É isso mesmo: pobre tem mais é que sumir do mapa, morrer, desaparecer...
Isso, pelo menos, é o que prega um dos principais "gurus" da neo-tucana Marina Silva e que tem em matéria assinada por Paulo Moreira Leite, da IstoÉ uma boa explicação:
Guru de Marina disse que é preciso aumentar a carne e o leite
Paulo Moreira Leite (*)
Convém prestar atenção no que dizem
os pensadores que integram o círculo mais influente de Marina Silva, a
não-candidata que modificou o quadro da disputa quando aderiu ao PSB de
Eduardo Campos
Num momento em que a oposição faz o possível
para transformar a economia no ponto central da campanha presidencial,
convém prestar atenção no que dizem os pensadores que integram o círculo
mais influente de Marina Silva, a não-candidata que modificou o quadro
da disputa quando aderiu ao PSB de Eduardo Campos.
Há opiniões surpreendentes e até constrangedoras pelo conteúdo antipopular e pelo caráter elitista.
Apontado como o mais influente conselheiro econômico de Marina
Silva, autorizado inclusive a dar entrevistas nessa condição, Eduardo
Gianetti da Fonseca elaborou uma formula muito peculiar para executar o
programa de desenvolvimento com sustentabilidade, talvez a meta mais
associada a líder da Rede. Lembrando que o gado brasileiro responde por
emissão de gases que geram grande quantidade de C02, Gianetti afirma
que, para evitar novos desastres ambientais, preocupação central de
Marina Silva, “o preço da carne vai ter de ser muito caro, o leite terá
de ficar mais caro.”
Essas e outras ideias de Gianetti se encontram no livro “O que os
economistas pensam sobre sustentabilidade,” do jornalista Ricardo Arnt.
Um dos mais preparados jornalistas brasileiros que se dedicam ao
assunto, diretor da revista Planeta, Ricardo Arnt procura nesta obra
descobrir como quinze economistas tentam combinar a necessidade de
manter e até ampliar o crescimento da economia com a preservação
ambiental. O livro foi publicado em 2010 e não pode ser visto,
obviamente, como a divulgação de receitas de governo para 2014. Não são
palavras de assessores de campanha. Se o assunto é explosivamente
político, o teor é acadêmico.
Mas é claro que as entrevistas contêm valores, princípios e
referências de longa duração, de grande utilidade no momento atual.
Entre os entrevistados, há economistas do PT, como Aloizio Mercadante, e
também identificados com o governo Lula-Dilma, como Luciano Coutinho.
Delfim Netto também foi ouvido. Arnt ouviu vários gurus de Marina Silva e
eles chamam muita atenção, por motivos compreensíveis, em função da
agenda ambiental em sua identidade.
Pela função que lhe foi atribuída na campanha, o lugar de Gianetti é especial.
Falando de um país no qual a maioria da população começou, apenas
nos últimos anos, a experimentar uma melhoria em no padrão de consumo, o
que inclui uma melhoria na qualidade da alimentação, Gianetti fala sem
rodeios. “Comer um bife é uma extravagância do ponto de vista
ambiental.” (página 72).
Outra “extravagância” que o incomoda envolve as viagens de avião.
Referindo-se a um benefício que só muito recentemente perdeu caráter
luxuoso, para se transformar num progresso acessível a muitos
brasileiros, provocando uma irritação nem sempre justificada em cidadãos
que passaram a enfrentar filas nos aeroportos, Gianetti fala: “Pegar um
avião para atravessar o Atlântico é uma extravagância sem tamanho, do
ponto de vista ambiental. Você emite mais dióxido de carbono do que um
indiano durante uma vida.”(página 71).
É curioso ouvir de um dos profetas da globalização a todo preço uma queixa contra as "extravagâncias" das viagens aéreas.
Na prática, podemos até discutir o conteúdo “ambiental” do bife e
de uma viagem paga em muitas prestações por nossa classe média. Podemos
ainda tentar encontrar soluções que preservem a vida no planeta de
riscos desnecessários e mesmo evitar medidas suicidas a longo prazo.
O surpreendente é que, convidado a encontrar uma solução para
evitar tal “extravagância” Gianetti traga de volta medidas clássicas da
história brasileira, aquelas que preservam o consumo dos cidadãos do
alto da pirâmide e penalizam o pessoal da parte debaixo. Diz que a
“mudança decisiva” consiste em elevar o preço de “tudo que tem impacto
ambiental.”
Mostrando uma visão de cima para baixo da economia, longe de
qualquer interferência dos interesses do povo, ele deixa claro que os
preços podem impor uma realidade que a maioria das pessoas não aceitaria
de livre e espontânea vontade. “ Eu não acredito que essa mudança virá
porque as pessoas se tornaram conscientes e querem ajudar as gerações
futuras. (...) Virá por uma mudança de preços relativos: terá de ficar
muito caro fazer certas coisas.”
Ameaçando até ecologistas com menos dinheiro no banco, ele afirma:
“essas pessoas que viajam alegremente, cruzando o Atlântico, e que se
consideram ambientalistas, quando chegar a hora de pagar a conta da
extravagância que estão fazendo, vão chiar. “
Numa postura de quem acha que o arrocho no consumo virá de qualquer
maneira, como uma fatalidade a que estamos todos condenados, ele faz
uma ressalva. “O caminho que estou propondo é sofrido mas preserva a
liberdade.” Em seguida, como se merecesse apoio por ser favorável à
solução menos ruim, o economista afirma: “Se vier de outra maneira, vai
ser impositivo. Será como foi nos países socialistas durante décadas.
Fecha-se a possibilidade.” A formula, então, é conhecida. Ou se faz
sacrifício. Ou é ditadura.
Dentro do raciocínio, faz lógica. Por trás dessa visão de
desenvolvimento e sustentabilidade, encontra-se um ponto de vista
externo ao Brasil e aos brasileiros. É uma noção que vem de fora e
envolve nosso lugar na história da humanidade.
É fácil entender qual é: os países pobres, com seus bilhões de
habitantes, consumistas insaciáveis (Gianetti chega a falar em “corrida
armamentista do consumo”) se tornaram uma ameaça a estabilidade e ao
futuro do planeta. Diz Gianetti:
“Criamos no mundo moderno um sistema que é quase uma regra de
convivência: você busca situações e posses que deem a você algum tipo de
admiração, de respeito, daqueles que estão a seu redor. Contrapartida
disso, quando se espalha e se massifica em escala planetária, na China,
na Índia, no Brasil, é a destruição irreparável da natureza.”
Você reparou: quando chineses, indianos e brasileiros entram no
mercado de consumo, ocorre o apocalipse: “a destruição irreparável da
natureza.”
Será mesmo da natureza que o assessor de Marina Silva está falando?
É claro que não. Estamos falando da vida daqueles milhões de
cidadãos do mundo, inclusive brasileiros, que só agora conquistaram
algum direito a melhoria, a um certo bem-estar. Nada revolucionário. Mas
um progresso que não cabia no horizonte de seus pais nem de seus avós.
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