Invocando o desabafo do assessor de Bill Clinton em sua campanha para a presidência dos Estados Unidos, titulamos artigo de André Araújo, publicado hoje no site do Luís Nassif onde ele mostra historicamente que a economia no Brasil foi terceirizada para os grandes bancos em processo que a ditadura militar tentou evitar, mas que os tucanos de Fernando Henrique, em golpe contra o país, aplicaram no Plano Real.
A matéria é imperdível para quem quer saber um pouco mais do que está em jogo no atual golpe de estado:
A terceirização da política econômica
A
TERCEIRIZAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA - O Governo Militar, ao criar o
Banco Central em 1965, teve a prudência de impedir o seu controle pelo
sistema financeiro privado, colocando ACIMA dele o Conselho Monetário
Nacional, um órgão colegiado que tinha DEZ membros, três naturais, o
Ministro da Fazenda, o Presidente do Banco do Brasil e o Presidente do
BNDE e SETE membros indicados pelo Presidente da República. Os sete
membros indicados pelo Presidente da República, desde o início do
Conselho, incluíam grandes nomes da agricultura, da indústria, do
comércio, economistas independentes e o objetivo era claro, ter um
organismo de grande poder e com várias visões do processo econômico, de
maneira a ter um balanceamento entre todos os setores da economia
nacional. Era no Conselho Monetário Nacional que, por lei, se decidiam a
política monetária, a cambial, a de crédito, a fiscal e o Conselho
também tinha a tarefa de supervisionar o Banco Central, que tinha muito
menos poder do que hoje, porque o poder estava no Conselho Monetário.
Quando
foi implantado o Plano Real, o grupo de economistas que montou e operou
o Plano deu um "golpe de Estado" no Conselho Monetário Nacional e na
própria lei que criou o Real (lei 9069/65)
ACABOU COM A REPRESENTAÇÃO DA ECONOMIA PRODUTIVA, em vez de DEZ
membros, o CMN passou a ter apenas três, os Ministros da Fazenda e do
Planejamento e o Presidente do Banco Central, ficando a Secretaria
Executiva do Conselho exatamente com o Banco Central, que era o órgão
que o CMN deveria controlar. Transferiu-se assim todo o poder sobre a
economia para dois dos três únicos membros do Conselho, o Ministro da
Fazenda e o Presidente do Banco Central, na prática dois em um Conselho
de três mandam sozinhos.
O
Plano Real foi um plano de financistas para financistas e para fazer o
espetáculo completo EXPULSARAM das decisões sobre a política econômica a
economia da produção e do consumo, a economia que gera empregos. O
total da economia ficou assim sob exclusivo controle do Ministro da
Fazenda e do Banco Central.
Quando
ambos, Fazenda e BC, são oriundos do MERCADO FINANCEIRO, o Governo do
Brasil perde completamente o domínio sobre a política econômica para o
sistema financeiro, que gere sozinho e sem contrapontos o total da
economia.
É
um CASO ÚNICO entre as dez maiores economias do planeta, não há nenhum
outro País onde se cometeu semelhante desatino. O sistema financeiro tem
seus próprios interesses que são por natureza ANTAGÔNICOS aos
interesses da economia produtiva, terceirizar para esse sistema o total
da política econômica é suicídio político.
No
presente momento há uma agravante, Henrique Meirelles fez toda sua
carreira no Banco de Boston, um banco regional americano que no Brasil
se especializou em atender clientes de alta renda. Esse Banco foi
vendido ao BANCO ITAÚ, todas as agências do Banco de Boston se
transformaram em agências do Banco Itaú dedicadas a clientes
Personalité, a faixa mais alta de renda. Já o Presidente do Banco
Central, Ilan Goldfajn, era, até antes de ser indicado, o principal
economista do Banco Itaú, do qual era diretor. Quer dizer, dos três
membros do Conselho Monetário Nacional, DOIS tem vinculação com o Banco
Itaú, o maior banco privado nacional.
O
interesse de um grande Banco de depósitos que tem a maior parte dos
seus ativos em valores líquidos no País é ter o Real o mais valorizado
possível porque então seus ativos em DÓLAR serão mais altos quanto menor
for a cotação do dólar. A rebaixa do dólar em 11% só neste mês pode ser
péssima para o País mas será otima para o Banco Itaú.
Esse
desenho de completa terceirização da política econômica é sem paralelo
entre as grandes economias. O Governo está completamente VENDIDO na
condução da política econômica, não tem contrapesos ao controle da
economia pelo sistema financeiro. Para completar a mídia conservadora,
toda ela, tem exclusivamente comentaristas a favor do sistema
financeiro, não há nenhuma opinião divergente ou que aponte esses
descaminhos, ao contrário do que acontece nos EUA, onde a Secretaria do
Tesouro não tem nenhuma ligação doutrinária com o Federal Reserve
System, um é contrapeso do outro e a Casa Branca conta com um fortíssimo
centro de aconselhamento do Presidente, o CONSELHO DE ASSESSORES
ECONÔMICOS da Casa Branca, onde estão economistas independentes que não
pertencem nem ao Fed e nem ao Tesouro, para que o Governo, que é quem
manda na política econômica, não fique na mão de um só grupo. Já os
comentaristas econômicos da grande imprensa americana são EXTREMAMENTE
CRÍTICOS da política econômica, disputam para ver quem é mais crítico,
não há nenhum "alinhamento" vergonhoso como aqui há entre o Banco
Central e o Sistema Globo, este operando como "porta voz" oficioso do
Banco Central.
O
desenho atual, que vem do Plano Real, é a principal causa da recessão
brasileira e pelas decisões já tomadas por esse grupo, MANTER A SELIC
ONDE ESTÁ e valorizar o Real, a recessão irá se aprofundar. Não há
contrapesos para esse grupo, a representação do empresariado está
neutralizada pela completa inutilidade das CONFEDERAÇÕES das quais não
se ouve nenhum chiado a respeito da POLÍTICA ECONÔMICA PRÓ-RECESSÃO da
dupla Meirelles-Goldfajn.
Esse modelo que vem desde o Plano Real funciona EXCLUSIVAMENTE a favor do sistema financeiro e não do País.