Dilma pode perder as eleições de outubro. Boa parte da culpa por essa derrota a história certamente jogará sobre os ombros da Presidente. Mas, na verdade, esse fracasso tem nome e sobrenome: Aloísio Mercadante...
Leia isso e veja porque:
Todos esquecem que a razão de ser da Petrobrás não é fazer “bom
negócio”, nem sequer explorar petróleo. A razão de ser da Petrobrás é
oferecer combustível ao consumidor brasileiro. Combustível, ou seja,
petróleo refinado, gasolina, diesel. Para isso, precisamos de
refinarias.
Petróleo bruto não tem valor de uso. É um produto altamente tóxico que não serve para nada. O petróleo só tem valor se for transformado, numa refinaria, em gasolina, diesel e refinados.
do Blog O CafezinhoPetróleo bruto não tem valor de uso. É um produto altamente tóxico que não serve para nada. O petróleo só tem valor se for transformado, numa refinaria, em gasolina, diesel e refinados.
Mercadante é o Frank Underwood de Dilma?
A informação de que foi Aloizio Mercadante,
ministro-chefe da Casa Civil, a fonte secreta, ou ex-secreta, que rebateu o
artigo e, sobretudo, a entrevista o ex-presidente José Sergio Gabrielli, me fez
suspeitar de que seja ele o “Frank Underwood” do governo Dilma.
Frank Underwood é o personagem vivido por Kevin
Spacey em House of Cards. Em dado momento, na segunda temporada, Underwood, alçado
ao cargo de vice-presidente, consegue se tornar íntimo do presidente dos EUA, e
passa a lhe dar conselhos. Underwood age com tanta destreza e maquiavelismo que
o presidente sequer percebe que seu próprio vice-presidente está lhe traindo
com uma sutileza diabólica. Underwood dá conselhos aparentemente razoáveis ao
presidente, consegue algumas vitórias no congresso, mas no fundo está
conduzindo o presidente para um abismo.
Os ativistas na área de comunicação sabem, por
exemplo, que Mercadante é um dos “inimigos”. Junto com Paulo Bernardo, ele joga
no time da mídia.
Você já viu Mercadante defendendo o governo?
Defendendo Dilma?
Jamais.
Mercadante só defende a si mesmo. E tem agido nos
bastidores.
E agora voltou a agir nas sombras. As manchetes dos
jornalões desta terça-feira revelam um verdadeiro golpe de Mercadante, a meu
ver, contra o próprio governo.
Se você ler a matéria, porém, não vai encontrar
nenhuma declaração de Dilma, apenas vagas referências a fontes anônimas do
Planalto. A Folha também cita fontes anônimas.
Mas o Estadão quebrou o pacto de silêncio e revelou
que a fonte era, na verdade, Aloizio Mercadante.
Então as minhas suspeitas, de que há um Frank
Underwood no governo, podem ter sido confirmadas. E o principal suspeito, até o
momento, é Aloizio Mercadante, que tem um histórico de traições a seu próprio
partido.
Mercadante era o homem por trás dos “aloprados”
petistas, numa operação desastrada que visava comprar um dossiê contra o
candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra. Quem acabou pagando o
custo político da operação foi Ricardo Berzoini, então presidente nacional do
PT, a quem coube responder à mídia. Mercadante, como sempre, sumiu do mapa. Mas
os petistas presos eram ligados a Mercadante, sobretudo o tal Hamilton Lacerda
era o coordenador de Comunicação do então candidato ao governo de SP. E o
dossiê seria comprado para beneficiar Mercadante.
Mercadante sempre some do mapa, ou pior, faz o jogo
da mídia. Mensalão? Fez o jogo da mídia. Crise Sarney? Fez o jogo da mídia.
Crise na Petrobrás? Fez o jogo da mídia.
O que pretende Mercadante? Derrubar Dilma e assumir
seu lugar?
A gente sempre presta atenção apenas no embate entre
oposição e governo. De vez em quando, atentamos para a crise na base aliada.
