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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Duas perguntas e uma resposta...

Há coisas na vida política que podem ser respondidas em bloco, com uma só resposta para vários questionamentos. É o caso, por exemplo, da campanha aberta contra a Petrobras que vem sendo mantida a ferroe fogo pela direita neoliberal dos tucanos e assemelhados socialistas com apoio irrestrito da Mídia da Casa Grande...

O Blog "Causa Operária" publica um entrevista com Fernando Siqueira, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras que mata com uma resposta, duas perguntas sobre o tema: 



  


Por trás da CPI
"O cartel internacional quer tirar a Petrobras do caminho para poder ficar com o pré-sal"

Entrevista com Fernando Siqueira, vice-presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras


Causa Operária: Qual é a sua opinião sobre a CPI da Petrobras, que congressistas, ligados principalmente à direita, estão tentando aprovar?

Fernando Siqueira: São dois interesses em jogo, o primeiro é o da oposição que quer sangrar o governo e também atacar a Petrobras que é uma forma de aparecer. O outro interesse ainda maior é o do cartel internacional que quer também enfraquecer a Petrobras porque eles querem o pré-sal.
Esse cartel que já teve 90% do controle das reservas mundiais agora tem menos de 5%, portanto, está na iminência de desaparecer. E são as maiores empresas do mundo. Então, o cartel quer realmente tirar a Petrobras do caminho para poder ficar com o pré-sal. E veja que já estão falando no leilão do Campo de Franco que é um Campo que a Petrobras comprou do governo para a produção.
A oposição quer que o governo fique na defensiva e eles, politicamente, vão se fortalecer com isso. E o cartel, os EUA, a Inglaterra, que tem avanços muito pequenos e estão numa insegurança energética brutal, querem o petróleo brasileiro porque o petróleo é hoje a principal fonte de fornecimento do progresso norte-americano, inglês, europeu, e asiático. Todos eles estão sem reservas.
Eu tenho um slide que eu tirei da Agência Internacional de Informações Energéticas Americana, que diz que em 2040 os EUA produzirão 1/3 do seu consumo, e dentro dessa produção tem óleo e gás convencional, óleo e gás da recuperação dos campos antigos, e tem o shale gas, ou o gás de xisto que foi decantado como uma maravilha e que os EUA se transformaria na Arábia Saudita etc. etc. Eu desde o começo estou dizendo que isso não existe, que é uma propaganda para sair do sufoco. O gráfico que eu consegui diz claramente que 2040 a produção norte-americana vai ter 1/3 do seu consumo e o gás de xisto vai ser um 1/3 desta produção. Portanto, em 2040 o gás de xisto vai será o responsável por apenas 1/6 do que os EUA consomem. Então, se os EUA em 2040 irão produzir 1/3, terão de importar 2/3 do que consomem. Provavelmente, considerando os aumentos de consumo etc., os EUA que consomem dois milhões de barris por dia podem passar a consumir 27 milhões em 2040. Se consomem 27, produzem nove, terão de importar 18 milhões de barris por dia. 18 milhões por dia, a 100 