Rogério Correia: “Aécio fez com jornalista do Rio o que sempre faz em Minas. Censura, cala e até prende quem denuncia o que ele faz de errado”
Rogério Correia: “Como Aécio comete ilegalidades na vida
pública e apronta muito na vida privada, ele precisa de blindagem
absoluta na mídia”
por Conceição Lemes
Nessa semana, a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro, a
jornalista Rebeca Mafra, do Canal Brasil, teve a casa invadida por
policiais e apreendidos um computador, dois HDs externos, pen drives, um
iphone sem uso, chips de computador, CDs de fotos e um roteador.
A acusação é de que ela e outras quatro pessoas fariam parte de uma
espécie de “quadrilha virtual” organizada para difamar nas redes sociais
o senador e candidato do PSDB à Presidência da República Aécio Neves.
Em entrevista à TVT, Rebeca confirma que a denúncia partiu do senador tucano.
“Uma denuncia feita pela assessoria de imprensa dele, diretamente
ligada à candidatura”, frisa. “Pelo que eu soube, foram 17 buscas e
apreensões no Rio. No mandado que tinha o meu nome eram mais quatro
pessoas.”
Nenhuma novidade para jornalistas e políticos mineiros. Não à toa
deputados estaduais criaram o bloco parlamentar de oposição Minas Sem
Censura (MSC), integrado por PT, PMDB e PRB.
“Aécio não tem limites, é um perigo à democracia. Em Minas, não há
democracia. O que existe é um poder de exceção feito a partir do
dinheiro e do poder”, denuncia Rogério Correia, deputado estadual
Rogério Correia (PT-MG) e vice-líder do MSM. “O que acontece hoje em
Minas é uma amostra do que Aécio fará no restante do Brasil, se eleito. O
caso da jornalista do Rio de Janeiro é a prova.”
“Como Aécio comete ilegalidades na vida pública e apronta muito na
vida privada, ele precisa de blindagem absoluta na mídia”, prossegue.
“Tem que frear tudo que contraria seus interesses.”
“Aécio fez com jornalista do Rio o que sempre faz em Minas. Censura,
cala e até prende quem denuncia o que ele faz de errado”, alerta Rogério
Correia.
“Um dos objetivos centrais de Aécio, caso eleito, será limitar o
acesso à informação. Tanto que não ele queria a aprovação do marco civil
da internet”, previne o deputado.
Rogério Correia fala de cadeira. Em 2010, o então governador Aécio
Neves tentou cassar o seu mandato e o do deputado estadual Sávio Souza
Cruz (PMDB-MG).
Segue a íntegra da nossa entrevista com um dos mais combativos deputados estaduais de Minas.
Viomundo – Surpreende-o o fato de Aécio Neves ter denunciado
ao MP do Rio a jornalista Rebeca Mafra e outras quatro pessoas por
difamação, embora ela nunca tenha falado dele na internet nem conheça os demais integrantes da “quadrilha virtual”?
Rogério Correia — Nenhum pouco. Aécio fez com
jornalista do Rio o que sempre faz em Minas. Censura, cala e até prende
quem denuncia o que ele faz de errado.
O senador não tem limite. Ele é completamente blindado aqui e agora está adquirindo blindagem nacional.
A Folha de S. Paulo
fez reportagem sobre o assunto como se fosse um grande escândalo e o
senador a vítima. Assim, o blinda, até porque é o candidato desse
extrato das elites dominantes brasileiras.
Viomundo – O deputado Sávio Souza Cruz diz que em Minas “está tudo dominado” por Aécio e seus parceiros. Concorda?
Rogério Correia – Assino embaixo. Aqui, o controle
de Aécio se dá em todas as esferas: Ministério Público, Tribunal de
Justiça, Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa… Além disso, há uma
blindagem muito forte da imprensa quanto a qualquer tipo de análise
negativa que possa ser feita sobre a sua administração como governador
ou a respeito de sua vida privada.
Essa blindagem faz com tudo que é negativo em relação a ele se torne
inquestionável. Também dá muita tranquilidade para que Aécio e seus
parceiros possam agir fora da lei na certeza da impunidade.
Viomundo – Que tipo de impunidade?
Rogério Correia – Vou dar dois exemplos. Um é a não aplicação de recursos estipulados pela Constituição em relação à Saúde e à Educação.
Desde o governo Aécio desviam-se em Minas recursos da saúde. Na gestão Antônio Anastasia, isso virou ação institucionalizada.
Explico. A Constituição determina a aplicação de, pelo menos, 25% dos
recursos dos Estados em Educação e, no mínimo, 12% em Saúde. Mas
mediante um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG), firmado em 2012 com o
Tribunal de Contas do Estado, o governo de Minas foi “autorizado” a não
cumprir o mínimo constitucional para Saúde e Educação. O Tribunal de
Contas deu permissão para o governo de Minas cumprir o que estabelece a
Constituição somente depois de 2015.
Um absurdo no campo da gestão pública. E o que é pior. Com o aval do
órgão que deveria fiscalizar e impedir que esse tipo de coisa
acontecesse.
Apesar de auditores fiscais, parlamentares e três promotores do
Ministério Público mineiro questionarem esse absurdo, o governo de Minas
nunca recebeu uma punição.
Aqui, tudo é arquivado, esquecido, engavetado,diante do poder
ditatorial de Aécio e do PSDB em Minas. O que permite que o senador e
aliados, como o ex-governador Antônio Anastasia, saiam impunes.
