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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O blog, as férias e a volta...

Em férias, porque ninguém é de ferro, estamos programando voltar a partir de 5 de janeiro do novo ano, com mais conteúdo próprio, notinhas e comendas e quinquilharias...




Feliz 2015 para todo mundo!!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O roteiro do golpe tucano

Da "Carta Maior":

O PSDB virou um partido golpista?


por Juarez Guimarães

Arquivo














 

Se a direção histórica e nacional do PSDB se move contra a democracia, que a democracia brasileira se ponha em movimento contra o PSDB.
Juarez Guimarães 
Se for correto o juízo que se expõe e se documenta neste artigo, estamos diante do maior desafio posto à democracia brasileira desde que se completou a transição da ditadura militar através da aprovação da Constituição de 1988. A passagem do PSDB  de um partido que busca a maioria nas urnas para um partido golpista mexe com o centro do sistema partidário brasileiro, pelas forças que representa, organiza e mobiliza. É diverso do impeachment de Collor, que foi desde sempre um outsider do sistema partidário que estruturava a democracia brasileira.
É exatamente pela gravidade deste juízo, que o autor deste artigo adiou por vezes a sua escrita. Mas já não é mais possível evitá-lo, contorná-lo ou mesmo  adiá-lo. Pelo contrário, é preciso que este juízo se torne consciência prática para as forças políticas da democracia brasileira que são capazes, temos a certeza, de evitar o golpe.
É preciso, em primeiro lugar, qualificar o juízo. Embora tenham partilhado atos e manifestações públicas com setores (inclusive do próprio PSDB mas não representativas das posições do partido) que defendem abertamente um golpe militar, as principais lideranças do PSDB já reiteraram seguidas vezes, em tom inequívoco e enfático, que não defendem tal solução. Mas que tenha sido necessário que tenham vindo a público desmentir tal hipótese é um sintoma que denuncia o caminho alternativo  proposto para o golpe.

Este caminho seria o de criar um clima público de afirmação político-midiática da ilegitimidade do segundo governo Dilma, possibilitando uma manobra judicial de contestação da sua legalidade através de setores da Polícia Federal e do Judiciário que são claramente instrumentalizados pela direção nacional do PSDB.

Em segundo lugar, seria necessário afirmar que  esta diretiva golpista que parece  claramente dominante  na direção nacional do PSDB, expressa por sua maior liderança histórica (FHC) e apoiada por suas mais expressivas lideranças nacionais, Aécio e Serra, não parece ainda coesionar a maior liderança pública eleita pelo PSDB em 2014, o governador reeleito de São Paulo, Alckmin. Mas nada impede que ela mesma, no momento oportuno, caminhe na mesma direção.

Em terceiro lugar, este juízo identifica uma vontade estratégica em ação do PSDB que não formou ainda as condições de sua viabilização. Entre esta vontade estratégica  e seu objetivo de desestabilização de um governo democrático  há ainda muitos e profundos obstáculos – de legitimidade pública, de cooptação instrumental, de superação  de hesitações em relação a um pedido de impeachment – a serem cumpridos.  Mas, em um plano estratégico como o que vem sendo claramente construído,  a superação destes obstáculos pode procurar  se acelerar e se concentrar em uma conjuntura artificialmente criada.

A retórica do golpe

 Se Aécio é quem teatraliza a cena do golpe, é preciso entender que a peça vem sendo escrita por Fernando Henrique Cardoso. Até o seu juízo mais agressivo – o de caracterizar o PT como uma organização criminosa – não é propriamente seu, mas de FHC.  Este vem caracterizando desde 2005 o governo nacional do PT como “neo-patrimonialista”, isto é, que faz apropriação ilegal e ilegítima de recursos do Estado brasileiro.  Ou na linguagem criminalística que se tornou jurisprudência no mal  chamado  “ mensalão”, os dirigentes do PT  chefiariam uma “organização criminosa”.  E se Aécio e Serra falam hoje a mesma linguagem política, é porque eles estão sob uma liderança comum.

No princípio de 2005, o cientista político mais longevo e perceptivo dos rumos da democracia brasileira, Wanderley Guilherme dos Santos, anotou em sua análise de conjuntura que FHC  mudara de tom, estava então falando a “linguagem dos jagunços”, que era necessário “sangrar até a morte” o governo Lula. Logo depois, viria a crise do mal chamado “mensalão”. Agora, em plena conjuntura do mal chamado “petrolão”, seria necessário registrar a irrupção da nova retórica golpista.

