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terça-feira, 24 de maio de 2016

Golpe: dois libelos contra o Supremo

O "Diário do Centro do Mundo" publica dois textos que, na realidade, são libelos contra aquela que seria a Corte Constitucional no Brasil e se tornou coautora de golpe e razão de achincalhe da Justiça. 

Eis os textos: 

O responsável pela degradação moral do STF é Gilmar Mendes.


 
Não é uma foto, mas um crime de lesa sociedade: Gilmar com Merval
Não é uma foto, mas um crime de lesa sociedade: Gilmar com Merval

O responsável pela degradação do STF é Gilmar Mendes, uma das heranças malditas de FHC.
Não que outros ministros não tenham dado sua cota. Mas nenhum juiz fez tanto quanto Gilmar para transformar a maior corte do país num grotesco, despudorado palco político.

É por conta sobretudo de Gilmar que é absolutamente crível a afirmação de Jucá sobre a participação do STF no golpe.

Num mundo menos imperfeito, Gilmar já teria sido enxotado do STF há muitos anos. Mas o Brasil é o que é.

Em algum momento Gilmar simplesmente perdeu a noção, o pudor, o senso do ridículo. E começou a fazer política abertamente.

Ele contou com o silêncio de seus colegas de Supremo, que jamais manifestaram publicamente nenhum desconforto com seu comportamento patológico e indecente.

Contou, também, com o apoio da mídia, que jamais produziu um só editorial que lembrasse aos leitores que em nenhuma sociedade avançada é tolerado um juiz tão descaradamente partidário e parcial quanto ele.

A imprensa, na verdade, se mancomunou com ele. É conhecido o episódio em que, numa reunião de pauta do Jornal Nacional, Bonner fala ao telefone com Gilmar para combinarem pautas.

A reunião estava sendo acompanhada por convidados de fora, e um deles registrou a abjeta parceria entre a Globo, por Bonner, e Gilmar. Não é à toa que Glenn Greenwald escreveu nestes dias no Twitter que já via piadas jornalísticas, mas nenhuma como o Jornal Nacional.

A relação promíscua de Gilmar com a imprensa vem de longe. Você vê no Google fotos dele abraçado, em eventos festivos, a jornalistas patronais como Merval Pereira e Reinaldo Azevedo. Foi Gilmar quem liberou a funcionária da Receita Federal que fora presa depois de ser flagrada tentando fazer sumir o processo que provava a fraude e sonegação da Globo na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.

Este meme que corre na internet deve muito a Gilmar
Este meme que corre na internet deve muito a Gilmar

Em países não dominados pela plutocracia, a imprensa e a justiça são poderes que se fiscalizam um ao outro. Na pátria de Gilmar e da Globo, os dois poderes se complementam e protegem um ao outro.
Nas sessões do STF relativas ao impeachment, Gilmar jamais perdeu a chance de proferir estridentes discursos contra o PT, mesmo quando eles eram impertinentes.

Por que o PT nunca reivindicou o impeachment de Gilmar diante de seus repetidos descalabros e desafios à lei da magistratura que prevê equidistância pelo menos aparente dos juízes, é um mistério que caberá à posteridade decifrar.

O que desde já se pode dizer é que no futuro, quando o Brasil já não for controlado pela plutocracia predadora de hoje, Gilmar vai servir de exemplo daquilo que não deve ser um juiz.

Com seu palavreado pomposo e envenenado, com seu semblante cínico e debochado de quem confia na impunidade, Gilmar arrastou a imagem do STF para o lodaçal em que ela está enterrada hoje.

Não é um juiz: é uma vergonha nacional.

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O absurdo silêncio do STF sobre Jucá explicita ainda mais o papel da corte no golpe.


 
 
Eles
Eles

A bomba de Romero Jucá repercute mundialmente, expondo a conspiração que levou ao poder a gangue de Michel Temer e Cunha —  e o STF se junta ao PSDB e a Sergio Moro num silêncio cúmplice e eloquente.

Nenhum pio dos onze ministros, nenhuma nota dura ou mole para contar que eles nunca estiveram abertos a pacto para barrar a Lava Jato, como afirmou Jucá. A conclusão, por enquanto, é de que, sim, eles estavam fechados em torno de um acordo político.

Na gravação a que a Folha teve acesso, Jucá diz a Sérgio Machado, ex-líder tucano no Senado, que conversou “com alguns ministros do Supremo”.

“Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu?”
Mais adiante, o diálogo é o seguinte:
 MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
 JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.

MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto. […]

O golpe se escancara com os dois pesos e duas medidas do Judiciário. Quando Lula chamou a corte de “acovardada” nos famosos grampos — o que é um chamego perto do estupro constitucional em que Jucá a envolveu —, Celso de Mello partiu para cima com virulência no mesmo dia.

“Foi uma reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes”, acusou o decano, acrescentando que a manifestação de Lula merecia “repulsa”.

“Ninguém, absolutamente ninguém está acima da autoridade das leis e da Constituição de nosso país, a significar que condutas criminosas perpetradas à sombra do poder jamais serão toleradas”.

Ricardo Lewandowski se posicionou com igual rapidez: “Os constituintes atribuíram a essa corte a elevada missão de manter a supremacia da Constituição e a manutenção do Estado Democrático de Direito. Tenho certeza de que os juízes desta casa não faltarão aos cidadãos brasileiros no dever.

Há poucos dias, o falastrão Gilmar Mendes fez questão de, como sempre, responder a Dilma depois que ela afirmou “estranhar” a suspensão das diligências no inquérito que investiga o senador Aécio Neves, que estão sob os cuidados do amigo.

“Posso fazer uma ironia sobre a presidente Dilma? Só vou falar sobre a presidente Dilma nos autos”, ironizou, horas depois.

Ainda que Jucá tenha blefado sobre sua influência no Supremo, o fato é que o que ele prometeu a Machado se concretizou. E o fato de que nenhum dos juízes tenha negado qualquer coisa até agora é mais um sinal de que estava tudo combinado, inclusive com os russos.

Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.