.

Mais tarde, veria cenas de confraternização entre a PM e os organizadores da marcha fascista. Conversavam ao pé do ouvido e trocavam informações. Vi um oficial falando ao rádio e passando informações a um dos organizadores fascistas.
A primeira cena bizarra que vi na marcha fascista foi justamente a que justifica esse adjetivo para aquela gente. E quando digo que justifica, justifica mesmo. Confira por que na foto abaixo.

Quem segurava cartaz dizendo “Salve o fascismo era uma garota de cerca de vinte anos, magricela, alta, cheia de piercings no rosto. Travei com ela o seguinte diálogo:
– Vocês defendem o fascismo?
– Sim, defendemos o fascismo.
– O que é o fascismo?
Nesse momento, a garota me afastou com o braço, deu-me as costas e sumiu na multidão.
Caminho mais um pouco por aquele hospício e encontro um jovem de uns 30 anos, talvez. Sua manifestação você pode conferir na foto abaixo.

Novamente, cumpro a pena que me impus e vou falar com ele.
– Você pode me explicar essa questão da “intervenção militar”?
– Sim. Intervenção militar é garantida pela Constituição Federal. É um recurso para derrubada de presidente e é o que a gente está pedindo (…)
– Derrubar presidente é permitido pela Constituição?
– Sim, pela Constituição Federal.
– Tem algum artigo, alguma coisa…?
– Artigo primeiro e artigo, se não me engano, 42…
Reproduzo, abaixo, o artigo 142 da Constituição de 1988, ao qual o indivíduo se refere:
—–
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
—–
Como se vê, não há nada, absolutamente nada nesse texto que autorize a derrubada de um governo pelas Forças Armadas. Muito pelo contrário: o texto constitucional diz que essas Forças devem defender os poderes constitucionais, não derrubá-los.
Vendo a falta de futuro também nessa conversa, vou à próxima.
Uma mulher de meia-idade segurava um cartaz interessante. Veja a foto:

Pergunto à portadora do cartaz dizendo “Saímos do Facebook. Hahaha” o que o seu movimento pretende. Resposta: “Eu pretendo acabar com o PT”.
Hospício é assim: cheio de complexos de Napoleão.
Vejo, ao lado, alguém que me parece menos delirante. Outro homem de meia-idade, mas parecendo um pouco menos alucinado. Vejamos o diálogo.
– O que seria “intervenção militar”?
– É, talvez, um governo militar…
– Mas intervenção quer dizer que eles vão intervir em alguma coisa.
– Se for necessário, sim (…)
– O senhor acha que alguma coisa assim aconteceria nos Estados Unidos, por exemplo?
– Não entendi…
– Por exemplo: se alguém quiser derrubar o governo dos Estados Unidos, o que acontece? Se um cidadão pegar e for pra rua e disser “Olha, vou derrubar o governo Obama”, o que acontece? Acho que vai pra Guantánamo, não?
– Não sei… Não sei o que aconteceria lá, porque lá a democracia é pra valer, né?
– Lá não pode pregar “intervenção militar”, certo?
Já estava começando a me sentir meio maluco, também. Porém, a preocupação diminuiu porque aquele bando de doidos decidiu marchar. Conforme foram deixando a praça, começam os berros: “Fora, PT! Fora, PT!”.
Menos mal. Fora PT, fora Dilma, fora Lula é direito deles pedir.
Ou não?
Seja como for, pareceu-me menos maluco do que os diálogos que acabara de travar. Contudo, o surrealismo não tinha terminado.
Alguns metros mais e vejo uma cena ainda mais inusitada: dois rapazes de batina começam a rezar e logo a multidão toda abandona o “fora, PT” e se junta a eles.