Esta retórica golpista passa por três movimentos coerentes. O primeiro deles é o de afirmar a ilegitimidade do segundo governo Dilma ,  a sua “quase ilegitimidade”, a sua “discutível legitimidade”. Dilma teria sido eleita por uma reduzida margem de votos, o seu voto vem dos “setores menos dinâmicos do país e que mais dependem do governo”, “metade do país” não votou nela, como escreve FHC em O Estado de S. Paulo, de 7 de dezembro.  Esta mesma retórica, aliás, de um país dividido aparece sintomaticamente  na fala do juiz Moro em seu anúncio dos primeiros resultados da Operação Lava Jato, no dia 14 de novembro:

"As chamadas provenientes de duas das principais autoridades do país, localizadas em campos políticos opostos, confirmam a necessidade de resposta institucional imediata para interromper o ciclo delitivo descoberto pelas investigações criminais tornando inevitável o remédio amargo, isto é, a prisão preventiva”.

Ora, dr. Moro: seria correto dizer, ao invés, que existe uma presidente do país, a maior autoridade, a presidente em exercício e reeleita, e um senador, líder da minoria no Senado e que foi derrotado nas eleições!

O segundo movimento é o de acenar com um cenário provável de ingovernabilidade política, no qual se justificaria o recurso à judicialização, isto é, à resolução da ingovernabilidade por uma decisão técnica do Judiciário. Esta alternativa é três vezes referida no discurso pronunciado por FHC no dia 26 de novembro na Academia Brasileira de Letras: Dilma pode “enfrentar um tremendo problema político” e até a “judicialização de decisões importantes porque não tem condições efetivas de hegemonia no Congresso”; “se a situação social e econômica se agravar, é possível que a saída seja a judicialização das decisões”;  “dada a situação política e o constrangimento para mudar esta situação, não é de estranhar-se que no Brasil a solução para o imbróglio político não venha a partir do sistema político mas do sistema judicial”.  O artigo já citado em O Estado de S. Paulo, do dia 7 de dezembro, conclui-se no mesmo tom: “Tomara não sejam os juízes os únicos a purgar nossos males, como ocorreu na Itália, até porque no exemplo citado o resultado posterior, a eleição de um demagogo como Berlusconi, não foi promissor.”

O terceiro movimento desta retórica golpista  é o de prescrever uma linha agressiva, frontal, no limite sempre da produção da deslegitimação e da ingovernabilidade para a atuação das oposições. No artigo de O Estado de S. Paulo, FHC  chama a oposição às falas; ”O “petrolão” será uma ventania ou um tufão a derrubar as muralhas do governo e da “base aliada”? E a oposição, ela se oporá ou embarcará no tecnicismo e na boa vontade à espera que o “mercado” sobretudo o financeiro, se acalme e tudo volte à moda antiga!” Entenda-se: “ a moda antiga” é a existência de um governo democrático e uma oposição que trabalha para ser vitoriosa em outro turno eleitoral. Aécio entendeu o recado; diz que não está disposto a recuar um milímetro do seu novo personagem selvagem de oposição. E é Serra quem diz, no ato pelo impeachment de Dilma realizado em São Paulo  no dia 6 de dezembro: “Nossa luta será longa, não é coisa de uma semana, de um mês, mas irá adiante...” Isto é, não se trata mais de anos, de  disputar em 2018?

Então, vale tudo: quatro dias após as eleições, o PSDB pediu, através do seu Coordenador Jurídico Nacional, Carlos Sampaio, uma “auditoria especial” do resultado das eleições presidenciais; depois, encaminhou ao STF um pedido de suspensão da tramitação do PLN 36, que alterava legalmente o superávit primário, ao mesmo tempo em que Aécio pronunciava-se publicamente pela impugnação da presidente Dilma por crime de responsabilidade; enquanto isso,  o PSDB promovia atos de violência no Congresso Nacional para impedir a votação da emenda  na qual sabia ser minoritário. No dia 29 de novembro, o PSDB requereu a rejeição das contas da campanha de Dilma, o que poderia levar à cassação da presidente eleita por abuso de poder econômico. O Ministério Público Eleitoral  recomendou, no entanto, a rejeição do requerimento do PSDB.

A estratégia do golpe

“A melhor maneira de acabar com a corrupção no Brasil é tirar o PT do governo”: a fórmula propagandística simples  expressou a principal intervenção de Aécio no último debate televisivo do segundo turno das eleições, na Rede Globo. Ela servia tanto para vencer as eleições ( como esperava a direção nacional do  PSDB) como pode servir  hoje para derrubar um governo democraticamente eleito.

Hoje, não pode haver uma alma tão ingênua no Brasil que possa acreditar ser mera coincidência a deflagração da operação de combate à corrupção na Petrobrás com o calendário eleitoral de 2014, em seus momentos mais decisivos. São tantas as correlações entre esta operação da Polícia Federal e a inteligência estratégica do PSDB que a negação desta hipótese, com o que já se conhece, soaria absurda.

A começar pela estranha leniência ou aprazamento ou adiamento ou prescrição de prazo de imputabilidade para um sem número de escândalos de corrupção, com denúncias fartamente documentadas, que  atingiriam lideranças do PSDB?  Mas, suponhamos por um momento, que foi mera e extraordinária coincidência  que o calendário técnico das investigações de corrupção na Petrobrás pela PF do Paraná  tenha coincidido exatamente com as eleições de 2014.

