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sábado, 11 de outubro de 2014

A terceirização do Brasil...

Do Luís Nassif Online...

Armínio e a terceirização da economia por Aécio


Um candidato a Presidente que nomeia antecipadamente seu ministro da Fazenda está sinalizando para a sociedade que vai delegar a um tecnocrata não eleito decisões vitais para a coletividade e para o país. “Olha, gente -  parece estar dizendo -, não entendo muito de economia mas tenho aqui um craque na coisa que vai tomar as decisões por mim. Fiquem tranquilos, portanto, minha ignorância na matéria não vai prejudicar ninguém.”

Se alguém duvida que esta é a motivação de Aécio Neves para pré-nomear Armínio Fraga como seu ministro da Fazenda, consulte qualquer pessoa ligeiramente informada sobre o que aconteceu com ele no governo de Minas. Enquanto ele se entregava a farras homéricas na Zona Sul do Rio, Anastasia, agora senador, governava de fato. Parece até que governou bem, pois foi eleito governador e agora senador. Mas Aécio perdeu a eleição em seu Estado.

Ser governado por Arminio Fraga, cujo principal currículo é ser um especialista em especulação financeira, é muito mais grave que ser governado por Anastasia. Decididamente não estava nos meus prognósticos nessa altura da vida. O Brasil tem o desafio de encontrar um ponto de apoio na economia real para literalmente inventar um novo ciclo de expansão da economia, sem o qual seguiremos a estagnação europeia e americana. O que de menos precisamos é um especulador no comando.

Se acham que estou exagerando, busquem na internet a entrevista conjunta de Armínio e do ministro Guido Mantega na Globonews. Naquilo que parecia ser um arranjo para colocar Mantega na parede, tendo em vista a presença de Miriam Leitão como mediadora, tornou-se um verdadeiro massacre do pseudo-futuro ministro de Aécio pelo ministro de Dilma. Foi um banho, e a exibição crua do despreparo de Armínio em termos de economia.

Diga-se que tenho grandes restrições à política macroeconômica de Mantega. Quando soube que o debate iria ocorrer, protestei contra a irresponsabilidade da campanha de Dilma ao expor o ministro em exercício como vidraça de um interlocutor supostamente superior e que não tinha nada a perder, e tudo a prometer. Errei. A coisa toda funcionou ao contrário do arranjo. Armínio tem uma grande virtude, a sinceridade. Não é uma virtude política. É uma virtude humana. Graças a ela sabemos do que ele está pensando. E o que está pensando é um desastre. 

Ele recorre a jargões eleitoreiros recorrentes, como reformas microeconômicas, reforma tributária, transparência, ou outros mantras da terminologia ideológica neoliberal, para esconder o propósito fundamental de submeter a economia brasileira ao rito da arquitetura financeira criminosa que levou à crise de 2008, e ainda perdura, sabendo-se que sua especialidade é justamente nos aproximar cada vez mais da globalização financeira, que na Europa e mesmo nos Estados Unidos está liquidando a economia e a sociedade. 

Armínio, no debate, cometeu a insensatez de dizer que a economia europeia está se recuperando, enquanto a do Brasil cai. Não sei de onde ele tirou os dados. A economia da zona do euro terá crescimento zero este ano, se não for menor. A americana está tremulando. O Japão continua em crise de crescimento. Em uma palavra, os países industrializados avançados estão estagnados ou em baixíssimo crescimento. 

Nós fomos arrastados para baixo, conforme Mantega argumentou. Para sair dessa encrenca não serve um especulador. É preciso ter um Presidente da República com visão estratégica para forjar um novo ciclo produtivo. Certamente que um guarda-livros da especulação não serve para isso.

*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.