É o golpe da maconha intrujada, Lewandowski!,

por Armando Rodrigues Coelho Neto
Como defensor dos direitos humanos, eu não desejaria ao Jair 
Bolsonaro um julgamento feito por aqueles que ora julgam Dilma Rousseff.
 Nem gostaria de ver o Jair Bolsonaro vivendo um “Apolo 11” controlado 
pelo torturador Brilhante Ustra. Menos ainda ver o ministro Ricardo 
Lewandowski diante de um juiz suspeito, processado, com duvidosas contas
 na Suiça.
Feita a ressalva, eu diria aos dois que todas as atrocidades feitas 
durante o nazismo e ou contra os negros durante a escravidão ocorreram 
dentro da lei. Do mesmo modo, mulheres cujos clitóris são mutilados ou 
tem suas vaginas costuradas mundo afora; crianças forçadas a casar muito
 cedo e corriqueiramente são violentadas são fatos protegidos por lei 
nos países que adotam tais práticas.
Nesse sentido, a referência legal é relativa. Aliás, nos casos de 
erros contra a pessoa os ritos são dentro da lei. Os casos decididos por
 juízes parciais e ou impedidos se dão dentro da lei. Escudar-se na 
aparência de legalidade para negar o golpe em curso soa como temeridade.
 Que o tal argumento parta do Bolsonaro, do Eduardo Cunha, do Paulinho 
da Força, tudo bem. Na Suprema Corte, não!
Uma simplória análise desse circo capitaneado por Eduardo Cunha tem 
cara do golpe da maconha intrujada, muito comum entre policiais 
corruptos. Algum caso já deve ter chegado à Suprema Corte. Algo assim 
como, a presidente Dilma Rousseff que não pagou mensalão e... desculpe 
(!)... o maconheiro não pagou a propina, o policial intruja a droga. 
Como policial, testemunha, juiz não gostam de maconheiro, tudo corre 
dentro da lei: advogado, ampla defesa, figurino constitucional...
Pois bem, senhor Ricardo Lewandowskii, a Dilma não deu os seis votos 
que Eduardo Cunha tentou extorquir para abafar o zum-zum das contas dele
 na Suiça. Aliás, ao que consta, descobertas pelos suíços, pois a 
“Farsa-a- Jato” foi criada pra caçar Lula/Dilma/PT e não pra vasculhar a
 vida do Presidente da Câmara. A CPI dos Precatórios, a Operação Macuco e
 Banestado falam por si.
Pois bem, Excelência. Cunha tentou extorquir seis votos. Isso vicia a
 vontade, vicia o ato, e segundo o seu colega Celso Melo, vícios desse 
jaez invalidam o ato. Ora, se todos os presidentes e até o vice Michel 
Temer– além de inúmeros governadores praticaram o mesmo ato e estão 
imunes e impunes, o ataque à Dilma soa como exceção. Enquanto tal fere o
 princípio da igualdade, causa de nulidade.
Como sou coloquial, o senhor deve sentir falta de juridiquez. 
Portanto, em sua homenagem, vou usar a expressão “ex nunc”, ou seja, se 
alguma coisa mudou no direito vale daqui pra frente e não pra trás (ex 
tunc). Está claro que, se jogo contábil virou crime, tem que está 
escrito (princípio da legalidade) e vale daqui pra frente.
Voltando à maconha, não adianta seguir os ritos da lei com um golpe 
intrujado. Todos os presidentes anteriores praticaram os mesmos atos da 
senhora Presidenta. E, ao fazê-lo, o fez sem dolo e não pôs um centavo 
no bolso, mas sim para atender o interesse público. O senhor, que periga
 receber 78% de reajuste salarial, sabe o que é esperar por míseros 
reais do Bolsa Família para comer? Noutras palavras, a presidenta agiu 
com excesso de responsabilidade.
Desse modo, num jogo de cartas marcadas, cujas regras Cunha quis 
alterar desde o início pra facilitar o golpe, tudo soa como farsa. Está 
com cara de processo de maconha intrujada. Corre tudo na legalidade, sem
 que os juízes saibam. Às vezes sabem, mas como polícia, testemunha, 
escrivão não gostam de maconheiro, então vale. Lembra até aqueles 
processos administrativos da Polícia Federal, nos quais o servidor se 
defende à toa: o que vale mesmo é o que está na portaria acusatória. O 
STF anulou alguns, lembra? Esse golpe é nulo!
À mulher de Cesar não bastava ser honesta, tinha que parecer honesta.
 No caso, não basta parecer legal, tem que ser legal e tem que ser 
honesto. No confronto com a maconha intrujada, a diferença é que aqui a 
Corte Suprema sabe do intrujo. Portanto, Excelência, faça valer a 
Constituição - anule tudo. Faça valer os 54 milhões de votos. Se for 
para rasgar a Constituição no modelito Cunha, negue-se. Rasgue-a o 
Senhor, em nome do povo e mande anular essa farsa toda.... José Serra e 
Aloysio Nunes que se expliquem pro Tio Sam, ora pois!.
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
 
