Mais uma do "Viomundo" do Azenha, agora com nomes e rostos dos delegados que atuam a favor de Aécio Neves na operação Lava-Jato:
Delegados da PF deixaram digitais: acreditavam que o golpe ia dar certo
publicado em 14 de novembro de 2014 às 21:02
por
Conceição Lemes
Ontem, quinta-feira 13, a
reportagem de Júlia Duailibi, publicada em O Estado de S. Paulo revelou:
no período eleitoral, delegados da Polícia Federal (PF) usaram as redes
sociais para elogiar Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, e
para atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta
Dilma Rousseff, que disputava a reeleição, bem como a replicar conteúdos
críticos aos petistas.
Esses policiais, que mostraram ser anti-petistas militantes e
radicais, são simplesmente os responsáveis pela Operação Lava Jato, que
investiga o esquema de corrupção na Petrobras, empreiteiras, doleiros,
partidos políticos, funcionários e ex-funcionários da estatal.
Pela primeira vez os rostos desses delegados estão sendo mostrados. Para isso, contamos com a preciosíssima colaboração do
NaMariaNews, que também nos ajudou na busca dos vídeos, das imagens e dos links que aparecem nos
PS do Viomundo, ao final da matéria. Como os delegados mudam de nome dependendo da situação, a pesquisa foi bastante difícil.
São eles:
Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado
As investigações da Lava Jato estão sendo conduzidas por delegados vinculados a
Igor Romário de Paula, que responde diretamente a
Rosalvo Ferreira Franco, superintendente da PF do Paraná.
Igor Romário de Paula, que atuou na prisão do doleiro Alberto Youssef, participa de um grupo do Facebook chamado Organização de Combate à Corrupção
(OCC),
cujo “símbolo” é uma imagem da Dilma, com dois grandes dentes incisivos
para fora da boca e coberta por uma faixa vermelha na qual está escrito
“Fora, PT!”
Márcio Adriano Anselmo, coordenador da Operação Lava Jato
Márcio Adriano Anselmo foi quem, no Facebook,
afirmou: “Alguém segura essa anta, por favor”, em uma notícia cujo
título era: “Lula compara o PT a Jesus Cristo”
Na reta final do 2º turno, fez comentários em outra notícia, na qual Lula dizia que Aécio não era “homem sério e de respeito”.
Escreveu: “O que é ser homem sério e de respeito? Depende da concepção de cada um. Para Lula realmente Aécio não deve ser”.
O delegado apagou há poucos dias o seu perfil no Facebook.
Maurício Moscardi Grillo, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários
Maurício Moscardi Grillo é o responsável por apurar a denúncia de grampos na cela de Youssef.
Segundo a reportagem de Júlia Duailibi, ele aproveita a mensagem de
Márcio Anselmo, para se manifestar sobre Lula: “O que é respeito para
este cara?”
Grillo também compartilhou uma propaganda eleitoral do PSDB, como a
que dizia que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobrás.
“Acorda!”, escreveu ele ao comentar a reportagem da
Veja, que foi às bancas na quinta-feira anterior ao segundo turno: “Lula e Dilma sabiam de tudo”.
Erika Mialik Marena, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvios de Recursos Públicos do Paraná
Na delegacia de
Erika Mialik Marena, estão os principais inquéritos da operação Lava Jato.
Em uma notícia sobre o depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor
da Petrobrás à Justiça Federal, ela comenta: “Dispara venda de fraldas
em Brasília”.
No Facebook, usava o codinome “Herycka Herycka”. Após a reportagem de
Júlia Duailibi, seu perfil foi retirado dessa rede social.
A denúncia envolvendo esses quatro delegados da PF é gravíssima.
Estranhamente, a mídia deu pouca repercussão a ela.
Estranhamente também, até a hora do almoço da quinta-feira, 13 de
novembro, a Polícia Federal, o Ministério da Justiça, a
Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal (STF) não
haviam se manifestado sobre a denúncia do
Estadão.
O
Viomundo contatou então as quatro instituições, via suas
respectivas assessorias de imprensa.
Primeiro, por telefone. Depois, por
e-mail, fazendo vários questionamentos.
Uma pergunta comum a todos:
– Que providências pretende tomar em relação ao caso?
Ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, perguntamos também:
– A partidarização explícita dos delegados da PF envolvidos na Lava
Jato não contamina o resultado da investigação, já que eles demonstraram
evidentes objetivos políticos?
– A partir de agora a Lava Jato não fica sob suspeição?
Ao ministro Teori Zavascki , do STF, indagamos:
– O comportamento dos delegados da PF não contamina a investigação, comprometendo o inquérito?
– A partir de agora a Lava Jato não fica sob suspeição, inclusive as delações premiadas?
À Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde fica a sua sede, perguntamos:
– O que a PF tem a dizer sobre os evidentes objetivos políticos desses delegados?
Na parte 1 da entrevista abaixo, o delegado
Maurício Moscardi Grillo fala aos 2,06 minutos sobre a PF e como deve deve agir em casos policiais. Imperdível.
Ele diz que a Polícia Federal é republicana.
Exatamente o oposto do que fizeram os quatro delegados da PF durante as eleições de 2014.
Por isso, perguntamos também à Polícia Federal, via sua assessoria de imprensa:
– Como a sociedade vai confiar numa Polícia Federal que
não agiu de forma republicana nessas eleições, mas
politicamente em favor do então candidato do PSDB, Aécio Neves, e contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, e o ex-presidente Lula?
Do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quisemos saber, entre outras coisas:
– Quais seriam as medidas punitivas aos envolvidos no caso?
– Como a sociedade vai confiar numa Polícia Federal que não age
republicanamente, mas sistemática e politicamente em favor do PSDB e
contra o PT?
Nenhum respondeu. Insistimos por telefone.
Questionada de novo, a Polícia Federal disse que não se manifestaria sobre o caso.
O procurador-geral Rodrigo Janot também não respondeu. A assessoria
de imprensa da PGR, em Brasília, alegou que ele estava em São Paulo e
não tinha sido possível contatá-lo. Desculpa, no mínimo, estranha, já
que existe celular hoje em dia e de de vários modelos. Não seria mais
digno dizer que não iria se manifestar e pronto?
Como o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não respondeu às nossas quatro perguntas, acrescentamos agora uma nova:
– O senhor concorda com a nota dos procuradores do Ministério Público Federal, seção Paraná, em apoio aos delegados da PF?
A íntegra da nota:
Operação Lava Jato: Membros da força-tarefa do Ministério Público Federal manifestam apoio a delegados, agentes e peritos da PF
Os Procuradores da República
membros da Força-Tarefa do Ministério Público Federal, diante do teor da
reportagem “Delegados da Lava Jato exaltam Aécio e atacam PT na rede”,
publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” nesta data, vem reiterar a
confiança e o apoio aos delegados, agentes e peritos da
Polícia Federal que trabalham nessa operação.
Em nosso país, expressar opinião privada,
mesmo que em forma de gracejos, sobre assuntos políticos é
constitucionalmente permitida, em nada afetando o conteúdo e a lisura
dos procedimentos processuais em andamento.
A exploração pública desses comentários
carece de qualquer sentido, pois o objetivo de todos os envolvidos nessa
operação é apenas o interesse público da persecução penal e o interesse
em ver reparado o dano causado ao patrimônio nacional,
independentemente de qualquer coloração político-partidária.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também nada respondeu.
No início da noite, a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça
nos prometeu enviar o áudio da coletiva de Cardozo, dada um pouco antes
em Brasília. Ficou na promessa. Mais uma vez o vazio.
Como bem observou Fernando Brito, do
Tijolaço, no post
Cardoso, o Lento, pede sindicância sobre “delegados do Aécio”,
o ministro da Justiça “resolveu agir 12 horas depois que o país tomou
conhecimento de que os delegados federais da Operação Lava-Jato
participavam, no Facebook, de animadas e desbocadas tertúlias sobre a
investigação que conduzem”.
Cardozo determinou à Corregedoria da Polícia Federal que abra investigação sobre o caso.
Na coletiva de imprensa, ele disse:
Cardozo mostrou mais uma vez que é inepto e incompetente, para o dizer o mínimo.
Em artigo publicado nesta sexta-feira 14,
no GGN, Luis Nassif acrescenta:
O Ministro chega às 11 no trabalho, sai
às 12h30 para almoçar, volta às 16 e vai embora por volta das 18h. A não
ser que se considere como trabalho conversas amistosas com jornalistas
em restaurantes da moda de Brasília.
