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segunda-feira, 16 de maio de 2016

O Golpe: a primeira análise


 



O Professor Aldo Fornazieri publica no Luís Nassif Online uma análise na qual expõe claramente a situação do golpe de maio pintando com  tintas fortes a realidade dos primeiros dias de Temer e a temer... 



Eis parte de seu texto: 



por Aldo Fornazieri 
Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. 


O governo Temer é a expressão de um condomínio de corruptos que desfecharam o golpe de abril. A batalha da “limpeza ética” revelou-se uma grande farsa para justificar o golpe. O modus operandi dos golpistas, neste particular, não foi diferente dos intentos contra Getúlio Vargas, contra Juscelino e contra Jango: o combate à corrupção era apenas uma cortina de fumaça para assaltar o poder sem o respaldo da soberania popular. Desta vez, o golpe parlamentar teve o aval de falsos democratas e de oportunistas de toda a ordem. O PSDB, de avalista do golpe, se tornou caudatário e caroneiro do mesmo.

Dos 23 ministros de Temer, nove são citados em denúncias da Lava Jato. O próprio Temer foi alvo de várias citações, acusado de ter recebido propinas. O movimento agora consiste em abafar as investigações e construir uma aparência de moralidade e de normalidade. O juiz Moro, depois de ter rasgado a Constituição, depois de ter cometido uma série de arbitrariedades, depois de ter sido parcial e antirrepublicano, agora pede um “apaziguamento” do Brasil. A verdade é que a Operação Lava Jato agora funcionará a fogo baixo até sobrarem apenas cinzas. Nem a mídia, nem Moro, nem ninguém fala mais de que se trata de uma operação “Mãos Limpas” brasileira. Os tucanos e Aécio Neves continuam inimputáveis e com salvo conduto: Gilmar Mendes devolveu o pedido de investigação de Aécio ao procurador Rodrigo Janot. O Ministério Público, por sua vez, perdeu a verve e o elã da cruzada moral e salvacionista que vinha promovendo. A paz dos hipócritas e dos cínicos está decretada.

O ministério Temer é a expressão da mentalidade machista e escravocrata que predomina na elite brasileira. Ao nomear apenas homens brancos que cheiram o mofo da corrupção e dos vícios da velha política, Temer pratica uma violência e uma discriminação contra a principal força emergente do século XXI: as mulheres. São elas que estão na vanguarda da luta por igualdade e justiça e, por consequência, por humanidade e civilidade. Ao excluir os negros simboliza a exclusão e o preconceito contra a maioria negra brasileira e contra os pobres. Em regra, ser negro no Brasil é ser pobre e ser pobre é ser negro. Ser negro e pobre é viver em risco, situação que se agravará sob esse governo de mentalidade machista e escravocrata. Em síntese, o governo Temer é um governo contra as energias sociais novas do Brasil, contra a pluralidade, a diversidade e multiculturalidade. É um governo contra um futuro humano e civilizado do Brasil.

É também um governo contra a cultura e contra o social. O Ministério da Cultura foi deletado. Os programas sociais ficaram sem um abrigo ministerial. Temer e seus ministros dizem, no imediato, que preservarão os programas sociais, mas já agem para atacá-los e desmantelá-los. Já agem para atacar direitos sociais e trabalhistas, direitos civis, direitos de minorias e direitos de liberdade, como sinalizou o novo ministro da Justiça indicando que desencadeará uma onda repressiva. 

O condomínio de corruptos que assaltou o poder agora fala em aumentar impostos e em responsabilidade fiscal. Esse condomínio foi radicalmente contra o aumento de impostos antes do golpe e apoiou todas as pautas-bomba de Eduardo Cunha, que elevaram o gasto público, inviabilizando o governo. Esse governo jogará o peso do ajuste fiscal nos ombros dos trabalhadores, pois na assembleia de condôminos golpistas foi acertado que a Fiesp não pagaria o pato. Esse governo exasperará o uso do Estado como instrumento de negócios privados e deprimirá a sua função de promotor do bem público comum e da universalização de direitos.