Fernando Brito publicou lá no "Tijolaço":
A rica biografia de Eduardo Cunha, o herói da oposição
Autor: Fernando Brito
André Singer publica hoje, na Folha, artigo em que não precisa de
muito mais de 20 linhas para traçar a história do homem a quem a
oposição brasileira deposita suas esperanças de desestabilização do
governo Dilma.
Singer foi econômico.
Não mencionou o caso da condenação de um promotor de Justiça, no Rio
de Janeiro, por ter falsificado documentos que favoreceriam a
absolvição do deputado por irregularidades praticadas quando dirigia a
Companhia Estadual de Habitação, no Governo Garotinho.
Um caso curiosíssimo, parecido com o da servidora que roubou o
processo da Globo. O promotor – Élio Fishberg, sub-procurador-geral de
Justiça no Rio – foi condenado a quase quatro anos de cadeia, pena
depois substituída por prestação de serviços comunitários e multa.
“Segundo denúncia do Ministério Público,
Elio Fischberg, que era o 2º subprocurador-geral da Justiça na época dos
fatos, teria falsificado documentos oficiais do MP, que vieram
beneficiar o deputado federal Eduardo Cunha, cliente do escritório de
advocacia de Cukier, onde o procurador dava consultoria. Fischberg
teria falsificado a assinatura do promotor de Justiça Humberto Dalla
Bernardina de Pinho, a qual dava como arquivados três inquéritos civis
contra o deputado federal.O procurador também teria falsificado as
assinaturas do então procurador-geral da Justiça José Muiños Piñeiro e
da procuradora de justiça Elaine Costa da Silva. De posse dessa
documentação que lhe foi entregue pelos réus, Cunha juntou cópias ao
processo do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que também apurava
irregularidades na Cehab, sendo o procedimento também arquivado. Com
isso, ele pôde se candidatar a deputado estadual.”
Agora, acompanhe o resto do currículo de Cunha, descrito por Singer, para conhecer melhor o “Jim Jones” do PMDB.
André Singer
Alguns dados biográficos do líder do PMDB, Eduardo Cunha, ajudam a
entender a lavada, de 267 a 28, que o governo levou na votação da
última terça-feira, quando a Câmara decidiu criar comissão para
investigar a Petrobras.
Mais de um ano atrás, Janio de Freitas, referência do jornalismo
político brasileiro, já advertia que, com a presença de Cunha junto a
Renan Calheiros e Henrique Alves no comando do Congresso, Dilma iria ter
dificuldades. Na época, o jornalista lembrava que Cunha “é cria de
Paulo César Farias, que o pinçou do vácuo para a presidência da então
Telerj, telefônica do Rio”. Corria o ano de 1990. Não demoraria muito
para que o mandato de Fernando Collor de Mello fosse tragado por
denúncias. No epicentro da debacle collorida estava PC Farias.
Consta que Cunha aproximou-se do meio evangélico do Rio de
Janeiro. Filiado ao PPB (hoje PP), de Paulo Maluf, e com apoio
religioso, candidatou-se a deputado estadual em 1994, iniciando uma
carreira política própria, o que o levou a ser eleito para a Assembleia
Legislativa daquele Estado em 2000, galgando daí a passagem para a
Câmara dos Deputados em 2002, sempre pela agremiação malufista.
No meio desse caminho, alinhado à direita, nem por isso deixou de
participar do governo Garotinho (1999-2002), então no PDT, no Estado do
Rio. No entanto, as relações entre ambos depois se deterioraram. Por
ocasião da MP dos Portos, alguns meses atrás, os dois ex-colegas de
administração travaram carinhoso diálogo no plenário da Câmara, segundo
relato de Merval Pereira, de “O Globo”. O ex-governador do Rio disse que
a emenda patrocinada por Cunha cheirava mal e tinha motivações escusas.
Em resposta, o ex-auxiliar teria se referido a Garotinho como batedor
de carteira.
Em 2006, Cunha reelegeu-se deputado federal, agora pelo PMDB,
sempre com apoio evangélico –em 2010, conseguiu 150 mil votos. A disputa
entre Cunha e Dilma vem desde o início do mandato desta, quando, após
denúncias em Furnas envolvendo, segundo o “Valor” (25/7/2011), um “grupo
ligado” ao deputado, ela nomeou para dirigir a estatal nome fora do
círculo de influência do parlamentar carioca.
Em 2007, Cunha havia segurado a Medida Provisória que prorrogava a
CPMF até Lula nomear indicação sua para a presidência de Furnas. Maior
empresa da Eletrobras, com orçamento bilionário e fundo de pensão
importante, Furnas é joia muito cobiçada. A perda do controle sobre a
estatal explicaria a posição belicosa do comandante do PMDB na Câmara em
relação a Dilma.
Em resumo, é quase um quarto de século de experiência acumulada em controvertidas matérias republicanas. Convém não subestimar.