"Estamos lutando por algo que ainda não sabemos o que é, mas que pode ser o início de algo muito grande que pode acontecer mais para frente", declarou uma integrante do movimento Black Bloc, em entrevista à BBC Brasil. Tem vinte e três aninhos a moça.
Incertezas próprias da juventude – o que é, de que tamanho e para quando. Entende-se, mas por enquanto o movimento indica apenas ações de terrorismo fascistóide. Simulacros de skinheads e neonazistas.
Faltam as mortes, ainda bem. Mas, estas ficam em lugares mais periféricos, menos Avenida Paulista, e para evitá-las é preciso organizar frentes de luta que os sem-noção parecem desconhecer.
Ontem, aproveitando-se de protestos legítimos de professores e estudantes, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, os Black Blocs vestiram seus modelitos negros, máscaras, capuzes, e foram às forra e farra. Que tudo é exposição, hoje um estilo de vida.
Devem pensar estar praticando anarquismo. Nada. Denigrem essa filosofia política pichando aparelhos públicos com o símbolo histórico.
O movimento anarquista não pressupõe caos ou agressão. Pelo contrário, nele a ordem deve ser preservada para o ideal libertário evoluir de forma orgânica.
É burrice imaginar que destruindo caixas eletrônicos de bancos se estará afetando banqueiros ou o capitalismo financeiro. Ferra-se, sim, usuários de baixa renda, cidadãos trabalhadores, pessoas que tomam o serviço para facilitar suas vidas.
Também, afeta bancários. Pessoas que trocam tempo livre por holerite. E quando este não é justo, param e protestam. Sabendo por quê.
Por acaso, alguém pode pensar que os investidores do rentismo nacional são majoritários no uso de estações de metrô depredadas e ônibus incendiados?
Imaginam extintos os dependentes de orelhões para comunicação? A inspiração da moda fashion em gestação ainda não chegou a todo o Brasil. Nem todos conspiram, comunicam, combinam manifestações, filmam-nas, a partir de seus aipodes e pedes.
Quebraram vidros e carros em concessionárias contra o capitalismo? Tudo no seguro, seus bobos. O anarquismo é antiautoritarista. Já seus quebra-quebras estão na essência do autoritarismo, moços pobres de ideias.
Não barbarizem o ideário de Kropotkin, Bakunin, Malatesta, Emma Goldman e Alexander Berkman (há um filme interessante sobre o casal de norte-americanos anarquistas), o brasileiro Edgard Leuenroth e, claro, meu velho e inesquecível mestre, Maurício Tragtenberg.
Ler “A Desobediência Civil” (Editora L&PM), de Henry Thoreau (EUA, 1817-1862), seria um bom começo. A edição de bolso custa R$ 11,00. Menos do que um taco de beisebol.
Isso, se não quiserem ficar apenas na farra da destruição de facilidades que a comunidade usa.  



Administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola, produtor rural. Trabalhou por mais de 30 anos em empresas do agronegócio. rui_daher@terra.com.br