Como interpretar, então,  a calúnia estampada por Veja  às vésperas do segundo turno, acusando através de um suposto depoimento de Youssef  Dilma e Lula de saberem da corrupção que se praticava na Petrobrás? A antecipação da saída da revista para quinta-feira, com prazo maior para incidir nas tendências de voto, sincronizou-se com o ato público convocado na rede para quarta-feira à noite por FHC e Aécio  para “livrar o Brasil da sujeira da corrupção”.  Já foi documentado que quem espalhou o boato da morte de Youssef foi o líder do PSDB na Assembléia Legislativa do Paraná, assim como o PSDB  fez ampla panfletagem da revista até o dia das eleições, mesmo após a sua condenação pelo TSE.

Logo em seguida tomou-se conhecimento que o coordenador das ações da Polícia Federal na Operação Lava Jato, assim como vários dos agentes de direção envolvidos, não só são apoiadores do PSDB, como  estampavam na internet  termos ofensivos ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma, como apoiavam entusiasmadamente Aécio para presidente. Agora, se sabe também que a mulher do juiz Moro é assessora do vice-governador do Paraná, do PSDB. E que o advogado de Youssef  ocupou também cargo importante no governo do PSDB no estado!

O  que foi um crime eleitoral gravíssimo - o vazamento de informações de depoimentos de autos de delação sob segredo de justiça – passou a ser o cotidiano do processo de investigação. Mas sempre ou quase sempre, seletivamente, atingindo lideranças do PT, como o senador Humberto Costa, a ex-ministra Gleisi Hoffmann e agora o tesoureiro do PT, João Vaccari. E sempre para os mesmos jornais ou revistas que fazem oposição sistemática e difamatória ao governo Dilma.

E, para concluir, por um procedimento extraordinário do presidente do TSE, Tóffoli, o mais tucano dos membros do STF, Gilmar Mendes, é sorteado, por duas vezes, para ser o relator das contas de campanha da presidente Dilma. Na semana que antecede o seu “imparcial” juízo sobre a legalidade destas contas, a mídia tucana converge para a notícia, artificialmente formulada de que a propina de um empresário à Petrobrás teria se dirigido à campanha de Dilma,  através de uma “doação legal de recursos” à tesouraria do PT.

As correlações entre o PSDB e este processo de investigação são tantas e tão fartas e tão documentadas que não é possível evitar o juízo: a “judicialização” da crise de legitimidade do recém eleito governo Dilma, como prescreve FHC,   está em curso por uma escandalosa  instrumentalização partidária dos órgãos que deveriam mais zelar pelos critérios republicanos de Estado.

A estratégia do PSDB certamente aguarda o juízo de Gilmar Mendes sobre as contas da campanha de Dilma ou a divulgação dos nomes dos políticos denunciados como envolvidos na corrupção da Petrobrás para entrar em um tempo de convergência e catalização.

Um PSDB golpista?

A transformação do PSDB de um partido de oposição neoliberal radical em  um partido golpista significa uma mudança de qualidade mais do que um mero aprofundamento de uma dinâmica e só pode ser entendida em uma perspectiva histórica.

De novo, coube a Wanderley Guilherme dos Santos já nos anos noventa flagrar uma tendência programática contra-majoritária do PSDB  em suas propostas de “reforma política”. A derrubada da obrigatoriedade do voto nas eleições, a adoção do distrital ao invés do sistema representativo,  a recusa ao veto ao financiamento empresarial das campanhas eleitorais, a adoção de cláusulas de barreira altas  em nome da governabilidade, a defesa da judicialização da política apontavam para um padrão de democracia tipificada pelo padrão norte-americano. Neste, o princípio da vontade das maiorias  é sucessivamente “quebrado”: votam menos de 50 % para presidente, menos de 40 % para o Congresso Nacional, menos de 30 % para governos estaduais. A eleição dos representantes é distrital, o financiamento empresarial cada vez maior e incontrolado, o pluralismo restrito, a judicialização cada vez maior.

Sem ter força parlamentar para imprimir a direção de uma reforma política nos anos FHC, o PSDB viu-se na oposição nacional desde 2002. Ao que tudo indica, desde a conjuntura de 2005 passou a operar instrumentalmente  com o aparelho judicial e policial do Estado para interferir de forma decisiva na dinâmica da disputa nacional majoritária do voto, sempre com a cobertura política-midiática das principais empresas de comunicação do país.