Raras vezes, porém, temos informações sobre as guerras mais sangrentas e mais
secretas numa democracia: aquelas que se dão no interior dos partidos. Quer
dizer, assistimos a guerra entre Aécio e Serra, no momento vencida por Aécio,
mas ao custo de muito sangue tucano.
E o PT? Vive em harmonia eterna? Claro que não. Há
embates surdos terríveis entre as diversas tendências.
Na entrevista ao Estadão, Gabrielli deu a seguinte
informação:
Estadão: Houve US$ 530 milhões de baixas
contábeis da Petrobrás por causa de Pasadena. Existe possibilidade de a
companhia recuperar esses valores?
José Sergio Gabrielli - Não sei os números de hoje, mas a presidente Graça diz que o lucro é de US$ 58 milhões em janeiro e fevereiro de 2014. Se multiplicar US$ 58 milhões em 10 meses ela recupera os US$ 530 milhões. É uma conta linear.
Pois é. Se Graça Foster deu essa declaração, e está
gravado em vídeo, por que o blog da Petrobrás não mostra esses documentos? Por
que, meu Deus? Por que Mercadante, ao invés de rebater Gabrielli, que tenta,
desesperadamente, ajudar ao governo a enfrentar a guerra midiática, não rebate
a mídia com informações sobre Pasadena? Por que Mercadante não reage às
mentiras diárias da mídia, a começar falando sobre o valor pago pela Astra pela
refinaria, que não foi US$ 42 milhões e sim, no mínimo, US$ 360 milhões.
Gabrielli está tentando
ajudar. Está se expondo às feras, dando entrevista, arriscando-se. E
Mercadante, está fazendo o quê? Dando entrevistas anônimas (e falando em nome
de Dilma!) para a grande imprensa botar mais fogo na CPI.
Eu queria publicar aqui o vídeo com o depoimento de
Cerveró. Eu vi apenas um pedaço. Queria assistir na íntegra e deixar registrado
no blog para os leitores, mas não estou achando no youtube. Achei apenas um
trecho na TV Câmara.
Entretanto, está claro que
há um apagão político e comunicativo sinistro no governo. E não dá mais para
culpar apenas Dilma. É o núcleo político do governo.
Foi notório que Graça Foster participou da audiência
no Senado sem conversar antes com os senadores do PT. Ficou notório que o
governo não fez nenhum gesto para aproximar Gabrielli, Cerveró e Graça Foster,
de maneira a produzir um mínimo de coerência sintática nos discursos. O governo
não tomou nenhuma providência política para evitar a CPI.
Se você observar bem, verá que não há divergência
substancial entre o que diz Foster, Gabrielli e Cerveró. A diferença é
sintática, e na interpretação que se faz de seus discursos.
Nessa confusão toda, eu tenho a impressão que o
melhor desempenho foi de Nestor Cerveró. Ele acompanhou o processo de compra de
Pasadena e é um funcionário concursado de 39 anos de carreira na Petrobrás.
A imprensa corporativa, definitivamente, não é séria.
Pelo menos, não neste tema, que é eminentemente político. Ela quer apenas jogar
lenha na fogueira e cumpre um papel odiosamente desinformativo. Não é possível
que Dilma ou Mercadante não vejam isso. Graça Foster afirmou que Astra pagou,
no mínimo, US$ 360 milhões por Pasadena.
A mídia continua usando,
mentirosamente, o número de US$ 42 milhões. Mercadante prefere rebater
Gabrielli, um dos melhores quadros do PT, a rebater a mídia? Não entendo.
O grande erro de qualquer um que tente analisar a
refinaria de Pasadena é tratar do negócio como se falássemos de um jogo que já
estivesse terminado. A refinaria está viva! Se está dando lucro, qualquer
prejuízo será reparado.
O segundo erro é tratar o negócio exclusivamente do
ponto-de-vista contábil. Essa é a visão de acionistas privados, sobretudo
estrangeiros, que não estão interessados em retorno de longo prazo. Querem
dinheiro agora.
Todos esquecem que a razão de ser da Petrobrás não é
fazer “bom negócio”, nem sequer explorar petróleo. A razão de ser da Petrobrás
é oferecer combustível ao consumidor brasileiro. Combustível, ou seja, petróleo
refinado, gasolina, diesel. Para isso, precisamos de refinarias.