dólares o barril vai dar um trilhão e 800 por ano. Isso daria um impacto financeiro imenso e mais necessidade de garantir essas reservas. Então como o lutam pelo controle do Oriente Médio, já controlam a Arábia Saudita, tentaram controlar o Irã, invadiram o Iraque... na América Latina reativaram a 4° Frota Naval e colocaram aqui no Atlântico Sul. Para quê? Segundo o Bush, para dar garantia, proteger o Atlântico sul. Mas aqui já tem o Brasil e a Argentina. No entanto, a Argentina já tinha nacionalizado o seu petróleo... então essa 4° Frota Naval colocada no Atlântico Sul ferindo a soberania brasileira e argentina, é para pressionar o governo brasileiro para entregar nosso petróleo. É uma estratégia de guerra de intimidação como sempre os EUA fazem com os países que têm petróleo.
Toda essa campanha, por exemplo, essa refinaria que foi denunciada, nós da AEPET como conselheiros [na diretoria da empresa] em 2012 já havíamos denunciado e não houve tanta consequência. Porque o [Sérgio] Gabriele que foi o presidente da Petrobras na época foi ao senado e mostrou que era um bom negócio, porque é uma refinaria estrategicamente bem colocada nos EUA. A ideia era a Petrobras vender o óleo de Marlim [na Bacia de Campos-RJ], para lá e refinar. O que seria muito melhor do que exportar petróleo bruto.
Mas o Jorge Gerdal e o Fábio Colete Barbosa, um é presidente do grupo Gerdal, o outro foi presidente da Febraban [Federação Brasileira de Bancos] hoje está na editora Abril se não me engano, disseram ter lido [o contrato de compra de Passadena] e que era um bom negócio, que era parte do plano estratégico da Petrobras; era um negocio bom porque a refinaria é em Houston, centro petroleiro dos EUA. Então como o negócio era bom e tinha o parecer do City Bank etc. acabou aprovado. O que o presidente da AEPET denunciou foi que o preço inicial era muito alto [exatamente o que está falando agora a imprensa]. A Astra Oil [empresa belga] comprou por 42 milhões e vendeu metade para a Petrobras por 360 milhões. Só que agora a gente está descobrindo que na realidade não foi 360, foi 190 milhões sendo que 170 era produto, era matéria prima, era petróleo que tinha dentro da refinaria que depois foi vendido. Mas mesmo assim se suspeita que tenha tido um preço maior do que o correto. Silvio [Sinedino], nosso presidente, denunciou para que a Petrobras tivesse uma sindicância. Mas em 2012 o presidente do Conselho de Administração era o Guido Mantega, e ele não quis nada. Achou melhor mudar de assunto e não levou adiante. Lamentavelmente. Porque nós temos todo o interesse que qualquer coisa, qualquer denúncia contra a Petrobras seja apurada. Nós temos lutado pela transparência da empresa porque infelizmente ela é aparelhada por partidos da base governamental. Então nós temos todo interesse na transparência para que seja tudo feito com a maior lisura possível. Mas infelizmente o Guido Mantega não tomou providência nenhuma. O assunto, depois que o Gabriele foi ao Congresso e mostrou, não a Petrobras, mas o ex-presidente da Petrobras que foi lá defender o acordo, parece que ele convenceu e o assunto morreu.

