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sexta-feira, 1 de julho de 2016

É a economia, estúpído!!!

Invocando o desabafo do assessor de Bill Clinton em sua campanha para a presidência dos Estados Unidos, titulamos artigo de André Araújo, publicado hoje no site do Luís Nassif onde ele mostra historicamente que a economia no Brasil foi terceirizada para os grandes bancos em processo que a ditadura militar tentou evitar, mas que os tucanos de Fernando Henrique, em golpe contra o país, aplicaram no Plano Real. 

A matéria é imperdível para quem quer saber um pouco mais do que está em jogo no atual golpe de estado: 

A terceirização da política econômica







A TERCEIRIZAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA - O Governo Militar, ao criar o Banco Central em 1965, teve a prudência de impedir o seu controle pelo sistema financeiro privado, colocando ACIMA dele o Conselho Monetário Nacional, um órgão colegiado que tinha DEZ membros, três naturais, o Ministro da Fazenda, o Presidente do Banco do Brasil e o Presidente do BNDE e SETE membros indicados pelo Presidente da República. Os sete membros indicados pelo Presidente da República, desde o início do Conselho, incluíam grandes nomes da agricultura, da indústria, do comércio, economistas independentes e o objetivo era claro, ter um organismo de grande poder e com várias visões do processo econômico, de maneira a ter um balanceamento entre todos os setores da economia nacional. Era no Conselho Monetário Nacional que, por lei, se decidiam a política monetária, a cambial, a de crédito, a fiscal e o Conselho também tinha a tarefa de supervisionar o Banco Central, que tinha muito menos poder do que hoje, porque o poder estava no Conselho Monetário.

Quando foi implantado o Plano Real, o grupo de economistas que montou e operou o Plano deu  um "golpe de Estado" no Conselho Monetário Nacional e na própria lei que criou o Real (lei 9069/65)  ACABOU COM A REPRESENTAÇÃO DA ECONOMIA PRODUTIVA, em vez de DEZ membros, o CMN passou a ter apenas três, os Ministros da Fazenda e do Planejamento e o Presidente do Banco Central,  ficando a Secretaria Executiva do Conselho exatamente com o Banco Central, que era o órgão que o CMN deveria controlar. Transferiu-se assim todo o poder sobre a economia para dois dos três únicos membros do Conselho, o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central, na prática dois em um Conselho de três mandam sozinhos.

O Plano Real foi um plano de financistas para financistas e para fazer o espetáculo completo EXPULSARAM das decisões sobre a política econômica a economia da produção e do consumo, a economia que gera empregos. O total da economia ficou assim sob exclusivo controle do Ministro da Fazenda e do Banco Central.

Quando ambos, Fazenda e BC, são oriundos do MERCADO FINANCEIRO, o Governo do Brasil perde completamente o domínio sobre a política econômica para o sistema financeiro, que gere sozinho e sem contrapontos o total da economia.

É um CASO ÚNICO entre as dez maiores economias do planeta, não há nenhum outro País onde se cometeu semelhante desatino. O sistema financeiro tem seus próprios interesses que são por natureza ANTAGÔNICOS aos interesses da economia produtiva, terceirizar para esse sistema o total da política econômica é suicídio político.

No presente momento há uma agravante, Henrique Meirelles fez toda sua carreira no Banco de Boston, um banco regional americano que no Brasil se especializou em atender clientes de alta renda. Esse Banco foi vendido ao BANCO ITAÚ, todas as agências do Banco de Boston se transformaram em agências do Banco Itaú dedicadas a clientes Personalité, a faixa mais alta de renda.  Já o Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, era, até antes de ser indicado, o principal economista do Banco Itaú, do qual era diretor. Quer dizer, dos três membros do Conselho Monetário Nacional, DOIS tem vinculação com o Banco Itaú, o maior banco privado nacional.

O interesse de um grande Banco de depósitos que tem a maior parte dos seus ativos em valores líquidos no País é ter o Real o mais valorizado possível porque então seus ativos em DÓLAR serão mais altos quanto menor for a cotação do dólar. A rebaixa do dólar em 11% só neste mês pode ser péssima para o País mas será otima para o Banco Itaú.

Esse desenho de completa terceirização da política econômica é sem paralelo entre as grandes economias. O Governo está completamente VENDIDO na condução da política econômica, não tem contrapesos ao controle da economia pelo sistema financeiro. Para completar a mídia conservadora, toda ela, tem exclusivamente comentaristas a favor do sistema financeiro, não há nenhuma opinião divergente ou que aponte esses descaminhos, ao contrário do que acontece nos EUA, onde a Secretaria do Tesouro não tem nenhuma ligação doutrinária com o Federal Reserve System, um é contrapeso do outro e a Casa Branca conta com um fortíssimo centro de aconselhamento do Presidente, o CONSELHO DE ASSESSORES ECONÔMICOS da Casa Branca, onde estão economistas independentes que não pertencem nem ao Fed e nem ao Tesouro, para que o Governo, que é quem manda na política econômica, não fique na mão de um só grupo. Já os comentaristas econômicos da grande imprensa americana são EXTREMAMENTE CRÍTICOS da política econômica, disputam para ver quem é mais crítico, não há nenhum "alinhamento" vergonhoso como aqui há entre o Banco Central e o Sistema Globo, este operando como "porta voz" oficioso do Banco Central.

O desenho atual, que vem do Plano Real, é a principal causa da recessão brasileira e pelas decisões já tomadas por esse grupo, MANTER A SELIC ONDE ESTÁ e valorizar o Real, a recessão irá se aprofundar. Não há contrapesos para esse grupo, a representação do empresariado está neutralizada pela completa inutilidade das CONFEDERAÇÕES das quais não se ouve nenhum chiado a respeito da POLÍTICA ECONÔMICA PRÓ-RECESSÃO da dupla Meirelles-Goldfajn.

Esse modelo que vem desde o Plano Real funciona EXCLUSIVAMENTE a favor do sistema financeiro e não do País.