Páginas

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sem comentários...

Casamento da Dona Barata:

     atrai polícia e evoca Bastilha
Bob Fernandes 

Casamento de Beatriz Barata, neta de Jacob Barata, o "Rei dos ônibus" no Rio. Terminou com protestos e agressões diante do Copacabana Palace. Difícil separar o que é indignação de quem usa ônibus caro e ruim do que é apenas rancor contra quem tem mais.

De um lado, os que pouco ou nada têm e são submetidos à vida dura, às vezes humilhante. Vida onde o recalque, o ressentimento podem ser o resultado. O outro, é o mundo dos que mesmo tendo tudo é como se não tivessem nada.

Nas manifestações recentes e legítimas vimos representantes desse mundo. Um mundo onde alguns despejam um ódio que nada tem a ver com falta de condições materiais, ou de oportunidades. Esse ódio de quem já tem é ainda mais assunto para a psicanálise e a sociologia.

Essa gente pede adjetivos, daqueles que nascem do estomago. Do que se sente diante de tipos como um que, desde o Copacabana Palace, atirou um cinzeiro contra quem protestava na calçada.

Uma gente que fez ainda pior, como Daniel, irmão da noiva. Da sacada do hotel o jovem neto do "Rei" jogou aviõezinhos com notas de R$ 20. Daniel é acusado ainda de ter descido do baile e agredido dois manifestantes.

O neto do "Rei " é a expressão de certa porção do país. De quem mesmo sem ter motivos, ao menos sem ter carências materiais, carrega sentimentos quase incompreensíveis.

É uma gente que não esconde o ódio. Ódio que só pode ser explicado por uma vasta e profunda ignorância. Ignorância e incultura que o dinheiro não consegue esconder.

Gente que encontramos no cotidiano. Que usa as expressões "nordestinos" , "nortistas" e "operário" como se cuspisse. Que se vale da palavra "negro" como se fosse um palavrão.

"Favelado" e "Maloqueiro" são sinônimos do que essa gente entende como o pior que pode acontecer a um humano. E o Rio de Janeiro dos Barata tem 1 milhão e 700 mil humanos morando em 1.071 favelas. 

Em momentos como esse, nossa realeza grita como gritava o neto Barata enquanto atirava notas de R$ 20 pela sacada do hotel. Grita e xinga com o que entende ser a pior ofensa da língua portuguesa: "Pobre".

Felizmente o Brasil é muito melhor do que isso. E tem quem, com inteligência e humor extraordinários, perceba e traduza esses Brasis que se chocam e chocam.

Há dias, perguntado sobre que cartaz levaria a uma manifestação, Luis Fernando Veríssimo resumiu tudo isso de maneira minimalista. Verissimo levaria um cartaz perguntando: "Pra que lado fica a Bastilha?".

A propósito: o baile do "Rei" e netos dos Barata se deu na madrugada do 14 de julho, a data da Revolução Francesa.