“Se chamarem Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda, ele vai” (e outras coisas que você precisa saber sobre o banqueiro mais poderoso do Brasil)

Armínio Fraga. Quem é mesmo? Ex-diretor do Banco Central, no segundo
mandato de Fernando Henrique. É o que a maioria dos brasileiros que
lembra de seu nome sabe sobre ele. É muito pouco, pela sua importância
nesse momento. Hora de atualizar.
Para os empresários e banqueiros do Brasil, Armínio é o gestor ideal
da política econômica. É a principal razão porque apoiam
preferencialmente Aécio, que anunciou formalmente Fraga como seu
Ministro da Fazenda, caso vença a eleição. A campanha de Marina Silva
sabe. Por isso seu principal conselheiro econômico, Eduardo Gianetti,
vem dando entrevistas dizendo que os programas de governo de PSB e PSDB
se igualam, em termos de política econômica. Gianetti também vem dizendo
que não quer ocupar nenhum cargo em um eventual governo Marina.
Reportagem do jornal Valor Econômico reforça a importância de Armínio
no cenário. Assinada por Cristiano Romero e Talita Moreira, cita várias
fontes que dizem a mesma coisa. Os banqueiros preferem Aécio, por causa
de Armínio. Como o tucano não decola, eles estão "marinando". "O
mercado já vê Marina com completo conforto",disse ao Valor um ex-diretor
do Banco Central. "Não se vê diferença entre o grupo de Marina e o do
PSDB em matéria de assuntos econômicos".
O que faz de Armínio Fraga tão querido por banqueiros, empresários,
candidatos? Simplificando, três coisas. Quem ele defende. O que ele
defende. E o que declara que fará, no governo.
Armínio é sócio e gestor do fundo Gávea, que fundou em 2003, já no
governo Lula. Trata-se de um fundo de investimentos que gere um
patrimônio de R$ 16 bilhões. De quem? Não se sabe. Pela legislação, os
fundos não precisam revelar quem investe neles.
Uma parte desses investimentos é em outros investimentos, “papel”,
como se diz no mercado. Outra parte é em ativos mais sólidos, que a
gente consegue entender - uns 60% do total, segundo análise de 2013 da
Standard & Poor´s.
A Gávea já investiu na Arcos Dourados, empresa que opera o McDonald’s
no Brasil, e depois vendeu. É sócia disso e daquilo. Tempos atrás
tentava comprar os Laboratórios Fleury e a GVT. Investiu na Camisaria
Colombo, os alimentos Camil, os óculos Chili Beans, Odebrecht, a
locadora de carros Unidas, em projetos imobiliários.
Quem controla o fundo Gávea? Não é mais Armínio. Em 2010 ele vendeu o
controle do fundo para o J.P. Morgan, que hoje é dono de 55%. O JP
Morgan é o maior banco dos Estados Unidos, com ativos de mais de US$ 2,5
trilhões. Esteve muito envolvido em uma colorida coleção de atividades
ilícitas, incluindo os escândalos da Enron, Worldcom, a falência do
condado de Jefferson, no Alabama, manipulação do mercado de energia, o
escândalo dos empréstimos Subprime em 2008, e o caso do golpista Bernie
Madoff. Pagou bilhões em multas por essas aprontadas, nos últimos anos.
Segue firme e forte. Sem vergonhice não é privilégio tupi.
Um Ministro da Fazenda tem acesso a informações confidenciais. Toma
decisões que afeta a economia da nação. Te parece um pouco estranho que
uma pessoa possa ao mesmo tempo ser Ministro da Fazenda e banqueiro -
mais, sócio minoritário do JP Morgan, o maior banco americano? Você não
está sozinho.
Para Armínio, defender os interesses do JP Morgan é defender seus
próprios interesses. O que beneficia seus negócios, beneficiará os de
outros na sua posição.
Recentemente escrevi neste blog sobre Neca Setubal,
coordenadora do governo de Marina e acionista do Itaú, que deve R$ 18,7
bilhões ao Brasil. É um conflito de interesses claro, e assim foi
reconhecido - tanto que rendeu 700 mil leituras, e 64 mil "likes" no
Facebook, por enquanto.
Mas Neca, há que dizer, é de fato educadora, e é de fato influência
modernizadora no pensamento de Marina, do ponto de vista dos costumes. É
pró-aborto, por uma legislação de drogas civilizada, e pró-casamento
gay, que conseguiu incluir no programa de governo do PSB. Seu papel no
Itaú não é a esculhambação que seria Armínio manter sua posição no Gávea
e assumir o Ministério da Fazenda. Neca é acionista do Itaú, não
gestora. O Itaú é um banco brasileiro, responde à legislação brasileira.