Ao que tudo indica, esta opção culminou na estratégia  do segundo turno de 2014 que foi, de fato, preparada  claramente desde 2011. Tratava-se, diante da falta de popularidade de um programa claramente neoliberal, de relegitimar a presença do PSDB através do uso concentrado do anti-petismo, formulando o que Aécio chamou já em 2011 de “mutirão das oposições”: um pluralismo alargado de candidatura de oposições no primeiro turno deveria convergir para a candidatura de Aécio em um segundo turno. Esta estratégia, como já se demonstrou, baseava-se numa radicalização e internacionalização do programa neoliberal do PSDB e na criação, através de um esforço midiático ampliado, do  anti-petismo em todas as esferas da vida social, disseminando preconceitos e intolerâncias.

Diante da quarta derrota eleitoral nacional em 2014 e com a dramática diminuição do horizonte das possibilidades de vitória em 2018 – com as possibilidades abertas ao governo Dilma e uma possível candidatura Lula - , o PSDB, então, parece aprofundar qualitativamente agora a sua identidade liberal-conservadora. Já atua em frente com setores que devem ser publicamente nomeados como proto-fascistas ou de ultra-direita, repetindo aqui um fenômeno hoje político-cultural  cosmopolita muito frequente no liberalismo conservador norte-americano e europeu.

Para esta identidade política liberal-conservadora, a judicialização instrumental da democracia é um recurso legítimo. Em junho de  2012, em entrevista em Washington, FHC  julgou legítimo o impeachment do presidente Lugo do Paraguai, ao contrário do juízo das principais lideranças do Mercosul.  O golpe sequer “arranhou a Constituição do país”, segundo ele.  O fato do impeachment  ter se realizado em 30 horas, com apenas 4 horas para a preparação da defesa do mandato do presidente eleito, deveria para FHC ser julgado pela Justiça do Paraguai ( favorável ao golpe).

A democracia contra o PSDB

Se este juízo está correto – o de que a direção histórica e nacional do PSDB está mudando a sua identidade e estratégia, passando de uma “guerra de posição” a uma “guerra de movimento” - , deveriam ser evitados dois erros simétricos.

O primeiro deles seria a estratégia do “esfriamento”, isto é, supor que apenas  um trabalho de mediação e interlocução institucional seja suficiente para retornar à normalidade governo/ oposição. Há uma vontade de desestabilização estratégica em curso que está forçando os seus espaços de legitimação para além da institucionalidade democrática e constitucional  e  que não será paralisada ou isolada  por procedimentos ou acordos.

O segundo erro seria o de adotar uma estratégia de confrontação apenas confinada a uma polaridade  governo/oposição, “pobres” versus “ricos, ou de corte classista, ou que tenda a reproduzir meramente as polaridades ideológicas esquerda/direita. Estas dimensões precisam ser  conduzidas a uma dimensão agora hegemônica. O governo eleito representa as forças da maioria democrática e se pretende tornar-se hegemônico, ser capaz de definir a agenda, produzir governabilidade política e econômica, aprofundar o sentido republicano e democrática da experiência de transformação do país.

Se a direção histórica e nacional do PSDB se move contra a democracia, que a democracia brasileira – com a sua consciência acumulada, suas lideranças e suas bases políticas e sociais -  se ponha em movimento contra o PSDB. Que este partido seja isolado e tenha sua legitimidade  derrotada  ao ponto de perder totalmente a sua capacidade de desestabilização da democracia brasileira.

Isto pode ser construído com dois movimentos simultâneos: um, que retire base de legitimação econômica e política institucional para o movimento de desestabilização do PSDB  através da interlocução e pactação e outro que ponha em movimento público  a base política e social majoritária que reelegeu a presidente Dilma. O que os une é a defesa republicana da democracia brasileira e do programa eleito em 2014. Se o governo Dilma é o principal protagonista do primeiro movimento – que se confunde com a instalação de novas bases de sua governabilidade -, o PT eos movimentos sociais  devem  ser os  principais  protagonistas  do segundo movimento,  que retoma as ruas, as redes e a comunicação pública para a agenda das mudanças vitoriosas em 2014.

Não deixa de ser impressionante que a pesquisa Datafolha, publicada neste 7 de dezembro, traga Dilma com 42 % de aprovação ótimo/bom, 46 % de opinião de que o seu governo é o que mais combate à corrupção ( contra apenas 4 % de FHC) e que, apesar de um mês de um bombardeio diário de notícias negativas e distorcidas, apenas 43 % julguem que a presidenta tenha muita responsabilidade sobre a corrupção na Petrobrás. E que 50 % tenham uma expectativa  de que ela tenha um desempenho “ótimo/bom” antes da posse. Apenas 21 % têm uma expectativa “péssimo/ruim”.

As cerimônias públicas de posse de  Dilma Roussef em seu segundo mandato  deveriam  ser já vistas como a expressão possível e  articulada destes dois movimentos combinados, na institucionalidade, na comunicação pública e na sociedade democrática brasileira. É preciso e é claramente possível construir desde já a saída do cenário da desestabilização potencial e iniciar um novo e promissor ciclo de esperanças políticas na transformação do Brasil.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O Brasil e seu caos...