Será que é por isso que esta repórter não recebeu as respostas de Cardozo até agora?
As manifestações dos quatro delegados da PF são cristalinas. Ou será preciso desenhar para Cardozo?
Nassif diz mais:
É blefe a atitude do Ministro da Justiça
José Eduardo Cardozo, de pedir uma investigação para a Polícia Federal
sobre o ativismo político dos delegados da Operação Lava Jato. O
problema da Lava Jato não é o ativismo de delegados no Facebook, mas a
suspeita de armação com a revista Veja na véspera da eleição. Se Cardozo estivesse falando sério, estaria cobrando a conclusão das investigações sobre o vazamento.
Os quatro delegados têm o direito de ter as suas preferências
políticas. A questão é que o comportamento desrespeitoso está longe de
ser um caso menor. “É um ato político”, avalia Paulo Moreira Leite,
em seu blog.
Na condição de ministro da Justiça, Cardozo, como bem observou Paulo
Moreira Leite, deveria saber que o aspecto do caso está resolvido no
artigo 364 no regimento disciplinar da Polícia Federal, que define
transgressões disciplinares da seguinte maneira:
I -
referir-se de modo depreciativo às autoridades e atos da Administração
pública, qualquer que seja o meio empregado para êsse fim.
II -
divulgar, através da imprensa escrita, falada ou televisionada, fatos
ocorridos na repartição, propiciar-lhe a divulgação, bem como referir-se
desrespeitosa e depreciativamente às autoridades e atos da
Administração;
III - promover manifestação contra atos da Administração ou movimentos de apreço ou desapreço a quaisquer autoridades;
A questão, portanto, é política. E parece que Cardozo não quer se dar conta da gravidade do que aconteceu debaixo do seu nariz.
Nos últimos 12 anos, tivemos vários momentos em que a Polícia Federal
agiu em benefício dos tucanos e contra os petistas. E sempre ficou por
isso mesmo.
Em 2006, tivemos o
caso do delegado Bruno,
eleitor assumido do PSDB, que vazou para a mídia fotos do dinheiro
apreendido no caso dos “aloprados” do PT. A cena foi ao ar na
quinta-feira anterior ao primeiro turno da eleição presidencial e ajudou
a levá-la para o segundo turno. O delegado Bruno não foi punido por
vazar fotos do dinheiro; pegou 9 dias de suspensão por mentir aos
superiores.
Na campanha eleitoral de 2014, tivemos o caso de Mário Welber, assessor do deputado estadual Bruno Covas, do PSDB paulista.
Ele foi detido pela PF em Congonhas com R$ 102 mil em dinheiro vivo e 16 cheques em branco assinados por Bruno Covas. A Polícia Federal ocultou o quanto pode o caso e continua a fazê-lo.
Em compensação, em 7 de outubro de 2014, a PF de Brasília vazou imediatamente para
O Globo a
apreensão de avião que transportava dinheiro suspeito. Em seguida,
que o detido no jatinho era da campanha do PT em Minas Gerais. São, como sempre, os dois pesos e duas medidas da mídia e da Polícia Federal.
Eis que na eleição presidencial de 2014, setores da PF aparecem, de
novo, atuando em favor dos tucanos e contra os petistas. O vazamento
seletivo da Operação Lava Jato já sinalizava o objetivo político e
a Polícia Federal do Paraná como uma das possíveis fontes.
Agora, as manifestações no Facebook dos delegados PF em postos-chave
na Lava Jato escancararam as suspeitas. Eles agiram de forma organizada
para interferir no resultado das eleições presidenciais de
2014. Deixaram a PF nua.
O nome disso é golpe.
Aparentemente, tudo foi bem armado com setores da mídia, sobretudo, neste caso, com a revista
Veja.
Ela antecipou para quinta-feira, 23 de outubro, a ida para as bancas
na semana do segundo turno, para que a matéria sobre corrupção na
Petrobras e a Operação Lava Jato tivesse mais tempo de repercussão na
televisão, principalmente no
Jornal Nacional, e, assim, influenciasse o resultado da disputa presidencial.
Veja trazia na capa as fotos de Lula e Dilma, com o título: “Lula e Dilma sabiam de tudo”.
