Armínio e a terceirização da economia por Aécio
José Carlos de Assis
Um candidato a Presidente que nomeia antecipadamente seu ministro da
Fazenda está sinalizando para a sociedade que vai delegar a um
tecnocrata não eleito decisões vitais para a coletividade e para o país.
“Olha, gente - parece estar dizendo -, não entendo muito de economia
mas tenho aqui um craque na coisa que vai tomar as decisões por mim.
Fiquem tranquilos, portanto, minha ignorância na matéria não vai
prejudicar ninguém.”
Se alguém duvida que esta é a motivação de Aécio Neves para
pré-nomear Armínio Fraga como seu ministro da Fazenda, consulte qualquer
pessoa ligeiramente informada sobre o que aconteceu com ele no governo
de Minas. Enquanto ele se entregava a farras homéricas na Zona Sul do
Rio, Anastasia, agora senador, governava de fato. Parece até que
governou bem, pois foi eleito governador e agora senador. Mas Aécio
perdeu a eleição em seu Estado.
Ser governado por Arminio Fraga, cujo principal currículo é ser um
especialista em especulação financeira, é muito mais grave que ser
governado por Anastasia. Decididamente não estava nos meus prognósticos
nessa altura da vida. O Brasil tem o desafio de encontrar um ponto de
apoio na economia real para literalmente inventar um novo ciclo de
expansão da economia, sem o qual seguiremos a estagnação europeia e
americana. O que de menos precisamos é um especulador no comando.
Se acham que estou exagerando, busquem na internet a entrevista
conjunta de Armínio e do ministro Guido Mantega na Globonews. Naquilo
que parecia ser um arranjo para colocar Mantega na parede, tendo em
vista a presença de Miriam Leitão como mediadora, tornou-se um
verdadeiro massacre do pseudo-futuro ministro de Aécio pelo ministro de
Dilma. Foi um banho, e a exibição crua do despreparo de Armínio em
termos de economia.
Diga-se que tenho grandes restrições à política macroeconômica de
Mantega. Quando soube que o debate iria ocorrer, protestei contra a
irresponsabilidade da campanha de Dilma ao expor o ministro em exercício
como vidraça de um interlocutor supostamente superior e que não tinha
nada a perder, e tudo a prometer. Errei. A coisa toda funcionou ao
contrário do arranjo. Armínio tem uma grande virtude, a sinceridade. Não
é uma virtude política. É uma virtude humana. Graças a ela sabemos do
que ele está pensando. E o que está pensando é um desastre.
Ele recorre a jargões eleitoreiros recorrentes, como reformas
microeconômicas, reforma tributária, transparência, ou outros mantras da
terminologia ideológica neoliberal, para esconder o propósito
fundamental de submeter a economia brasileira ao rito da arquitetura
financeira criminosa que levou à crise de 2008, e ainda perdura,
sabendo-se que sua especialidade é justamente nos aproximar cada vez
mais da globalização financeira, que na Europa e mesmo nos Estados
Unidos está liquidando a economia e a sociedade.
Armínio, no debate, cometeu a insensatez de dizer que a economia
europeia está se recuperando, enquanto a do Brasil cai. Não sei de onde
ele tirou os dados. A economia da zona do euro terá crescimento zero
este ano, se não for menor. A americana está tremulando. O Japão
continua em crise de crescimento. Em uma palavra, os países
industrializados avançados estão estagnados ou em baixíssimo
crescimento.
Nós fomos arrastados para baixo, conforme Mantega
argumentou. Para sair dessa encrenca não serve um especulador. É preciso
ter um Presidente da República com visão estratégica para forjar um
novo ciclo produtivo. Certamente que um guarda-livros da especulação não
serve para isso.
*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.