Então seja como for os senadores deram o aval...

O assunto ficou esquecido e agora o Estadão resolveu levantar novamente com esses dois objetivos. Primeiro, a oposição faturar em cima da Dilma e o cartel internacional fazer sangrar a Petrobras.
A gente acha que o investigador mais confiável Ministério Público. E o MP está realmente investigando o processo. Então essa CPI é questão de palanque eleitoral. A CPI infelizmente é uma instituição que foi criada com um ótimo objetivo, mas que está sendo deturpada na prática com interesses eleitoreiros etc.

Causa Operária: O que está por trás das transações e das perdas relacionadas com a refinaria de Passadena, nos Estados Unidos?

Fernando Siqueira: Eu acho que as perdas não foram essas que estão falando. Inclusive o jornal Estadão deturpou a declaração do presidente da Astra, que disse mais ou menos o seguinte: “considerando que os furacões e as intempéries estão atrapalhando a produção das refinarias, e considerando que o consumo está aumentando (isso foi dito em 2007), a compra dessa refinaria era o negócio do século”.
E aí o Estadão pegou essa parte final e disse que a venda para a Petrobras foi o negócio do século. Vejam como a mídia manipula. O presidente da Astra disse que “a compra foi o negocio do século” porque foi no momento certo. E o Estadão colocou a fala dele como se fosse “a venda para a Petrobras”. Então há muita manipulação de números nessa compra e eu acho que em relação à entrega pelo governo do Campo de Libra isso aí não é nada. Porque, o que o governo vem fazendo? O governo vem obrigando a Petrobras a comprar combustível, por exemplo, gasolina a R$ 1,72 o litro e vender para sua concorrente por R$ 1,42 para que elas não aumentem o preço ao consumidor, para não aumentar a inflação. Então a Petrobras vem perdendo 8 bilhões de reais por ano com essa obrigação absurda que prejudica seus acionistas, principalmente o próprio governo. Porque na medida em que a Petrobras perde dinheiro e dá subsidio a seus concorrentes, e o preço da gasolina não aumenta; o consumo aumenta, em detrimento do álcool, então a indústria sulco alcooleira está perdendo produção, perdendo 100 mil empregos desde que esse processo começou. O governo está perdendo uma media de 30 milhões por ano, a Petrobras está perdendo 22 bilhões desde que esse processo começou, o que é mais do que ela poderia pagar pelo Campo de Libra; o governo reduziu a zero a CIT, Contribuição por Transportes; e entregou para o cartel internacional 60% do maior campo do pré-sal do mundo que é o Campo de Libra. A Petrobras havia comprado do governo pela seção onerosa. Foram sete campos. Furou o primeiro o Franco e achou 10 milhões de barris, era para achar três. E furou o campo de libra e achou 15 milhões de barris. Então, nesses sete blocos que comprou do governo achando que seria uma reserva de 5 milhões achou nos dois primeiros 25 milhões de barris.
Pela lei o que se deve fazer é negociar com a Petrobras a diferença. Porque o artigo segundo da lei de petróleo diz o seguinte: “áreas estratégicas são aquelas que têm baixo risco e alta produtividade”. Esses dois Campos têm risco zero porque já foram descobertos. Aí o artigo 12 da lei diz: “áreas estratégicas tem que ser negociadas com a Petrobras”. Então, por lei, o governo tinha que negociar com um contrato partilha Petrobras. O governo tirou o campo de Libra da Petrobras que é uma estrutura contigua e fez um leilão. Um leilão fajuto porque não teve concorrência. O único grupo ganhou o leilão, e 60% do Campo foi para o exterior. 40% para a Shell total que é uma empresa única e 20% para uma empresa chinesa CNOOC e CNPC que é uma empresa que se relaciona com a Shell. Tirou-se do povo brasileiro 60% do maior campo de petróleo do pré-sal. Isso que é um escândalo. Isso que tinha que repercutir na mídia. Mas ao invés disso, a rede Globo fez uma reportagem no Jornal Nacional, com umas contas para dizer, enganar o povo brasileiro, dizendo que o Brasil ia ficar com 85% do campo de libra. Uma mentira deslavada. Eu faço a mesma conta e chego a 40%, porquê? Porque eles manipularam. É fácil fazer as contas, mas um pouco complicado de explicar. Eu vou tentar. Por exemplo, o imposto não incide sobre o óleo total. E eles colocam lá 18% de imposto. Nas contas, o imposto de renda e outros incidem sobre o lucro da empresa que é 20 e pouco por cento do petróleo produzido. Então, de 18% de 20 dá 5%. Não sei se ficou claro, mas aplicam o percentual na base de cálculo errada. Da mesma maneira que falam que os 41,65% que foi o percentual mínimo que por lei tem de ser estabelecido, não se aplica sobre o petróleo produzido, e sim sobre a parte que cabe à concessionária, a empresa produtora. E esse valor não é 41,65%, e sim 18%. É complicado para explicar, mas resumindo, ao invés de você ter 18% de impostos, você tem 4,5% ou 5,4%; ao invés de ter 41,65%, do total produzido, tem na verdade tem 18,4%. Fazendo essas contas não se chega a 85% como disse a Dilma Rousseff e como tentou mostrar a Globo. Chega-se a 40%. Então, o Brasil vai ficar com 40%.
Aliás, não tem nenhuma razão para acreditar que os estrangeiros compraram 60% do Campo de Libra e vão levar só 15% deixando 85% para o País. Não tem sentido. Não cabe na cabeça de ninguém que os gringos que pressionaram o governo para entregar esse campo iam comprar 60% e levar 15%.

Entrevista completa em: http://www.pco.org.br/entrevista-da-semana/o-cartel-internacional-quer-tirar-a-petrobras-do-caminho-para-poder-ficar-com-o-pre-sal/aasy,b.html