Os filhos de Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade que comentam no G1
“Alguém tem que matar esse cara!!! Tá na hora de invadir a casa
desses políticos e matar todo mundo!!! Eu vou ficar e organizar tudo
pela net. Preciso de voluntários para fazer o serviço sujo.”
Este é um comentário que um leitor do G1, da Globo, postou numa
reportagem que contava que Genoino decidira recorrer ao plenário do STF
contra a decisão de Joaquim Barbosa de devolvê-lo à Papuda.
É um comentário clássico do G1. Há outros parecidos. Ele não é uma
aberração no universo do portal da Globo, mas a regra, a norma, o
padrão. “Morre logo, Genoino!”, brada outro comentarista. Um outro diz
que o vaso sanitário deveria ter caído na cabeça de Genoino.
Isso tudo oferece material para uma fascinante reflexão.
Primeiro, e antes de tudo, alguém lê os comentários dos leitores no
G1? Os acionistas? Os anunciantes? Os editores? O autor do texto? O
porteiro?
Alguém, enfim?
Sabe-se que, na internet, os comentários fazem parte da discussão, tanto quanto o texto que lhes dá origem.
No DCM, acompanhamos um a um. Em nosso manual de regras, está
estipulado que rejeitamos coisas como insultos e incitações à violência.
O motivo é simples: isso estraga o debate.
Bom site é aquele que tem boas discussões. É notável que isso seja
ignorado pelo G1, a maior apista da Globo para sobreviver na Era Digital
que vai matando suas mídias.
Você pode classificar os autores de comentários como o que abre este
artigo como os filhos de Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade. São
intolerantes, raivosos, agressivos, racistas, ignorantes, desinformados,
maldosos, desumanos, preconceituosos — e perfeitos para serem
manipulados. É o tipo de gente que, na Idade Média, acendia os troncos
de árvores para queimar pessoas e, na Alemanha de Hitler, vibrava com a
violência contra as “raças impuras”.
São – repito – os filhos de Azevedo e Sheherazade.
Você percorre os comentários e logo descobre quem eles idolatram,
além de seus pais espirituais. Joaquim Barbosa é intensamente admirado,
por exemplo. O “menino pobre que mudou” o Brasil acabou conquistando a
escória da sociedade brasileira, sua parcela mais repugnante. Trabalhou
para isso, é preciso notar. Ninguém conquista o coração – se existe
coração no caso – daquele grupo sem se esforçar por isso.
Outro ídolo daquele grupo é Bolsonaro, o exemplo maior de político
para eles. Eduardo Campos e Marina são dois perigosos comunistas. Menos
que Lula e Dilma, é verdade, mas não muito.
Um jornalismo decente se esforça por elevar seu público. Os filhos de
Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade foram rebaixados à degradação
humana por articulistas e publicações interessados em mantê-los na mais
completa escuridão mental, porque assim é fácil manobrá-los e perpetuar
um Brasil campeão da desigualdade social.
No caso específico de Azevedo, faz tempo que seu blog parece um asilo
de lunáticos fanatizados. Considere este comentário tão comum entre os
leitores do blog de Azevedo: “Genuino guerreiro do povo brasileiro.
Mostra que tu e homem … Pera ai ge ge, tu vai ficar na mesma cela com
Zé…? Hum isso não vai prestar.”
Aqui, uma distinção: Azevedo sabidamente lê todos os comentários e,
metodicamente, deleta os que não o saúdam porque são obra de “petralhas”
— palavra que ele se orgulha de ter criado como se houvesse escrito
Guerra e Paz. Isto significa que ele chancela o leitor que afirma que
“não vai prestar” Genoino e Dirceu na mesma cela.
Sinal dos descaminhos da mídia, com esse tipo de conteúdo
imbecilizante Azevedo vai conquistando cada vez mais espaço: fora a
Veja, está presente também na Folha e na Jovem Pan. Quanto tempo até ter
um programa de entrevistas na Globonews?
Uma das ironias, em tudo isso, é que o dinheiro público – via Secom –
foi (e é) largamente empregado para patrocinar colunistas e publicações
que vão dar no leitor do G1 que deseja invadir a casa de políticos como
Genoino e matar todo mundo.
Este leitor fez sucesso entre seus pares. O G1 tem uma ferramenta
pela qual você pode aplaudir ou vaiar comentários. Nenhuma pessoa o
tinha vaiado no momento em que escrevo. Vinte tinham aplaudido.
Alguém lê os comentários, portanto, para voltar à pergunta que fiz lá
para trás. Mas não são os acionistas, e nem os editores, e nem os
anunciantes. São os leitores do G1.
Um site é o reflexo de seus leitores e de seus comentaristas.
O G1 é uma prova disso.