Do Blog Luís Nassif: 

Entre o caos que não estamos e o real para onde nos levam!


O Brasil está um caos. O sistema de saúde é um descalabro, a Previdência é um assalto continuado contra os velhinhos, a educação foi reduzida a frangalhos, o sistema de transporte não funciona, o Congresso Nacional só tem ladrões, as empresas estatais são um campo de pilantragem, os políticos em geral só sabem roubar. E ninguém faz nada pelo povo que paga religiosamente seus tributos, evitando com profundo senso ético a fraude e a sonegação; assim, a única parte do Governo que funciona é o recolhimento de impostos.
A culpa de tudo isso, naturalmente, é do PT, partido originalmente formado por um bando de sindicalistas do ABC paulista, de religiosos esquerdistas ligados à Igreja Católica e de uns intelectuais arrogantes de São Paulo, os quais tiveram a ousadia de atrair jovens para suas fileiras contornando um sistema partidário tradicionalmente elitista e sério. Eles se apossarem do poder federal. Uma vez instalado na Presidência, a turma petista tratou de aparelhar o Estado para fazer dele um instrumento de enriquecimento ilícito!
Bem, quem me conhece sabe que não estou falando a sério. O que está nos dois parágrafos acima é a demonstração de que a denúncia genérica “de tudo o que está aí” é a mais insidiosa e brutal forma de atacar e denegrir um governo ou uma pessoa. Pela própria generalidade não possibilita a contestação. É o instrumento dos cínicos e dos demagogos, e sobretudo dos idiotas, que na sua ignorância não exigem nem oferecem provas ou fundamentação do que dizem. Mas todos são igualmente perigosos, pois confundem deliberadamente instâncias do poder.
Como se contesta alguém que diz que todo o sistema de  saúde – responsabilidade conjunta dos governos federal, estadual e municipal - é um descalabro? Seria necessário percorrer o Brasil desde o Amapá ao Rio Grande do Sul e não encontrar um único caso de mau atendimento em um único hospital público. Ora, como o país, assim como o sistema de saúde é muito grande há forte possibilidade de se encontrar algum exemplo de mau atendimento. Não precisa de mais que um, porém. Focado pela televisão ele vai aparecer em todos os lares como demonstração inequívoca de que todo o sistema é um caos.
Esperem um momento. O SUS atende anualmente mais de 320 milhões de consultas, e mais de 12 milhões de operações complexas. Suponhamos que 10% resultassem em mal atendimento: seriam 32 milhões de consultas e 1,2 milhão de operações mal atendidas. É muita coisa. Se 10% desses 10% fossem mal atendidos seriam, respectivamente, 3,2 milhões e 120 mil. Esse número, correspondendo a 1% do total de atendimento, se fosse efetivamente de mal atendidos, provocaria uma convulsão social na porta dos hospitais e casas de saúde.
Para os cínicos, tomar exemplos esparsos e generalizar é uma forma eficaz de caluniar, pois não há como contestar a má fé. As últimas estatísticas que vi indicavam que o Sistema Previdenciário pagava 36 milhões de benefícios continuados por mês. Claro, ninguém está satisfeito com o benefício, assim como a grande maioria não estava satisfeita com os salários de atividade. O demagogo se aproveita disso e propõe fórmulas mirabolantes de aumentar o valor das aposentadorias violando regras atuariais básicas do sistema. Não fazem contas.
A manipulação da insatisfação dos aposentados é uma clara manobra no sentido de privatizar a Previdência Social brasileira. É um dos poucos santuários da economia do país ainda preservados da sanha privatista. Isso viola as regras do neoliberalismo. Não importa que a Previdência esteja na raiz de um pacto social que até agora sobreviveu bem a governos e regimes diversos. Para os neoliberais, enfraquecer a Previdência é uma forma de reduzir o tamanho do Estado para em seguida privatizá-la como aconteceu no Chile, e agora na Europa.
O país não está no caos. A economia está na proximidade da estagnação, mas isso se  deve menos a ações do Governo que à inevitabilidade do ciclo econômico. Para o tamanho do país e de sua população, saúde, educação e previdência andam razoavelmente bem. Exceto em grandes metrópoles, o trânsito flui, não obstante a explosão da venda de carros não acompanhada por infraestrutura urbana, atribuição de estados e municípios. Os órgãos de fiscalização e controle do Estado, Polícia Federal e Ministério Público, estão funcionando a contento, apurando crimes e levando à condenação de corruptos.
Ah, sim, temos um partido que nasceu do povo e depois de anos de luta em regime democrático ganhou sucessivamente quatro eleições presidenciais. Talvez tenha sido um excesso em face dos partidos tradicionais. Eu nunca me filiei a ele. Achava-o sectário demais. Curiosamente, é justamente por ter-se tornado parecido com os partidos tradicionais que se arma agora uma grande constelação de forças políticas, midiática e jurídicas contra ele. Difícil é ver o que se seguirá depois. Conforme for o desfecho, poderemos realmente experimentar o caos.