Aproximo-me dos “padres” para saber se eram mesmo religiosos ou se estavam apenas fantasiados.
– Vocês são padres mesmo?
– Seminaristas.
(…)
– Vocês apoiam a “intervenção militar”?
– Se for a solução.
– Vocês apoiam um golpe militar?
– Se for a solução, mas não chamaria um golpe. Chamaria (…) de parar o governo para voltar ao início, aonde começou o erro.
(…)
— Mas você, um religioso… Você ficou sabendo de torturas, de assassinatos que a ditadura cometeu?
– Infelizmente fiquei sabendo, sim. Mas tem contrapartes (…)
– Mas você apoia que o Estado brasileiro torture pessoas, mate…
– Jamais.
– Mas foi o que aconteceu. Foi isso que a primeira marcha fez.
– Não foi cem por cento e não foi a marcha (…)
– Mas foi uma ditadura que durou vinte anos, em que mulheres foram estupradas diante dos maridos…
– O senhor está olhando só o lado negativo (…)
Sem entender como pode haver algo positivo em um regime que torturava, estuprava e assassinava pessoas, troco mais algumas palavras de cortesia e me mando de perto de quem, talvez, fosse o mais maluco, ali…
Enquanto tento fugir do hospício por alguns momentos para recuperar o fôlego – ou a razão – a tropa enlouquece de vez. Para de rezar e começa a berrar: “Ô Dilma, safada! Ô Dilma, Safada!”.
Juro que saí correndo. Ultrapassei a manifestação e dela me afastei até que não estivesse tão próxima. Sentei-me em uma mureta, pus o rosto entre as mãos, respirei fundo e disse a mim mesmo: você vai até o fim.
E lá fui eu.
Mas precisava de um pouco de sanidade. Via que as pessoas às portas dos comércios que não tinham fechado pareciam embasbacadas vendo aquele bando de doidos. Escolhi uma senhora e uma jovem à porta do metrô Anhangabaú que, aparentemente, estavam juntas.

Já orava por não ouvir mais maluquices. Não sei se Deus estava na manifestação, mas Ele me ouviu.
– O que vocês acham da proposta de uma “intervenção militar” no Brasil?
– Intervenção militar no Brasil – repete a senhora, fazendo um ar grave.
– É o que eles estão pedindo. Estão pedindo uma “intervenção militar”, ou seja, igual à que foi feita em 1964, quando os militares derrubaram o Jango Goulart.
– É, e eles governaram o Brasil, né?
– Por vinte anos…
– Não, isso não! Não!
A jovem entra na conversa: “Isso é um absurdo”.
Resolvi ficar com o pouco de lucidez que tinha. Dali, parei a entrevista e fui caminhando calmamente para a praça da Sé, junto com os fascistas. Mas sem falar com mais ninguém.
Quando chegamos à Sé, sinto-me culpado. Estava ali para ouvir os doidos. Tinha que prosseguir.
Tentei fazer mais algumas entrevistas, mas ao chegarem lá os fascistas pareceram ter ficado mais arredios.
Naquele momento, começa uma correria. Fui atrás. Os PM’s cercaram uma loja de eletrodomésticos onde manifestantes antifascistas se abrigaram. Pelo que pude entender, em meio à confusão, tinham ido devolver provocações e começou uma briga.
A PM controla logo a confusão. Volto para perto do protesto fascista, que agora jazia aos pés da Catedral da Sé.
Aproximo-me de uma senhora com o rosto pintado de verde e amarelo. Começo a falar, mas ela não responde. Fica me olhando longamente. De repente, começa a gritar e apontar para mim: “Blogueiro do PT! Blogueiro do PT! Cuidado, blogueiro do PT!”.
Fiquei sem ação por alguns segundos, mas logo notei três homens corpulentos que comentaram algo entre si e começaram a caminhar em minha direção. Eram enormes. Um deles, completamente careca. Não tinham cara de quem vinha pedir autógrafo.
Comecei a me afastar lentamente. Dei as costas à manifestação e apressei o passo. Olho para trás e vejo os três homens ainda vindo em minha direção. E também apressando o passo. Começo a correr. Olho para trás e eles estão correndo também.
Chego à escadaria do metrô antes deles. Ao passar pelos seguranças, eles desistem. Desço afobado a escadaria e passo como um raio pela catraca.
Estou no trem. Escrevo no Facebook a perseguição. Ainda contaminado pelos psicopatas, achei que se me pegassem na saída do metrô pelo menos as pessoas saberiam onde e como eu fora trucidado.
Enquanto me dirijo para casa, a frase que escrevi após ser perseguido no hospício em que os fascistas transformaram São Paulo não me sai da cabeça: que merda é essa que estão fazendo com o nosso país?
*
Assista, abaixo, ao vídeo do hospício São Paulo




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sábado, 22 de março de 2014

O samba atravessou...

