Análise da jornalista e analista política da TV Brasil, Tereza Cruvinel em seu blog nos dá uma correta interpretação dos dias sombrios em que o Brasil vive seu primeiro golpe parlamentar com a farsa do impeachment da Presidente da República.
E análise para ficar para a história e dela retiramos parte do texto:
Dilma vem sendo acossada com um grau de violência talvez só dedicado a
Getúlio. A Lula, garantiu-se a indulgência reservada a coisas
passageiras. Um ex-operário que vira fenômeno político, insiste em ser
presidente e um dia chega lá. E chegando, será até bom que governe por
quatro anos, para dizer ao mundo que neste país dos trópicos existe uma
democracia com alguma permeabilidade no acesso ao poder político. Mas
não. O homem se reelege, elege a sucessora e ela consegue reeleger-se
numa campanha em que a guerra de facções já estava declarada. A
violência contra Dilma foi maior porque incluiu a misoginia política, o
horror patriarcal ao governo de mulheres. Num estádio lotado, em plena
Copa do Mundo, a massa com a mente mandou a presidente “tomar no c”. O
mesmo fez um artista de segunda categoria como Fábio Júnior num show em
Nova York.
A violência foi maior contra Dilma porque na aliança das facções que moveram a guerra entrou uma mídia avassaladoramente mais poderosa do que em outros tempos, que acumulou poder durante a ditadura e o multiplicou com a revolução tecnológica. E até os governistas petistas ajudaram nesta obra. Nunca os meios de comunicação usaram de forma tão esmagadora seu poder contra um governante.
A violência contra Dilma foi maior
porque transcorreu numa fase de putrefação do sistema político, levando
as disputas para um Judiciário, que ao invés de arbitrar, homologou o
linchamento. E antes, permitiu que a Operação Lava Jato, promessa de
“limpeza completa” na orgia entre políticos, empresários e tetas do
Estado, se transformasse em instrumento político da facção caçadora,
arrancando delações, selecionando vazamentos, atropelando garantias.
Foi mais desavergonhada a violência do golpe contra Dilma porque perpetrada neste tempo em que os políticos perderam completamente a vergonha e aquele verniz que costumamos chamar de caráter. Nunca um governante foi tão sordidamente traído por aqueles que se lambuzaram com o poder compartilhado, pelos que adularam para morder e sugar, antes de trair. Ao ponto de um ministro deixar o cargo e correr para o plenário da Câmara para votar a favor do impeachment naquela assembleia vergonhosa da noite de 17 de abril. O emblema da traição, na História, será a sigla PMDB.
Foi sob a batuta de Eduardo Cunha, autorizados por Michel Temer e
tangidos pelo PMDB, que ressentidos, bandidos e oportunistas uniram-se
ao longo do processo e naquela noite para acertar contas com Dilma. Ela
certamente não lhes dava tapinhas nas costas nem com eles trocava
piadas. Tentou governar de modo litúrgico, embora entregando-lhes cada
vez maiores nacos de poder. Mas eles precisavam encerrar o ciclo petista
e defenestrar a mulher que ousou chegar à Presidência e, no cargo, os
olhou de frente, com aquela altivez insuportável, dizendo sempre o que
pensava.
Por que não a acusaram de outros crimes, por que não tentaram fazer o
impeachment com base nas revelações da Lava Jato, onde o PT e os
partidos com quem dividiu o poder conquistado em 2002 boiaram na mesma
lama? A pergunta foi feita recentemente por Joaquim Barbosa numa
postagem em rede social. “Descubra você mesmo “, dizia ele. Eduardo
Cunha, ao aceitar o pedido de impeachment, excluiu acusações que
poderiam arrastar boa parte dos caçadores. Acolheu apenas as duas
acusações por crimes pelos quais apenas ela poderia responder: pedaladas
e decretos. Se entrasse, por exemplo, a compra de Pasadena, outros
agentes entrariam na roda. Inclusive do PMDB. E assim, recortando
acusações, torcendo leis, distorcendo fatos, destroncando princípios
constitucionais e garantias, escreveu-se a trama que hoje terá seu
penúltimo e mais dramático capítulo, o do afastamento do cargo.
Será mais violento o golpe contra Dilma porque foi construído com sofisticação, revestido de legalidade, de constitucionalidade, num agônico rito legitimado pelo STF. Porque envolvido neste véu que pode enganar os contemporâneos mas não iludirá a História, que não tem apenas olhos de ver.
Texto completo: http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/231397/Golpe-contra-Dilma-%C3%A9-de-todos-o-mais-violento.htm