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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Esse é o Armínio...

Do Blog de André Forastieri no R7:


“Se chamarem Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda, ele vai” (e outras coisas que você precisa saber sobre o banqueiro mais poderoso do Brasil)

arminio ok Se Marina chamar Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda, ele vai (e outras coisas que você precisa saber sobre o banqueiro mais poderoso do Brasil)

Armínio Fraga. Quem é mesmo? Ex-diretor do Banco Central, no segundo mandato de Fernando Henrique. É o que a maioria dos brasileiros que lembra de seu nome sabe sobre ele. É muito pouco, pela sua importância nesse momento. Hora de atualizar.

Para os empresários e banqueiros do Brasil, Armínio é o gestor ideal da política econômica. É a principal razão porque apoiam preferencialmente Aécio, que anunciou formalmente Fraga como seu Ministro da Fazenda, caso vença a eleição. A campanha de Marina Silva sabe. Por isso seu principal conselheiro econômico, Eduardo Gianetti, vem dando entrevistas dizendo que os programas de governo de PSB e PSDB se igualam, em termos de política econômica. Gianetti também vem dizendo que não quer ocupar nenhum cargo em um eventual governo Marina.

Reportagem do jornal Valor Econômico reforça a importância de Armínio no cenário. Assinada por Cristiano Romero e Talita Moreira, cita várias fontes que dizem a mesma coisa. Os banqueiros preferem Aécio, por causa de Armínio. Como o tucano não decola, eles estão "marinando". "O mercado já vê Marina com completo conforto",disse ao Valor um ex-diretor do Banco Central. "Não se vê diferença entre o grupo de Marina e o do PSDB em matéria de assuntos econômicos".

O que faz de Armínio Fraga tão querido por banqueiros, empresários, candidatos? Simplificando, três coisas. Quem ele defende. O que ele defende. E o que declara que fará, no governo.

Armínio é sócio e gestor do fundo Gávea, que fundou em 2003, já no governo Lula. Trata-se de um fundo de investimentos que gere um patrimônio de R$ 16 bilhões. De quem? Não se sabe. Pela legislação, os fundos não precisam revelar quem investe neles.

Uma parte desses investimentos é em outros investimentos, “papel”, como se diz no mercado. Outra parte é em ativos mais sólidos, que a gente consegue entender - uns 60% do total, segundo análise de 2013 da Standard & Poor´s.

A Gávea já investiu na Arcos Dourados, empresa que opera o McDonald’s no Brasil, e depois vendeu. É sócia disso e daquilo. Tempos atrás tentava comprar os Laboratórios Fleury e a GVT. Investiu na Camisaria Colombo, os alimentos Camil, os óculos Chili Beans, Odebrecht, a locadora de carros Unidas, em projetos imobiliários.

Quem controla o fundo Gávea? Não é mais Armínio. Em 2010 ele vendeu o controle do fundo para o J.P. Morgan, que hoje é dono de 55%. O JP Morgan é o maior banco dos Estados Unidos, com ativos de mais de US$ 2,5 trilhões. Esteve muito envolvido em uma colorida coleção de atividades ilícitas, incluindo os escândalos da Enron, Worldcom, a falência do condado de Jefferson, no Alabama, manipulação do mercado de energia, o escândalo dos empréstimos Subprime em 2008, e o caso do golpista Bernie Madoff. Pagou bilhões em multas por essas aprontadas, nos últimos anos. Segue firme e forte. Sem vergonhice não é privilégio tupi.

Um Ministro da Fazenda tem acesso a informações confidenciais. Toma decisões que afeta a economia da nação. Te parece um pouco estranho que uma pessoa possa ao mesmo tempo ser Ministro da Fazenda e banqueiro - mais, sócio minoritário do JP Morgan, o maior banco americano? Você não está sozinho.

Para Armínio, defender os interesses do JP Morgan é defender seus próprios interesses. O que beneficia seus negócios, beneficiará os de outros na sua posição.

Recentemente escrevi neste blog sobre Neca Setubal, coordenadora do governo de Marina e acionista do Itaú, que deve R$ 18,7 bilhões ao Brasil. É um conflito de interesses claro, e assim foi reconhecido - tanto que rendeu 700 mil leituras, e 64 mil "likes" no Facebook, por enquanto.

Mas Neca, há que dizer, é de fato educadora, e é de fato influência modernizadora no pensamento de Marina, do ponto de vista dos costumes. É pró-aborto, por uma legislação de drogas civilizada, e pró-casamento gay, que conseguiu incluir no programa de governo do PSB. Seu papel no Itaú não é a esculhambação que seria Armínio manter sua posição no Gávea e assumir o Ministério da Fazenda. Neca é acionista do Itaú, não gestora. O Itaú é um banco brasileiro, responde à legislação brasileira. Fraga é sócio minoritário do maior banco dos Estados Unidos; seu dinheiro pessoal, e os ativos do JP Morgan no Brasil, estão sob sua responsabilidade.