A Agência Carta Maior publica texto de Roberto Brilhante que mostra que a "Murcha da Família" de ontem foi um carnaval com samba atravessado e fora de época... 


Carnaval fora de época pede a volta dos militares ao poder

Vão dizer que a chamada Marcha era uma manifestação a favor da volta dos militares ao poder, mas aquilo tudo era engraçado demais pra ser levado a sério


Roberto Brilhante Roberto Brilhante
Este 22 de março foi carnaval fora de época em São Paulo. Cerca de mil ou duas mil pessoas se reuniram na Praça da República entoando marchinas antiquadas, acompanhadas de cornetas militares e vestindo fantasias muito criativas. Alguns vão dizer que a chamada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” era uma manifestação a favor da volta dos militares ao poder, mas aquilo tudo estava engraçado demais pra ser levado a sério.


Passista (foto: Roberto Brilhante)
 
A música do trio elétrico na forma de caveirão foi bastante entediante: tocaram o hino nacional incessantemente, só mudando às vezes para uma versão forró, bem mais divertida, mas que os passistas sempre gritavam para que fosse tirada, afinal, acho que aquela brincadeira de desfile militar não combinava muito com um xote do hino. E tinha fantasia para todos os gostos: de padre, de latifundiário, e até de velhinhas e velhinhos moralistas da Marcha ocorrida há 50 anos (e um cheiro estranho denunciava que, de fato, alguns participaram da antiga marcha e vivem desde de então conservados e conservadas em grandes banheiras de formol)


Caveirão Trio-Elétrico (Foto: Roberto Brilhante)
 
O governo de São Paulo pagou para que muitos policiais participassem do carnaval devidamente fardados e armados. Eles não entoavam as marchinhas contra o comunismo e o PT, mas sambavam um samba do coturno ao som dos cânticos dos manifestantes que cantavam “queremos militares protegendo o Brasil.”

Polícia participou do desfile (foto: Roberto Brilhante)
 
Os cartazes pareciam saídos dos comentários reacionários dos portais de notícias: “Dilma Vá pra Cuba que a Pariu”; “Pelo Fim da Comissão da Verdade”; “Contra a Ditadura (!!!) na Internet: Não ao Marco Civil”; “fora urna eletrônica”; “Nossa Senhora, Salvai-nos do Comunismo.” Tudo isso arrancava gargalhadas de alguns cidadãos que estavam pelas ruas, mas que cobriam a boca com receio dos passistas fardados e/ou fantasiados.

Passistas também cantaram a oração católica "ave Maria" (foto: Roberto Brilhante)
 
Uma figura icônica da internet estava lá também, Leonardo Sakamoto caminhou tranquilamente (ou não tão tranquilamente assim) entre os passistas. Um grupo de carecas mal encarados maldiziam o jornalista, ao que perguntei, como se não soubesse quem era:
- Quem é o japonês de óculos do Matrix?
- É o Sakamoto, aquele porco comunista que anda de Ferrari.

Sakamoto foi perseguido pelas trombetas do apocalípse militar (foto: Roberto Brilhante)
 
Enfim, continuemos. Perguntei ao motorista do trio-elétrico-caveirão em quem ele havia votado na última eleição, ao que ele me respondeu, com um sotaque nordestino e um sorriso cúmplice no rosto “não votei em ninguém…” Os passistas pareciam não entender porque o povo continua a votar nos “comunistas”, que ao que as pesquisas indicam têm grandes chances de vencerem as eleições presidênciais no primeiro turno.

Pa(fa)ssistas (foto: Roberto Brilhante)
 
Como diria o velho Bukowski “as pessoas saem do pátio do colégio, mas o pátio do colégio não sai de muitas pessoas”, e o carnaval de hoje em São Paulo mostrou como muitos ainda criam fantasmas de comunistas comedores de criancinhas para neles projetar suas frustrações da mais tenra infância. E ainda bem que hoje, ao que tudo indica, podemos gargalhar disso.
 
Mais fotos:

 
 Vai tomar no... nem todo mundo achou esse carnaval tão engraçado (foto: Roberto Brilhante)

Só para conversão à esquerda (foto: Roberto Brilhante)
 


Há quem diga que os militares estão saindo da linha (foto: Roberto Brilhante)

Deu chabu...

