Da Folha de S. Paulo via Luís Nassif Online:
Por Janio de Freitas, Folha de S. Paulo
As quedas de Dilma Rousseff e Aécio Neves têm várias causas, não só o
alto ponto de partida de Marina Silva. Ainda que com pesos diferentes,
um dos principais fatores daquelas quedas é o mesmo em uma em outra: as
duas campanhas parecem um desperdício de possibilidades que se volta
contra cada um dos candidatos.
O caso de Dilma, nesse sentido, tem maiores consequências negativas
para a candidatura. Por maior que seja o esforço de negá-lo, o governo
tem muito o que mostrar em resultados importantes do seu trabalho.
Grande parte pouco conhecida e mal conhecida, ou desconhecida mesmo.
Apesar dos gastos em publicidade. Comunicar-se com a opinião pública,
necessidade essencial de qualquer governo em nosso tempo, revelou-se a
mais ampla incapacidade do governo Dilma. E aparentemente nem ao menos
percebida pelos interessados ao longo dos seus três anos e tanto.
Em termos pessoais, é notório que o problema começa na própria Dilma.
Mas para isso, que não é incomum, existem os ministros bem-falantes, os
assessores, os marqueteiros, o treinamento. Se, no economismo obsessivo
dos meios de comunicação brasileiros, ao menos Guido Mantega fosse
melhor do que Dilma, mesmo que não chegasse à conversa de camelô de
Antonio Palocci, o governo conseguiria neutralizar a fabricação do
pessimismo. Feita contra Dilma e o governo, mas, como bala perdida, com
prejuízos sobretudo para o país.
O horário eleitoral seria a segunda oportunidade da neutralização.
Mas a grande vantagem de Dilma, em tempo disponível, desperdiça-se em
uma confusão de cenas e intervenções inócuas, longa e cansativa falta de
objetividade entremeada, não mais do que isso, de inserções da
candidata. A anticomunicação. Ao custo de milhões. Se, mesmo sem grandes
bossas, os programas de rádio e TV se limitassem a expor, com alguma
inteligência e clareza, o que Dilma acha que tem a mostrar do seu
governo, e que valeria a pena prosseguir, o objetivo didaticamente
eleitoral seria muito mais alcançável. Mas a campanha parece contra a
candidata: não atrai, desinteressa.
Aécio Neves dedicou sua campanha ao desnecessário: "desconstruir"
Dilma. Isto a imprensa, a TV e o rádio já faziam por ele, desde muito
antes de iniciar-se a campanha, e com muito mais eficácia. Aécio só
falava contra Dilma, contra a Petrobras, contra o governo. Foi mandado
para o subsolo com tanta facilidade porque não houve um motivo seu para
preservar fidelidades. O grosso dos apoios que tinha, é o que se vê,
eram recusas aos outros concorrentes.
Não há mais dúvida de que o programa governamental de Aécio, de fato,
não é coisa que se diga ao eleitorado. É para conversa de salão,
reuniões na Fiesp e na federação dos bancos. Nada pensado de
interessante para dizer ao eleitorado, Aécio tornou-se o vazio
eleitoral, feito pela própria campanha.
Com Marina Silva foi mais fácil: para estar em cima, não precisou
fazer campanha, não precisou dizer o que pensa. Mas como, para seguir no
alto, precisa fazer campanha, começou a dizer o que não pensa.
BYE-BYE
De Arminio Fraga, guru econômico de Aécio Neves, na Folha: "Não vamos arrochar salário nem assassinar velhinhas".
Reparei que, na salvaguarda, ele não incluiu os velhinhos.