O Momento Brizola de Dilma Rousseff
Uma mulher que teve a coragem de enfrentar os verdugos da ditadura, 4 décadas depois, enfrenta com o mesmo brio os interesses inconfessáveis dos Civitas.
André Kaysel
O ano era 1982. Leonel Brizola, veterano trabalhista, após 18 anos de exílio e proscrição lançava-se ao governo do Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do país. Seu adversário mais importante, Miro Teixeira, então candidato da máquina chaguista, a qual representava o MDB acomodado com a ditadura. Miro era favorito, mas a campanha de Brizola ganhou força e, em um dado momento ficou claro que o velho líder gaúcho poderia levar. Então, a Rede Globo, que engordara à sombra do regime militar, preparou em conluio com a Pró-Consulte – firma contratada para realizar uma apuração eletrônica – uma fraude para tirar a vitória das mãos de Brizola. Só se esqueceram da pergunta de Mané Garrincha: “o Sr. se lembrou de combinar com os russos?”.
Brizola, percebendo a trama, foi à televisão e denunciou o esquema da Globo. Destruída a farsa, os verdadeiros resultados foram proclamados e o trabalhista sagrou-se governador. Para desespero da direita, claro.
2014: a dois dias das eleições, com a candidata oficial a um passo da vitória, a revista Veja, que Brizola um dia qualificou como “agentes da CIA”, lança uma capa sensacionalista, afirmando que a presidenta, juntamente com o ex-presidente Lula, teriam pleno conhecimento dos casos de corrupção na Petrobrás. Mais uma vez, esqueceram-se da sabedoria do “anjo das pernas tortas”. Dilma foi ao ar e acusou a ação criminosa da publicação do Sr. Civita. Mais do que isso, declarou que irá a justiça contra o semanário por sua calúnia. Mais uma vez, vivemos um “momento Brizola”.
Talvez
não por acaso Dilma seja uma petista relativamente neófita, oriunda das
hostes do PDT, agremiação fundada por Brizola após seu retorno do
exílio. Mesmo em seus momentos mais radicais, o PT nunca enfrentou os
monopólios midiáticos da mesma maneira que fazia o líder gaúcho. O custo
disso pode ser plenamente avaliado nas eleições de 1989, nas quais Lula
e o PT tiveram sua vitória frustrada pelas artimanhas da Globo.
Agora, 25 anos mais tarde, quando termina uma eleição cuja polarização e acirramento só se comparam aos do pleito daquele ano, Dilma encarnou a herança brizolista. Como bem declarou essa semana o jornalista Rodrigo Vianna, Dilma traz ao PT uma “pitada de varguismo e de brizolismo”, revelando uma compreensão da questão nacional que o PT nunca teve plenamente. Agora, que a “gerente” se metamorfoseou em liderança política de primeiro calibre, podemos estar assistindo à síntese de duas vertentes da esquerda brasileira, até hoje divorciadas: a nacionalista popular, do trabalhismo, e a socialista democrática, representada pelo petismo.
É verdade que, ao longo dos mandatos de Lula e Dilma essa aproximação vinha se ensaiando, como alguns observadores – caso do cientista político André Singer – já notaram. Porém, fora do âmbito da política externa, essa convergência só se esboçou, não chegando a se configurar. Agora, às vésperas da votação, o discurso de Dilma dá mais um passo nessa direção. Não sei se essa síntese de fato ocorrerá em seu provável segundo mandato, mas o episódio de hoje demonstra que ela é possível e necessária, caso o PT não queira ser engolido pela direita golpista e reacionária. Há muito em jogo nessas eleições, dentro e fora do país, e uma coalizão de interesses internos e externos, abrigada na candidatura de Aécio Neves, tem demonstrado até a onde vai sua disposição de derrotar a candidatura popular. Nesse quadro, uma liderança firme e com claro discernimento do interesse nacional é algo crucial.
Nos últimos dias, tanto Lula, como Dilma, vinham subindo o tom contra a grande imprensa. O discurso de Dilma contra a Veja é a culminação disso. Brizola tinha a vocação da política. Lula, ainda que de modo muito distinto, também a tem e Dilma deixou claro possuí-la. O sociólogo Max Weber uma vez declarou que era comovente ver um homem, jovem ou maduro, apresentar-se e dizer: “eis-me aqui”. Esse teria a vocação da política. No caso do Brasil de hoje, tratou-se de uma mulher. Uma mulher que teve a coragem de enfrentar os verdugos da ditadura e, quatro décadas depois, enfrenta com o mesmo brio os interesses inconfessáveis dos Civitas.
O Brasil pode se orgulhar da líder que tem. Vargas, Jango e Brizola sorriem no túmulo. Já os vendilhões da pátria, acostumados a falar grosso e a ouvir sussurros como resposta, esses podem tremer.
Agora, 25 anos mais tarde, quando termina uma eleição cuja polarização e acirramento só se comparam aos do pleito daquele ano, Dilma encarnou a herança brizolista. Como bem declarou essa semana o jornalista Rodrigo Vianna, Dilma traz ao PT uma “pitada de varguismo e de brizolismo”, revelando uma compreensão da questão nacional que o PT nunca teve plenamente. Agora, que a “gerente” se metamorfoseou em liderança política de primeiro calibre, podemos estar assistindo à síntese de duas vertentes da esquerda brasileira, até hoje divorciadas: a nacionalista popular, do trabalhismo, e a socialista democrática, representada pelo petismo.
É verdade que, ao longo dos mandatos de Lula e Dilma essa aproximação vinha se ensaiando, como alguns observadores – caso do cientista político André Singer – já notaram. Porém, fora do âmbito da política externa, essa convergência só se esboçou, não chegando a se configurar. Agora, às vésperas da votação, o discurso de Dilma dá mais um passo nessa direção. Não sei se essa síntese de fato ocorrerá em seu provável segundo mandato, mas o episódio de hoje demonstra que ela é possível e necessária, caso o PT não queira ser engolido pela direita golpista e reacionária. Há muito em jogo nessas eleições, dentro e fora do país, e uma coalizão de interesses internos e externos, abrigada na candidatura de Aécio Neves, tem demonstrado até a onde vai sua disposição de derrotar a candidatura popular. Nesse quadro, uma liderança firme e com claro discernimento do interesse nacional é algo crucial.
Nos últimos dias, tanto Lula, como Dilma, vinham subindo o tom contra a grande imprensa. O discurso de Dilma contra a Veja é a culminação disso. Brizola tinha a vocação da política. Lula, ainda que de modo muito distinto, também a tem e Dilma deixou claro possuí-la. O sociólogo Max Weber uma vez declarou que era comovente ver um homem, jovem ou maduro, apresentar-se e dizer: “eis-me aqui”. Esse teria a vocação da política. No caso do Brasil de hoje, tratou-se de uma mulher. Uma mulher que teve a coragem de enfrentar os verdugos da ditadura e, quatro décadas depois, enfrenta com o mesmo brio os interesses inconfessáveis dos Civitas.
O Brasil pode se orgulhar da líder que tem. Vargas, Jango e Brizola sorriem no túmulo. Já os vendilhões da pátria, acostumados a falar grosso e a ouvir sussurros como resposta, esses podem tremer.
Viva a presidenta Dilma! Viva o povo brasileiro!
Viva o Brasil!