Convocada com estrepitoso apoio subliminar de grandes jornais - a Folha de S. Paulo chegou a editar um infográfico com o percurso da marcha - a repetição da manifestação das classes alta e média paulistas em 1964, a "Marcha com Deus pela Liberdade, a Propriedade e a Democratura" se mostrou um fiasco de proporção nacional. Em São Paulo, seu maior contingente ficou por conta de cerca de 500 manifestantes. Em Belo Horizonte foram cinco. Sete em São Paulo foram até o Comando da antiga 2ª Região Militar; 3 em Florianópolis; cerca de 12 em Recife e por aí afora... 

Pelo visto, tá fraca a "Rendentora"....

E esse comentário segue pela Rede: 


Emir Sader: "Devido a falta de quórum, não foi possível aprovar solicitação de intervenção dos militares no dia de hoje."


Fonte: Facebook

E o Portal "Brasil 247" cmenta: 

247 – A adesão às Marchas da Família com Deus Pela Liberdade, realizadas neste sábado 22 em algumas capitais, classifica o movimento em defesa de uma intervenção militar no País como um verdadeiro fiasco. Os atos acontecem 50 anos depois do movimento que antecedeu o golpe militar em 1964.
Belo Horizonte, em Minas, reuniu cinco manifestantes; Florianópolis, em Santa Catarina, três; Recife, em Pernambuco, seis; e Natal, no Rio Grande do Norte, nove. Em Belém (Pará), as vinte pessoas que posaram para registrar o protesto deixaram a bandeira do Brasil de cabeça para baixo (confira aqui).
Em São Paulo, a adesão foi maior: cerca de 700 pessoas, mesmo número de participantes de uma marcha contra o golpe. A presença de policiais que trabalharam no ato que defendeu os militares, no entanto, era tão grande que o evento mais se pareceu com uma reivindicação da categoria. No Rio, foram cerca de 150 pessoas, responsáveis pela principal notícia do dia sobre o tema: um confronto com militantes contra o regime.
No Twitter e no Facebook, onde usuários publicam dezenas de fotos das marchas em suas cidades, os movimentos já ganharam o apelido de "Murcha da Família" ou então uma definição que caracteriza muito bem o movimento minguado, feita pelo usuário @cellso89: "a Marcha da Família começou em marcha lenta e terminou em marcha ré".
"Intervenção militar já!", "o Brasil exige: Ordem e Progresso", "Socorro, forças" e "eleição não, intervenção sim" foram alguns dos cartazes levantados sobre o golpe. O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) compareceu à marcha do Rio de Janeiro, mas não se posicionou a favor do pedido de intervenção militar, por entender que isso descaracteriza o movimento. "Estou aqui como um patriota", disse o parlamentar.
Um dos organizadores da marcha no Rio, o cabo da reserva do Exército Emílio Alarcon, ponderou que, apesar dos pedidos de intervenção, a intenção deles não é a instauração de uma ditadura militar. Para ele, as Forças Armadas devem fechar o Congresso e derrubar o Executivo, para convocar novas eleições apenas com candidatos ficha limpa. "A intervenção é constitucional. A gente não está pedindo nada de anormal", disse ele.
Para reivindicar a intervenção, os militantes desse grupo usaram o Artigo 142 da Constituição, que diz: "As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".
Na interpretação do grupo, tal obrigação de garantir os poderes justificaria a intervenção, já que há problemas institucionais graves que só podem ser resolvidos dessa forma: "seria umreset, formatar de novo o Brasil. Todos os partidos estão envolvidos em corrupção", argumentou Alarcon.
No protesto de São Paulo, um discurso um tanto confuso. "Eu sou federalista, sou a favor da democracia. Só que a gente não tem certeza se a nossa democracia está sendo exercida. Então, sou a favor de que os militares intervenham, não o regime, apenas para convocar novas eleições com voto impresso, para o povo ter garantia de que o voto que ele está dando está indo para quem ele colocou lá. Não é regime militar", disse Walace Silvestre.
Os manifestantes da capital paulista, que tinham expectativa de refazer o percurso da primeira edição do evento – da Praça da República até a Praça da Sé – gritaram, por vezes, "fora, Dilma", e entoaram melodias pedindo a prisão da presidenta e a volta dos militares: "Um, dois, três, quatro, 5 mil, queremos os militares protegendo o Brasil", e "um, dois, três, Dilma no xadrez".

Com informações da Agência Brasil