J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional na UEPB.

O erro de Lula...

Em meio a férias e pausa de fim de ano, um texto chamou-me a atenção por sancionar com sua acertada conclusão o maior erro cometido pelo ex-presidente Lula em seu mandato: a indicação de nomes para o Supremo Tribunal Federal. Depois de Joaquim Barbosa, agora aparece a "prima dona" do sr. Dias Tóffoli. E que o demonstra é o sempre insuperável Fernando Brito, do "Tijolaço": 

Tóffoli e o papel do juiz

Autor: Fernando Brito
toffoli

Como o ministro Dias Tóffoli é quase dez anos mais novo que eu e eu o conheci ainda um guri, na campanha de Lula em 1998,  permito-me – sem querer colocá-lo dentro de qualquer teoria conspiratória e golpista – dizer que fiquei extremamente mal impressionado com seu desempenho, ontem, na sessão que votou e aprovou as contas de campanha de Dilma Rousseff.

Começo pelo tom de fúria mal contida com que tratou o agravo da Procuradoria Geral da República – aliás antes retirado – contra a redistribuição do caso a Gilmar Mendes.

Juiz, Dr. Tóffoli, não tem de se alterar quando suas decisões são contestadas nas formas em que o próprio processo judicial prevê. Faz parte do jogo e o senhor, como advogado, várias vezes o fez.

Não tem chilique nem dá “piti”, porque sua autoridade torna estas atitudes, mais do que em qualquer um, intimidatória ou odiosa.

Juiz apenas decide, com fundamentos, quando há o que decidir.

E não havia, dado que o agravo, que é um ato retratável, foi retirado.

Um bom juiz, Dr. Tóffoli, faria até uma homenagem à Procuradoria por tê-lo retirado, certamente por alcançar o entendimento jurídico que o senhor defendeu.

Grosseiro, desnecessário e pior, revelador de uma hostilidade nada disfarçada ao vice-procurador eleitoral, que é, como sabe o senhor, uma extensão no TSE do Procurador Geral da República, Dr. Rodrigo Janot.

Mas fez pior.

Atacou a chefe do Poder Executivo pela “demora” em nomear um novo ministro para a Corte.
Certamente o Dr. Tóffoli deve ter percebido que se estava em meio a um processo eleitoral conturbado, onde a própria legitimidade das indicações para as cortes superiores estava sendo apontada como “contaminada” por um “bolivarianismo”, ao ponto de ressuscitarem a tese da “PEC da Bengala” para impedir a presidenta de exercer a franquia constitucional de indicar ministros.
E que, por isso, Dilma se absteve de faze-lo no período eleitoral.

Neste caso, Dr. Tóffoli, havia outra delicadeza que, certamente, não lhe deve ter escapado. Ao nomear um substituto para o ministro Henrique Neves, cujo mandato se encerrou, Dilma indicaria alguém que, pelo próprio critério regimental, relataria suas próprias contas de campanha, quase que imediatamente.

Que prato, não, Dr. Tóffoli?

A menos que, como até se andou noticiando, isso fosse um lobby pela recondução do próprio ministro Neves, que continuaria relator.

Mas não dá para imaginar que o presidente do TSE estivesse patrocinando uma usurpação de fato do poder de indicar os ministros da Corte, colocando a Presidente na delicada situação de se expor – e expor seu indicado – ou apenas vergar-se a um eventual desejo seu, do Ministro Gilmar Mendes e de quem mais fosse na corte de reconduzir o colega cujo mandato findara.

Perdoe, Ministro, mas é uma mistificação dizer que o TSE estava desfalcado, pois há sete substitutos para cada integrante da Corte e na vacância do titular, este assume, de acordo com sua classe de origem ( STF, STJ ou advogados)

Pior ainda, Dr. Tóffoli, foi o senhor ter assumido o envio de Gilmar Mendes ao Ministro da Justiça para pedir o rápido preenchimento da vaga e, neste caso, como se viu, a única forma de fazê-lo seria a indicação de um único nome, pré-determinado.

Por que, Dr. Tóffoli, se o senhor e o ministro da Justiça são conhecidos de décadas, tratam-se pelo prenome e conviveram tanto?

Certamente não escapa ao senhor que não é assunto para se delegar a ouro ministro, e ainda a outro ministro que não esconde ser figadal inimigo do Governo.

Pior ainda, de novo, justo aquele que, com sua redistribuição, relataria as contas de campanha.

Repare, Dr. Tóffoli, que contraste com o comportamento gentil e respeitoso do advogado da campanha de Dilma, Arnaldo Versiani, que poderia ter invocado sua condição de ex-ministro da Corte e os julgamentos semelhantes dos quais participou. Fez, ao contrário, uma defesa técnica de um tema que é técnico-contábil.