Petróleo bruto não tem valor de uso. É um produto
altamente tóxico que não serve para nada. O petróleo só tem valor se for
transformado, numa refinaria, em gasolina, diesel e refinados.
Eu tenho de explicar porque combustível é importante?
Tenho que explicar que vivemos ainda, infelizmente, num mundo completamente
dependente de derivados de petróleo?
Se algum dia, houver problema no fornecimento de
gasolina para São Paulo ou Rio, poderemos importar de Pasadena, uma refinaria
com índice Nelson acima da média das refinarias brasileiras, e que produz uma
gasolina de altíssima qualidade.
Esta é a importância de Pasadena. É uma refinaria
situada no principal corredor petrolífero do mundo, com acesso ao golfo do
México, onde estão as principais jazidas de petróleo da América do Norte. A
própria Petrobrás explora alguns poços por lá.
Francamente, não entendo. Como pode ser mau negócio
possuir uma refinaria num lugar tão estratégico? As pessoas só pensam no
dinheiro. E a estratégia, que vale muito mais que dinheiro? E o conhecimento do
mercado norte-americano? E a oportunidade de assimilar tecnologias e
experiências que serão importantes para as refinarias que estão sendo
construídas no país?
Outro dia, fiquei sabendo que o What’s Up, um
aplicativo meia boca para smartphone, foi vendido por US$ 16 bilhões. Se o
What’s Up desaparecesse do mundo, não creio que haveria nenhum choque na
economia brasileira. Já uma refinaria como Pasadena, que produz 100 mil barris
por dia, tem uma importância estratégia para a segurança energética dos Estados
Unidos, podendo ser usada, portanto, como um instrumento de barganha econômica
ou mesmo política para o governo brasileiro.
Será que ninguém no governo entende que segurança
energética vale muito mais que qualquer dinheiro? Será que não há ninguém capaz
de falar de Pasadena do ponto-de-vista estratégico?
Tudo bem, os planos para Pasadena mudaram. Antes,
havia a expectativa de dobrar a produção da refinaria para fazer com que ela
refinasse petróleo pesado vindo do Brasil. Parece que isso não vale mais a
pena. Ora, então que se mudem os planos, e apresentem este novo planejamento à
sociedade. Ninguém quer saber se Pasadena foi um mau ou bom negócio. A gente
quer saber o que será feito a partir de agora. Quer informações detalhadas
sobre o lucro, sobre as perspectivas, sobre o mercado de refinaria nos EUA. A
nossa imprensa não dá nada. Só quer saber de escândalo, escândalo, escândalo.
Eu tenho um amigo que ficou dois anos estudando o
mercado de tênis para vender para a zona norte e oeste do Rio de Janeiro.
Depois que completou os estudos e iniciou a fase de prospecção, os negócios não
andaram. Então ele foi à Copacabana e a coisa mudou de figura. Fechou vários
negócios. A vida é cheia de exemplos assim. A gente planeja uma coisa, mas a
realidade acaba nos forçando a mudar o plano no meio do caminho.
Se a Petrobrás tivesse perdido dinheiro comprando
ações de uma empresa que desapareceu do mercado, aí sim, teríamos um péssimo
negócio. No caso de Pasadena, ela comprou uma refinaria tradicional, situada no
canal de Houston, em operação, que lucrou US$ 58 milhões no primeiro bimestre.
Será mau negócio apenas se for mau gerida, ou se a Petrobrás não souber
desenvolver estratégias inteligentes para explorar seu potencial.
Com tanta coisa que pode ser dita, Mercadante prefere
sussurrar intrigas palacianas a jornalistas da imprensa inimiga…
Aliás, se Mercadante é tão fã mesmo de Underwood,
poderia lembrar um pensamento dele, em que compara poder e dinheiro,
posicionando-se em favor do primeiro. O mesmo raciocínio podia ser feito na
questão de Pasadena. Ter uma refinaria processando cem mil barris de petróleo
por dia vale muito mais que o dinheiro gasto para adquiri-la, caso a empresa
souber aproveitar esse poder.