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terça-feira, 17 de junho de 2014

Lembrando Ibrahim...

Um nome que se destacou na história do jornalismo brasileiro, por sua coluna social, foi de Ibrahim Sued em que pese o elitismo de suas colunas e a fixação com a elite. Mas, o jornalista cunhou uma expressão que me veio à mente ao ler o texto do Paulo Zero que Paulo Moreira Leite publicou em seu Blog na IstoÉ e que retrata bem estes tumultuados dias de xingamento e ódio: 


 

CANINOS BRANCOS

Ofensas inaceitáveis a Dilma confirmam natureza predadora da "elite branca" que sempre governou o país


Marcelo Zero

Ao contrário de muitos, não me surpreendi com o comportamento selvagem da nossa elite branca no Itaquerão.

Os irreproduzíveis xingamentos da turma vip à presidenta da república em evento transmitido para o mundo todo envergonhariam qualquer pessoa minimamente civilizada de outro país.

Mesmo o raivoso pessoal do Tea Party se acanharia em fazer isso com o presidente Obama em evento público, ainda mais se transmitido para outros países. Lá, e em outros países, há limites políticos e éticos para o que se pode fazer. O presidente é a encarnação da soberania do país. O presidente não pode ser humilhado às vistas do mundo, sob pena de se humilhar o país.

Mas aqui a elite branca não tem limites. Nunca teve.

Ela se julga proprietária do país. Eles se consideram os donos do Brasil e do poder. Eles são a Casa Grande. O resto, o grande resto, é a Senzala.

Por certo, a elite branca que lá estava se julgava proprietária do estádio cuja construção tanto criticou, assim como se julga também dona da Copa que tanto a envergonha.

Ela se julga proprietária do Estado. Para ela, o cargo de presidente da república lhe pertence por direito divino. Lula e Dilma são meros usurpadores, serviçais rebeldes que têm de ser colocados em seu lugar. De preferência, com rugidos e demonstrações de força.

Pois a elite branca é predadora.

Está historicamente acostumada a predar o país, suas riquezas e seu meio ambiente. Está também historicamente acostumada a predar o povo, a explorá-lo sem piedade e sem vergonha.

A violência sempre foi a sua marca. Colocava os escravos no tronco. Torturava, aprisionava e esquartejava os rebeldes. Apoiava e financiava os torturadores que massacraram Dilma e tantos outros. E, sobretudo, mantinha a maior parte da população naquilo que Gandhi denominava de “a pior forma de violência”, a miséria.

Tudo isso sem nenhum pudor. Sem nenhuma educação.

A elite branca não tem vergonha de sua violência, da sua predação selvagem. A elite branca não tem vergonha da desigualdade que produziu ao longo de 500 anos. A elite branca não sente remorso nenhum do sofrimento e das injustiças que causou.


Acima de tudo, a elite branca sente imensa raiva de um Brasil que ela não mais consegue controlar e predar como sempre fez. Ela sente a frustração de ver que a presa está escapando das suas garras. A Casa Grande se assusta com a ascensão da Senzala. Alarma-se com a perda de antigos privilégios.

Só se sente à vontade nos seus espaços privados, nos seus mundinhos exclusivos e cercados. A Casa Grande se aperta nos pequenos espaços que lhe restaram, cercada pela ascendente Senzala com a qual tem pavor de se misturar.

De lá, saudosa dos velhos tempos, destila o seu ódio e seu ressentimento contra um novo país que não mais lhe pertence. Que lhe nega até o voto.

Quando pode, no meio de seus espaços exclusivos e “diferenciados”, e blindada pela velha impunidade construída desde os tempos das capitanias hereditárias, volta a mostrar as suas garras de predadora renitente e impenitente.

No Itaquerão, a elite branca fez o que sempre fez. Mostrou, com muito ódio e sem nenhuma educação, os caninos brancos com os quais sempre mordeu o Brasil e seu povo.

Azar dela. Vergonha dela. Não assusta mais. O Brasil já se vacinou muito contra esse ódio estéril e decadente.
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Marcelo Zero é formado em Ciências Sociais pela UnB e assessor parlamentar do Partido dos Trabalhadores