Resultado: Aécio segue infringindo a lei, pois sabe que sairá impune.
Aliás, esta semana, foi noticiado o arquivamento de mais uma denúncia contra o senador tucano.
Viomundo – O outro exemplo.
Rogério Correia — É a Lei 100. Mesmo sabendo que era
ilegal, Aécio efetivou 100 mil professores sem concurso público. Ele
age com a complacência da Justiça, já que isso vai ser julgado muito
tempo depois, quando ele já não estará mais no governo. Em consequência,
não dá inelegibilidade para ele.
Depois que ele conquista essa blindagem, ele acha que está impune a
tudo, inclusive na sua vida pessoal. Por isso faz também da sua vida
pessoal uma baderna.
É o menino mimado do avô. Então, tudo é protegido para ele. A
irmãzinha [Andréa Neves] protege-o de tudo o que ele faz de errado. Ele
virou um garoto mimado.
Viomundo – Como se dá a blindagem em Minas?
Rogério Correia – Aqui há o que eu chamo de pacto
das elites dominantes, que têm um projeto em torno do Aécio. Elas o
paparicam com discursos do tipo “Aécio é mineiro e vai retomar Minas”.
Essa mesma elite ocupa os mais altos cargos dos poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário de Minas. No caso da mídia, não é só a elite
amiga que mantém o controle, mas também a sua própria família.
É uma ação de mão dupla, pois o governo de Minas garante muitos
ganhos para essas classes mais altas. Aqui, já saiu o aumento salarial
para o Ministério Público, que ganha o que quer de dinheiro. O Tribunal
de Contas e os juízes, idem.
Para eles, não tem tempo ruim. Já para os professores e o pessoal da
saúde, são migalhas. Na prática, é tudo para os amigos. A blindagem faz
parte dessa troca de favores.
Viomundo – Já quem ousa divergir ou denunciar os malfeitos do senador corre o risco de ser preso.
Rogério Correia – É o que ocorreu com o jornalista Marco Aurélio Carone, do Novo Jornal. A pedido de Aécio, o seu site foi fechado e Carone está preso há quase cinco meses, apesar de problemas de saúde.
O Tribunal de Justiça de Minas negou o habeas corpus para libertá-lo e
responder o processo em liberdade. A negativa do habeas corpus é uma
proteção a Aécio.
O Carone não respeitava a censura imposta por Aécio ao restante da
imprensa mineira e Aécio o calou. Assim como ele quis cassar o meu
mandato e o do Sávio Souza Cruz. Aécio não admite adversário.
Adversário é inimigo que tem de ser aniquilado politicamente.
Viomundo – Aliás, assim como o Carone, a jornalista Rebeca
Mafra, do Rio de Janeiro, está sendo acusada de formação de quadrilha,
embora ela não conheça os demais acusados.
Rogério Correia – Acho que a formação de quadrilha é
a forma que Aécio encontrou no Judiciário para justificar e facilitar
desmandos autoritários. Tanto que o Carone e o Nílton Monteiro estão com
prisão preventiva acusados de intimidar testemunhas que comprovariam
formação de quadrilha. Aécio cala as vozes dissonantes na imprensa e,
ainda, se faz de vítima.
Além disso, ele põe os seus parceiros para fazer propaganda suja na
internet, contrata robô para baixar o nível nas redes sociais, e o
Ministério Público finge que não vê.
É um absurdo o que ele conseguiu agora no Rio de Janeiro. Depois,
será no Ministério Público de São Paulo, no Ministério Público Federal…
Aécio é um perigo.
Viomundo – Os mineiros estão totalmente a par dessa situação?
Rogério Correia – Uma parcela, sim. Só que, com essa
blindagem absoluta, ele passa a imagem que quer. Por isso, boa parte
da sociedade mineira desconhece os malfeitos do Aécio.
Viomundo – Diria que a imprensa mineira é responsável por essa desinformação?
Rogério Correia – Completamente. A mídia é fator
fundamental. Conseguir pautar nos grandes veículos mineiros alguma
notícia que critique o governo de Minas é trabalho árduo. Como Aécio
comete muitas ilegalidades na vida pública e apronta muito na vida
privada, ele precisa dessa blindagem absoluta, que é garantida por sua
irmã Andrea Neves.
Nos dias de hoje, a internet e as redes sociais devem ser o inferno
para Aécio, pois elas democratizam muito mais as informações.
Eu acho que, se eleito presidente – o que não acontecerá ! – , um dos
objetivos centrais de Aécio será limitar o acesso à informação. Tanto
que ele não queria o Marco Civil da Internet.
Ele tem que frear tudo. A ponto de se preocupar com a coitada da
jornalista no Rio de Janeiro. Assim como já faz em Minas, ele está
usando o Ministério Público do Rio de Janeiro para pôr em prática a sua
censura.
Viomundo – O que acontece hoje em Minas poderá se repetir no Brasil?
Rogério Correia — Não tenho a menor dúvida de que o que acontece, aqui, há anos, é uma amostra do que Aécio fará no restante do Brasil, se eleito.
O caso da jornalista Rebeca Mafra é a prova. Por isso, eu reitero:
Aécio é um perigo à democracia. Em Minas, não há democracia. O que
existe é um poder de exceção feito a partir do dinheiro e do poder.