Fraga é sócio minoritário do maior banco dos Estados Unidos; seu
dinheiro pessoal, e os ativos do JP Morgan no Brasil, estão sob sua
responsabilidade.
Armínio afirma agora à Veja que venderia suas cotas no Gávea, caso vá
assumir um cargo no governo. Colocaria todos seus investimentos
pessoais em uma "conta cega", à qual não teria acesso até deixar o
governo. É rotina em executivos americanos que vão para o governo, e
nunca impediu ninguém de fazer suas estripulias (por exemplo Henry
Paulson, CEO do Goldman Sachs, e secretário do Tesouro).
A segunda razão porque Armínio é o favorito do grande capital é
derivada de suas atividades como banqueiro de investimentos. No Brasil,
muitas empresas que fabricam sabonete e torneira, e vendem carro e
hamburguer e tal, lucram muito mais no mercado financeiro do que nas
suas atividades supostamente principais. Dá muito menos trabalho
multiplicar a grana no banco. Frequentemente, grana pública, que as
empresas tomam do governo, via BNDES, BB e Caixa. Quanto aos bancos,
mais fácil ainda: emprestam diretamente ao governo.
Armínio já declarou várias vezes o que pretende fazer como novo
Ministro da Fazenda. Vai deixar o câmbio flutuar, vai aumentar as
tarifas públicas, vai dar uma cacetada na inflação - subindo os juros.
Juros mais altos, mais lucro pra Armínio, e pra quem tem bastante
dinheiro rendendo no banco. É a festa dos rentistas, e ainda menos
estímulo para as empresas aplicarem em atividades produtivas, que geram
emprego e renda pro povão. Considerando que os bancos já estão com uma
dinheirama represada (que o governo Dilma gentilmente lhes cedeu), vêm
aí tempos difíceis. Imagine só: tivemos durante anos crédito super
facilitado, e agora que quase todo brasileiro tem dívida, os juros
dessas dívidas vão aumentar...
A terceira razão porque Armínio é tão querido pelo grande capital é
por causa de suas atividades políticas. Costumam dizer que ele é um
grande “técnico”, “gestor de primeira” etc. Ninguém ressalta que Armínio
é também um militante da política. É que boa dos barões da imprensa
está junta com Armínio, em uma instituição criada para defender os
ideais e interesses de sua classe.
Armínio é co-fundador e doador do Instituto Millenium. É o
quartel-general do antipetismo, que promove em seminários, escolas,
redações, redes sociais. Articula, influi, inspira e, para muitos,
conspira. É casa da maior parte dos colunistas conservadores mais
conhecidos. Alguns ferozes, como os blogueiros da Veja, Rodrigo
Constantino e Reynaldo Azevedo.
Quem empresas são as principais apoiadoras do Millenium? Os grupos
Abril e Gerdau. Armínio está listado no site do Instituto como um de
seus mantenedores, ao lado de nomes como Nelson Sirotsky (RBS), João
Roberto Marinho (Globo) e Fábio Barbosa (Abril).
Barbosa é protagonista de um boato que circulou esses dias pelas
redações. Contando com a confiança do mercado, e um histórico ligado a
causas ambientalistas, seria o nome mais forte para assumir o Ministério
da Fazenda num governo Marina. Fábio é ex-presidente dos Bancos Real e
Santander, e da Federação Brasileira dos Bancos. Ah, e ex-integrante do
Conselho de Administração da Petrobras, inclusive na época do tal
escândalo na compra da refinaria de Pasadena.
O que Fábio faz nos dias de hoje? É presidente do Conselho de
Administração do grupo Abril, e desde a semana passada, responsável
direto pela linha editorial da revista Veja. Qual a diferença entre
Barbosa e Fraga? No que interessa, nenhuma.
Dilma tem as qualidades e defeitos que você, eleitor, decidir. Mas
sabemos quem é, o que fez e faz, e podemos imaginar o que fará, e em
quem se apoiará, caso vença. É importante, antes de decidir seu voto,
cada um se informar com o máximo de detalhes sobre os planos dos outros
candidatos para a economia brasileira, que nos afeta a todos.
Pense você em votar em Marina ou Aécio, é importante conhecer melhor
Armínio Fraga. Em entrevista a O Globo, Armínio afirma que é "100%
Aécio" e não aceitaria um cargo no governo de Marina: "respeito muito a
história de vida dela, mas não considero ir para o governo." A
reportagem do Valor de hoje cita um experiente banqueiro, que disse ao
jornal: "Se Marina chamar o Armínio, ele vai".
Possível. Mas nem é necessário. Em caso de vitória de Marina, se não
for Armínio, será um igual a ele, Barbosa ou outro. Da mesma turma,
pelas mesmas razões. E por isso, Armínio Fraga é o banqueiro mais
poderoso do Brasil.
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