Com temas que não foram sequer considerados no julgamento, exceto pelo
O senhor fez o contrário.

Alem de provocar que não podia responder às suas insinuações – a Presidenta Dilma – procurou agredir e humilhar a procuradoria, que teve de engolir em seco, constrangida, para não revidar e permitir que se fizesse ali um julgamento e não um “barraco” processual.

E abriu o portão para que, em seguida, Gilmar Mendes fizesse, com sua devida vênia, o papel de mastim que sói fazer, sem pudor de atacar a tudo e a todos e ofender o Ministério Público ao chama-lo de advogado da candidata.

De todas as coisas que se poderiam demonstrar, ontem, sobre a magistratura de Dias Tóffoli, apenas uma pareceu demonstrada: a incrível infelicidade de Lula ao indicar ministros do Supremo.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Um editorial oportuno

Do Jornal do Brasil Online: 

País - Opinião

A imunidade (i)limitada



Na madrugada do último domingo, o senador da República Aécio Neves manifestou-se à imprensa como se a tribuna do Senado, onde ele é imune, se estendesse a todo canto, proferindo palavras em desrespeito ao povo brasileiro e aos representantes por ele escolhido após a mais acirrada disputa eleitoral presidencial na curta história da jovem democracia brasileira.
Neves afirmou que teria perdido a eleição para uma organização criminosa, defendendo que a legenda escolhida para novamente governar o país seria integralmente formada por pessoas que se organizaram de forma estável a fim de premeditar e atuar em prol de objetivos contrários aos ditames legais.
Talvez o senador não tenha notado, mas ao afirmar o que disse incluiu o povo brasileiro na condição de partícipe do crime de organização criminosa.  Que se ponham todos na cadeia então! Todos os brasileiros acima de 18 anos, já que a redução da maioridade penal foi descartada pelos brasileiros, que não o elegeram.
A liberdade de manifestação e de opinião são (ainda bem!) direitos fundamentais. Entretanto, como todos os direitos fundamentais (mesmo a vida) este é também relativizado e sopesado por outros direitos, como a dignidade daquele a quem a opinião se dirige.
A fim de ver cumprido o papel fiscalizatório do Poder Legislativo, os seus membros tem a liberdade de manifestação ampliada quando na tribuna ou no exercício das suas funções. Entretanto, o ilustre Senador entendeu que sua manifestação na calada da noite poderia ser abarcada pela mesma excludente.
Mas não pode! E os ofendidos já se armaram. Pedirão explicações judicialmente ao senador Neves por meio de Interpelação Criminal. Resta a dúvida: haverá explicações?
Desta feita, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, protocolou, no início da tarde desta quarta-feira, interpelação criminal contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Supremo Tribunal Federal (STF), candidato derrotado nas eleições presidenciais de outubro.
O pedido de explicação em evidência, interpelação Criminal, é admissível em qualquer das modalidades de crimes contra a honra, constitui típica providência de ordem cautelar destinada a aparelhar ação penal principal tendente a sentença condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício eventual de ação penal condenatória.
A interpelação judicial, sempre facultativa (RT 602/368 – RT 627/365 – RT 752/611 – RTJ 142/816), acha-se instrumentalmente vinculada à necessidade de esclarecer situações, frases ou expressões, escritas ou verbais, caracterizadas por sua dubiedade, equivocidade ou ambiguidade.
O pedido de explicações em juízo submete-se à mesma ordem ritual que é peculiar ao procedimento das notificações avulsas (CPC, art. 867 c/c o art. 3º do CPP). Isso significa, portanto, que não caberá, ao Supremo Tribunal Federal, em sede de interpelação penal, avaliar o conteúdo das explicações dadas pela parte requerida nem examinar a legitimidade jurídica de sua eventual recusa em prestá-las, pois tal matéria compreende-se na esfera do processo penal de conhecimento a ser ulteriormente instaurado. Doutrina. Precedentes.[1]
Ademais, a Constituição Pátria, assim trata o direito à honra, estabelecendo em seu artigo 5°, X, in verbis:
Art. 5°.(...) X — São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente sua violação.
A proteção à inviolabilidade da honra e da imagem da pessoa depende, em determinadas hipóteses, da verificação de ocorrência efetiva da agressão e dimensão que esta possa ter e para tal finalidade se impõe ao Senador da República a interpelação criminal.
Noutra banda, para os defensores do direito de expressão do parlamentar Aécio Neves conforme já pontuado, há de relembrar que esse direito constitucional deve ser exercido nos limites da legalidade, respeitando direitos individuais e coletivos, asseverando-se ainda que a imunidade parlamentar é limitada e deve ser repudiada por todos os cidadãos quando exercitada de forma ilegal, posto que colocaria em risco o Estado Democrático de direito.
Dessa forma, a fim de que se dê ampla proteção a tais bens jurídicos, é imperioso que se esclareça se o Interpelado irá se responsabilizar pelo o que declarou contra o governo reeleito e também contra os seus eleitores, que, a modo grosso, estão sendo diuturnamente atacados e marginalizados pela a oposição raivosa, que esquece que a maioria da nação foi às urnas e reelegeu, legitimamente, seus representantes políticos por meio do Sufrágio Universal, que tem soberania absoluta.