Em 25 de outubro, véspera do segundo turno, o doleiro Alberto Youssef
foi hospitalizado. Surgiram então boatos de que ele havia morrido
envenenado.
A PF sabia que o suposto envenenamento e óbito não eram verdadeiros.
Porém, deixou que isso fosse disseminado durante horas nas redes sociais
e nos programas televisivos de domingo sobre as eleições, especialmente
os da Globo.
Só foi desmentir no começo daquela tarde. Tal ação
fazia parte do golpe em andamento, que acabou não dando certo.
“Os delegados, flagrados no Facebook, tinham tanta certeza de que o
golpe teria êxito que deixaram digitais e provas pelo caminho. Só isso
explica o que disseram”, observa um experiente analista da política
brasileira.
Talvez também porque nesses 12 anos do governos petistas outros delegados da PF ficaram impunes.
Paulo Moreira Leite alerta:
A campanha anti-PT dos delegados da
Polícia Federal lembra os desvios do Inquérito Policial-Militar (IPM)
da Aeronáutica que emparedou Getúlio Vargas em 1954.
Em 1954, quando o major Rubem Vaz, da
Aeronáutica, foi morto num atentado contra Carlos Lacerda, um grupo de
militares da Aeronáutica abriu um IPM à margem das normas e regras do
Direito, sem respeito pela própria disciplina e hierarquia.
O saldo foi uma apuração cheia de falhas
técnicas e dúvidas, como recorda Lira Neto no volume 3 da biografia de
Getúlio, mas que possuía um objetivo político declarado
— obter a renúncia de Vargas. Menos de 20 dias depois, o presidente da
República, fundador da Petrobras, dava o tiro no peito.
Mas atualmente é inconcebível, além de inconstitucional, que isso
venha a acontecer novamente. Em hipótese alguma, pode-se encarar com
naturalidade o anti-petismo militante e radical dos delegados
denunciados.
Para o bem da democracia, é preciso investigar a fundo a tentativa de
golpe do qual esses quatro delegados fizeram parte, assim como é
preciso combater seriamente a corrupção.
Do contrário, a democracia corre o risco de ser golpeada de forma mortal mais uma vez.
PS 1 do Viomundo: Na coletiva de imprensa, o ministro José Eduardo Cardozo disse que a Corregedoria da PF deve apurar
primeiramente se as manifestações dos quatro delegados são verdadeiras.
Mas como isso vai ser apurado se o site OCC foi quase que totalmente esterilizado após a publicação da denúncia do
Estadão? As
provas só podem estar com Júlia Duailibi. Será que a jornalista fez os
print-screens das páginas? Ou será que ela só teve acesso às fotos
daquelas páginas do Facebook?
PS 2 do Viomundo: É importante que os leitores
saibam que os delegados usam seus nomes cada hora de jeito: ou
completos, ou em partes. Isso dá uma grande diferença nas buscas.
PS 3 do Viomundo: Maurício Moscardi Grillo foi nomeado para o cargo em
25/08/2014 - Seção 2, página 54, de acordo com o
Diário Oficial da União. Portanto, depois que as investigações da Lava Jato já estavam em andamento.
Quem quiser ver a segunda parte do vídeo do delegado, ela está abaixo.
PS 4 do Viomundo: O delegado Grillo também atuou na investigação do mensalão, em 2009. Veja
aqui,
aqui e
aqui.
PS 5 do Viomundo: A delegada Erika Marena trabalhou
com o delegado da PF Carlos Alberto Dias Torres como responsáveis pelo
inquérito que investigava
Naji
Nahas, o ex-prefeito paulistano Celso Pitta e outras 27 pessoas. Tudo
derivado da Operação Satiagraha,que envolvia dois outros inquéritos,
tendo como alvo o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.
Pode-se vê-la falando sobre a Lava Jato
neste vídeo e
neste outro.
PS 6 do Viomundo: Já que a Superintendência da PF em Brasília se recusou a responder nossas perguntas, o
Viomundo gostaria de recorrer, em última instância, à boa vontade do superintendente da PF do Paraná,
Rosalvo Ferreira Franco:
– Doutor, o senhor sabia que os seus quatro
subordinados estavam atuando politicamente no Facebook, jogando no lixo
o caráter republicano da PF como um todo?
– Que medidas o senhor, como chefe geral, irá tomar?