O senador Roberto Requião (PMDB-PR) assume posição de frente contra o golpe no Senado e na Câmara e divulga carta aberta que o site Brasil 247 divulgou na íntegra. Diz Requião:
"Se essa posição ideológica prevalecer - e é certo que prevalecerá em caso de impeachment - o Brasil afundará numa crise sem precedentes, que arrastará Estados numa avalanche de desorganização fiscal e inadimplência, afetando profundamente o setor privado. Nada será garantido. Ciclos sucessivos de depressão estrangularão as contas públicas em ajustes recorrentes, estrangulando gastos públicos e salários, inclusive de aposentados e pensionistas. Em suma, todos, menos os ricos e a mídia, pagaríamos pelo impeachment".
O texto
na íntegra:
"Carta
aos Governadores e Deputados Federais,
À
margem de ideologias e de querelas político-partidárias, o governo ou governos
anunciados para depois do impeachment prenunciam consequências econômicas e
sociais desastrosas para a sociedade brasileira. Já vivemos a maior crise
econômica de nossa história, com uma contração da economia de cerca de 8% em
dois anos, e a perspectiva concreta de taxas de desemprego sem precedentes levando
a um progressivo estágio de degeneração social com conflitos no campo e nas
cidades, e de convulsões sociais generalizadas.
A
maioria dos Estados está literalmente falida. Salários de servidores estão
sendo cortados ou adiados, obras públicas estão sendo paralisadas, funções
fundamentais dos governos estaduais tem sido canceladas. É preciso reconhecer
com franqueza que a crise se deve sobretudo à política econômica adotada a
partir de 2015 na forma de um ajuste fiscal absolutamente injustificável no contexto
de uma depressão econômica. Embora involuntariamente, a operação Lava Jato
também contribuiu para o agravamento da crise.
Mas
o impeachment, isoladamente, não resolverá esses problemas. Da mesma forma a
derrota do impeachment, sem outras consequências, não os resolverá. O fato é
que temos uma estreita margem de manobra entre uma alternativa e outra. A
derrota do impeachment dará à Presidenta Dilma uma oportunidade de rever sua
política conforme a demanda universal daqueles que lhe dão apoio. A aprovação
do impeachment, por sua vez, pela palavra de seus proponentes principais,
significará um aprofundamento do ajuste depressivo.
A
Ponte para o Futuro pregada pelo PMDB de Temer é um pacto regressivo que visa a
destruir os direitos sociais básicos conquistados pelo povo brasileiro em 88.
Mais grave ainda é a política fiscal anunciada pelo senador José Serra, sob
forma de projeto de lei congelando o teto da dívida pública e portanto
impedindo a realização de investimentos deficitários em tempos de recessão e
depressão. A consequência direta disso seria a quebra definitiva dos Estados,
estrangulados que estão pela draconiana Lei de Responsabilidade Fiscal, que ele
considera cláusula pétrea.
A
síntese da crise se manifesta na questão fiscal, ainda manejada segundo os
cânones neoliberais, de interesse exclusivo dos especuladores financeiros. A
desorganização orçamentária do Governo federal e dos Estados reflete a quebra
da soberania nacional em questões financeiras. A política econômica brasileira,
com exceção dos anos 2009 e 2010, renunciou voluntariamente ao crescimento. A
despeito de recessão e da depressão, nos recusamos a recorrer ao investimento
deficitário e ao aumento temporário da dívida, embora sabendo que, numa
depressão, a única saída é recorrer ao déficit público temporário, até que a
economia volte a crescer de novo.
Se
essa posição ideológica prevalecer - e é certo que prevalecerá em caso de
impeachment - o Brasil afundará numa crise sem precedentes, que arrastará
Estados numa avalanche de desorganização fiscal e inadimplência, afetando
profundamente o setor privado. Nada será garantido. Ciclos sucessivos de
depressão estrangularão as contas públicas em ajustes recorrentes,
estrangulando gastos públicos e salários, inclusive de aposentados e pensionistas.
Em suma, todos, menos os ricos e a mídia, pagaríamos pelo impeachment.
Roberto
Requião, Senador da República
José
Carlos de Assis, economista e professor"