[1] http://www.conteudojuridico.com.br/jurisprudencia,stf-penal-interpelacao-judicial-procedimento-de-natureza-cautelar-explicacoes-em-juizo-cp-art-144-natureza-e-f,34251.html

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O mais novo golpe do Aécim

Do Paulo Moreira Leite no "Brasil 247":


Como nos golpes de Estado

congresso13

Oposição mobiliza arruaceiros para impedir Congresso de exercer sua soberania para debater e votar proposta de Dilma sobre orçamento

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Sem votos para impedir uma provável vitória do governo na proposta de eliminar o superávit primário nas contas de 2014, a oposição produziu ontem uma cena preocupante do ponto de vista da democracia.
Mobilizando arruaceiros profissionais e voluntários da baderna, engajados numa dessas ONGs cujo nome  parece inspirado em entidades de exilados cubanos da Flórida, parlamentares oposicionistas criaram  um ambiente de violência e tumulto nas galerias do Congresso. No final de uma jornada de tensão, conflito e violência, conseguiram  impedir que a maioria dos  parlamentares presentes cumprissem seu dever constitucional mais elementar: votar, soberanamente, com os votos recebidos do eleitorado, na proposta que julgassem melhor.
Os brasileiros não têm boa memória daqueles momentos em que deputados e senadores foram impedidos cumprir suas obrigações. Na maioria das vezes, foram cenas que antecederam golpes de Estado.
A diferença é que isso costumava ocorrer com a presença intimidadora de soldados pelo Congresso e arredores, numa paisagem ilustrada por tanques e baionetas. Ontem, a coreografia era outra. Lembrava os clássicos assaltos ao poder, de origem fascista, com vocação para atacar instituições democráticas.
O ataque partiu de civis, “presumivelmente assalariados”, nas palavras de Renan Calheiros, presidente do Senado. Conforme Renan, um grupo de 26 pessoas “instrumentalizadas, provocando o Congresso,” impediu os deputados de tomar uma decisão que, conforme cálculo da quase unanimidade dos observadores, seria favorável ao governo.
A baderna foi organizada como um espetáculo de circo amador. Como se o fim do superávit primário fosse um tema tão popular como a taxa de juros e o aumento da gasolina, cidadãos instalados nas galerias montaram um coro de palavrões, vaias e xingamentos destinado a inviabilizar um debate real entre parlamentares.
Quando Renan determinou que as galerias fossem esvaziadas — medida banal em qualquer Congresso do planeta — os cidadãos que logo seriam promovidos a “representantes da sociedade civil” pelos analistas meios de comunicação resolveram ficar onde se encontravam.
No mesmo instante, quinze parlamentares da oposição correram em seu socorro, formando uma espécie de piquete para impedir que fossem removidos pela polícia legislativa. Equipados para poses fotográficas, logo surgiram cidadãos com mordaças vermelhas com a sigla do PT.  Tudo ensaiado e dramatizado.
Presente a casa poucos dias depois de ter afirmado que perdeu a eleição para uma “organização criminosa”, Aécio Neves saiu em defesa da baderna. Disse, conforme relato da Folha de S. Paulo: “A população brasileira acordou. As pessoas estão participando do que está acontecendo no Brasil. E algumas querem vir [ao Congresso]. Nós vamos fechar as galerias?”
Com essa postura, o candidato presidencial do PSDB dá um novo passo para se afastar das instituições democráticas. O primeiro foi a tentativa de criminalizar — diretamente — a vitória de Dilma em 26 de outubro. O segundo foi brindar uma iniciativa que em nada contribui para um debate civilizado sobre as necessidades.
“Eu não estou reconhecendo o Aécio,” disse o governador do Ceará, Cid Gomes, em entrevista ao Espaço Público, ontem, na TV Brasil.
Vários personagens e várias cenas se tornaram irreconhecíveis nos últimos dias.
Da mesma forma que o governo tem o direito de tentar suprimir o superávit primário, a oposição tem o direito de tentar o contrário. Faz parte da democracia. Cenas semelhantes ocorrem periodicamente nos Estados Unidos, sempre que a Casa Branca ameaça ultrapassar seu limite de endividamento.
Não faz parte da democracia, porém, tentar impedir o Congresso de funcionar. Quem age dessa forma pratica o mandamento número 1 de toda intervenção antidemocrática, que consiste em respeitar as regras e leis de um país  apenas quando lhe convém. Isso só interessa a quem planeja impedir o funcionamento do regime democrático.
Este é o aspecto preocupante da baderna de ontem.