Armínio afirma agora à Veja que venderia suas cotas no Gávea, caso vá assumir um cargo no governo. Colocaria todos seus investimentos pessoais em uma "conta cega", à qual  não teria acesso até deixar o governo. É rotina em executivos americanos que vão para o governo, e nunca impediu ninguém de fazer suas estripulias (por exemplo Henry Paulson, CEO do Goldman Sachs, e secretário do Tesouro).

A segunda razão porque Armínio é o favorito do grande capital é derivada de suas atividades como banqueiro de investimentos. No Brasil, muitas empresas que fabricam sabonete e torneira, e vendem carro e hamburguer e tal, lucram muito mais no mercado financeiro do que nas suas atividades supostamente principais. Dá muito menos trabalho multiplicar a grana no banco. Frequentemente, grana pública, que as empresas tomam do governo, via BNDES, BB e Caixa. Quanto aos bancos, mais fácil ainda: emprestam diretamente ao governo.

Armínio já declarou várias vezes o que pretende fazer como novo Ministro da Fazenda. Vai deixar o câmbio flutuar, vai aumentar as tarifas públicas, vai dar uma cacetada na inflação - subindo os juros. Juros mais altos, mais lucro pra Armínio, e pra quem tem bastante dinheiro rendendo no banco. É a festa dos rentistas, e ainda menos estímulo para as empresas aplicarem em atividades produtivas, que geram emprego e renda pro povão. Considerando que os bancos já estão com uma dinheirama represada (que o governo Dilma gentilmente lhes cedeu), vêm aí tempos difíceis. Imagine só: tivemos durante anos crédito super facilitado, e agora que quase todo brasileiro tem dívida, os juros dessas dívidas vão aumentar...

A terceira razão porque Armínio é tão querido pelo grande capital é por causa de suas atividades políticas. Costumam dizer que ele é um grande “técnico”, “gestor de primeira” etc. Ninguém ressalta que Armínio é também um militante da política. É que boa dos barões da imprensa está junta com Armínio, em uma instituição criada para defender os ideais e interesses de sua classe.

Armínio é co-fundador e doador do Instituto Millenium. É o quartel-general do antipetismo, que promove em seminários, escolas, redações, redes sociais. Articula, influi, inspira e, para muitos, conspira. É casa da maior parte dos colunistas conservadores mais conhecidos. Alguns ferozes, como os blogueiros da Veja, Rodrigo Constantino e Reynaldo Azevedo.

Quem empresas são as principais apoiadoras do Millenium? Os grupos Abril e Gerdau. Armínio está listado no site do Instituto como um de seus mantenedores, ao lado de nomes como Nelson Sirotsky (RBS), João Roberto Marinho (Globo) e Fábio Barbosa (Abril).

Barbosa é protagonista de um boato que circulou esses dias pelas redações. Contando com a confiança do mercado, e um histórico ligado a causas ambientalistas, seria o nome mais forte para assumir o Ministério da Fazenda num governo Marina. Fábio é ex-presidente dos Bancos Real e Santander, e da Federação Brasileira dos Bancos. Ah, e ex-integrante do Conselho de Administração da Petrobras, inclusive na época do tal escândalo na compra da refinaria de Pasadena.

O que Fábio faz nos dias de hoje? É presidente do Conselho de Administração do grupo Abril, e desde a semana passada, responsável direto pela linha editorial da revista Veja. Qual a diferença entre Barbosa e Fraga? No que interessa, nenhuma.

Dilma tem as qualidades e defeitos que você, eleitor, decidir. Mas sabemos quem é, o que fez e faz, e podemos imaginar o que fará, e em quem se apoiará, caso vença. É importante, antes de decidir seu voto, cada um se informar com o máximo de detalhes sobre os planos dos outros candidatos para a economia brasileira, que nos afeta a todos.

Pense você em votar em Marina ou Aécio, é importante conhecer melhor Armínio Fraga. Em entrevista a O Globo, Armínio afirma que é "100% Aécio" e não aceitaria um cargo no governo de Marina: "respeito muito a história de vida dela, mas não considero ir para o governo." A reportagem do Valor de hoje cita um experiente banqueiro, que disse ao jornal: "Se Marina chamar o Armínio, ele vai".

Possível. Mas nem é necessário. Em caso de vitória de Marina, se não for Armínio, será um igual a ele, Barbosa ou outro. Da mesma turma, pelas mesmas razões. E por isso, Armínio Fraga é o banqueiro mais poderoso do Brasil.

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