Do Portal da Agência Carta Maior:
Armínio planejou ataques especulativos para Soros
A moeda tailandesa, o Baht, foi a primeira a ruir na Crise
Asiática 1997, que deixou milhares de cidadãos desempregados, arruinou
empresas e vários países.
Pedro Paulo Zahluth Bastos
O livro More Money Than God: Hedge Funds and the Making of a New Elite
(Bloomsbury), publicado pelo jornalista inglês Sebastian Mallaby em
2010, traz uma revelação explosiva sobre a atuação de Armínio Fraga como
gestor do Fundo Soros para mercados emergentes. Armínio teria obtido
informações privilegiadas que o levaram a planejar e executar o ataque
especulativo contra a Tailândia, que gerou lucros estimados hoje em R$
2.500.000 bilhões de reais para George Soros e ele mesmo.A moeda
tailandesa, o Baht, foi a primeira a ruir na Crise Asiática 1997, que
deixou milhares de cidadãos desempregados, arruinou empresas e as
finanças públicas de diversos países pobres e detonou a reversão do
ciclo de expansão de liquidez para os chamados “mercados emergentes”, o
que levaria à crise do Real no Brasil em 1999.O livro tem como
fonte uma série de documentos privados dos investidores e um conjunto de
entrevistas gravadas com os operadores dos hedge funds, as empresas de
gestão de recursos que realizam operações especulativas, a descoberto,
com alto grau de alavancagem financeira.Embora Armínio e outros
operadores do Fundo Soros tenham sido entrevistados (um deles entregou
notas diárias tomadas durante a crise), seria de se imaginar que as
informações fossem questionadas pelos especuladores depois da
publicação, considerando-se o conteúdo político sensível de algumas
delas. Pelo contrário, Armínio conferiu entrevista ao jornal Valor Econômico em 24 de maio de 2013 em que o livro é citado sem reparos, embora sem sua parte mais explosiva. Formação ou informação privilegiada? A
especulação bem sucedida contra a Tailândia tem o misto de formação
privilegiada e informação privilegiada, obtida antes dos demais agentes
de mercado com autoridade política ingênua do Banco Central da
Tailândia. Quando a vulnerabilidade externa de um país coincide com a
fragilidade financeira de seu sistema bancário, o banco central enfrenta
um dilema: elevar taxa de juros para contornar o desequilíbrio cambial
ou reduzir a taxa para limitar a inadimplência de empréstimos que pode
agravar a situação dos bancos.Esse dilema não é nada novo, tendo
caracterizado crises cambiais e financeiras desde o padrão ouro-libra,
mas Armínio se disse alertado para o problema asiático por uma palestra
de Stanley Fischer (FMI) e pela leitura de artigo científico sobre as relações entre crise cambial e bancária.A
informação privilegiada que induziu o ataque especulativo foi obtida,
porém, em entrevista de Armínio e outros dois economistas do Fundo Soros
com alta autoridade do Banco Central Tailandês, que foi questionado por
Armínio sobre a prioridade a ser conferida pelo banco: elevar taxa de
juros para defender a moeda de um ataque especulativo ou reduzi-la para
evitar o agravamento da situação dos bancos?Segundo Mallaby (que
entrevistou Armínio sobre a conversa), Armínio invocou sua própria
experiência como diretor do Banco Central do Brasil (1991-1993) e
pareceu, ao funcionário tailandês, “mais como um parceiro benigno de um
mercado emergente do que como um ameaçador predador de Wall Street”.O
funcionário ingênuo respondeu que a prioridade de defender a moeda
tailandesa com a mais elevada taxa de juros que fosse necessária poderia
estar mudando, em vista da taxa de juros mais baixa requerida em vista
dos problemas crescentes dos bancos. Fraga e seus colegas teriam
visualizado uma maleta cheia de dinheiro caso especulassem com a moeda
tailandesa, mas fingido não notar para não alertar o funcionário do
Banco Central da Tailândia a propósito de sua ingenuidade. Se notasse,
ele poderia elevar a taxa de juros para encarecer a especulação cambial
ou mesmo recorrer a bloqueios administrativos contra especuladores
estrangeiros.Voltando a Nova Iorque, Armínio Fraga discutiu com o
Fundo Soros sobre planejamento do ataque especulativo contra a moeda
tailandesa. Um dos economistas que esteve na reunião com a autoridade
inocente do Banco Central da Tailândia, Rodney Jones, questionou os
outros dois sobre a moralidade de especular contra países em
desenvolvimento: “se as moedas forem desvalorizadas sem controle,
milhões de inocentes serão levados à pobreza desesperadora”. Mallaby
parece sugerir que Armínio Fraga e os outros não consideraram o
argumento suficiente para abortar o ataque especulativo que rendeu 750
milhões de dólares.Em qual Armínio Fraga confiar?Desde
a década de 1990, a porta giratória entre o mercado financeiro e o
sistema político vem sendo usada por um grande número de economistas
que, em um momento, especula contra a moeda e o sistema financeiro de
diferentes países, para em seguida serem nomeados como restauradores da
confiança e credibilidade de algum dos países perante aqueles que podem
ganhar com crises cambiais e financeiras.Armínio Fraga usou a
porta giratória em 1999, saindo do Fundo Soros para tornar-se presidente
do Banco Central do Brasil. Ou seja, a autoridade responsável por
defender a moeda e o sistema financeiro brasileiro, depois de ter sido
decisivo para o ataque especulativo que iniciou a sucessão de crises
cambiais que chegou ao Brasil e derrubou o Real em 1999.No
cargo, Armínio Fraga não hesitou em elevar a taxa de juros ao nível de
45% a.a., embora isso prejudicasse “milhões de inocentes levados à
pobreza desesperadora” pela crise cambial. É provável que o remédio
amargo tenha sido exagerado, mas inegavelmente ajudou a criar a
credibilidade de Armínio Fraga perante o mercado financeiro.Aécio
Neves já deu a entender ter escolhido seu Ministro da Fazenda e disse
que Armínio inspira confiança e credibilidade. Para quem?Uma vez
Armínio Fraga é novamente cotado para atravessar a porta giratória, é
legítimo que perguntemos em que Armínio Fraga devemos confiar: naquele
que tem conexões políticas e formação privilegiada? Ou naquele que
especula com base em informações privilegiadas obtidas de autoridades
políticas ingênuas, ainda que um economista de sua empresa o alerte
sobre os “milhões de inocentes (que) serão levados à pobreza
desesperadora”? Na “autoridade benigna de um mercado emergente” ou no
“ameaçador predador de Wall Street”?