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quinta-feira, 13 de março de 2014

A caduquice do vovô...



É notória a posição de desrespeito de alguns dos nossos jovens para com os ensinamentos e experiência de vida dos mais velhos. 

Mas, em meio a isso, há casos extremos de desrespeito que beira a insanidade. Este é o caso de certo rapagote de olhos azuis nascido lá pelas bandas do libertário Pernambuco que fere de maneira brutal sua própria herança... 

É o que nos diz Marcelo Zero neste texto bem elucidativo:



ARRAES E O SECTARISMO

Avô e mestre de Eduardo Campos condenava políticos progressistas que não viam interesses maiores

 

O Brasil não aguenta mais

Marcelo Zero (*)

Um conhecido pré-candidato teria afirmado recentemente que “o Brasil não aguenta mais 4 anos de Dilma”. O candidato anda meio confuso. Além da confusão gramatical entre presente e futuro, o candidato parece estar confundindo o apoio que tem de cerca de 9% da opinião pública com a opinião de todo o país, a qual, segundo as últimas pesquisas, apoia majoritariamente (55%) a gestão pessoal da presidenta.
Assim, “o Brasil” da frase, sem dúvida uma licença poética e política, uma sinédoque recorrente no discurso oposicionista brasileiro, poderia ser melhor traduzido para “uma minoria”. A frase, gramatical, política e matematicamente correta, seria, então, “parte minoritária da opinião pública brasileira não aguentaria mais 4 anos de governo Dilma”.
Mas as minorias têm as suas razões. Podem não ser lá muito boas, mas elas existem. Com algum esforço, podemos até imaginá-las.
É possível, por exemplo, que “o Brasil” não aguente mais esse negócio de ficar gerando tantos empregos com carteira assinada, em meio à pior crise internacional desde 1929. Com efeito, foram criados mais de 21,5 milhões de empregos desde que o PT chegou ao poder. Só no governo Dilma, foram gerados cerca 4,5 milhões de empregos, até janeiro deste ano. É por isso que a nossa taxa de desemprego está no mais baixo nível de toda a sua história (4,8 %). “O Brasil” do candidato talvez prefira, no entanto, a situação de países como Portugal, Grécia, Itália e muitos outros que hoje convivem com taxas de desocupação estratosféricas. Ou então “o Brasil” talvez sinta saudades da situação de desemprego e precariedade que predominava na época em que o país era comandado pelos principais aliados políticos do candidato.
Também é possível que “o Brasil” não suporte mais o aumento inaudito da renda do trabalho. Com Dilma, a renda dos trabalhadores cresceu, em média, 3% acima da inflação, a cada ano, mesmo no contexto de uma crise internacional que provoca diminuição significativa dos salários reais em muitos países do mundo. Portanto, em somente 3 anos, Dilma, a que “ninguém mais aguenta”, segundo o candidato, aumentou a renda dos trabalhadores em 9,3% acima da inflação. Hoje, o salário mínimo é de R$ 724,00, ou mais de US$ 300,00. No entanto, “o Brasil” do candidato provavelmente considere mais “suportável” a época em que a renda dos trabalhadores encolhia em mais de 7% ao ano e o grande sonho era o salário mínimo de US$ 100,00.
Pelos mesmos misteriosos motivos, “o Brasil” do candidato possivelmente considere que “ninguém aguenta mais” esse processo esquisito, tão ao contrário da nossa histórica tradição, de distribuição célere da renda e de combate sólido à pobreza. Trinta e seis milhões de brasileiros já deixaram a pobreza extrema, desde que os “insuportáveis” do PT chegaram ao governo. Neste ano, graças à busca ativa implantada pela presidenta que “ninguém mais aguenta”, serão incluídas as últimas 700 mil famílias que estavam fora do cadastro dos programas sociais e, com isso, o Brasil será considerado um país livre da miséria, conforme os critérios do Banco Mundial. No mesmo período, mais de 42 milhões de brasileiros ascenderam à classe média, injetando R$ 1 trilhão ao ano na economia e dinamizando o mercado de consumo interno. Assim, nosso índice de Gini caiu de cerca de 0,600, em 2002, para quase 0,500, em 2012.
Trata-se de uma verdadeira revolução social, algo profundamente novo, num país que estava acostumado à “mofada” situação de exclusão e de profundas desigualdades. Porém, há setores políticos que não gostam muito disso. Talvez eles se identifiquem mais com “o Brasil” do candidato.
Com alta probabilidade, “o Brasil” do candidato não se identifica com os grandes e recentes progressos feitos na Educação e Saúde, por iniciativa da presidenta que ‘ninguém mais aguenta”.
A duplicação do número de matrículas nas universidades, o crescente acesso dos mais pobres ao ensino superior, a geração de 5,8 milhões vagas para ensino profissionalizante pelo PRONATEC, o envio de dezenas de milhares de jovens brasileiros para estudar nas melhores universidades do mundo com o Ciência Sem Fronteiras, o vasto e inédito programa de implantação de creches e pré-escolas e a construção de mais unidades de ensino técnico que em toda a história anterior do país não parecem comover “o Brasil” do candidato.
Comove menos ainda, aparentemente, o Programa Mais Médicos, o qual, conforme a opinião de alguns que se identificam com “o Brasil” do candidato, utiliza os serviços da OPAS/ONU, notórias agências de intermediação de mão-de-obra escrava.  
Da mesma forma, não sensibiliza “o Brasil” do candidato o fato da ONU considerar o Brasil, sob a liderança da presidenta que "ninguém mais aguenta”, o país que mais contribui para a redução das emissões dos gases do efeito-estufa. Prefere-se a mofada tese da insensibilidade ambiental da presidenta.
Enfim, “o Brasil” do candidato parecer preferir o tempo mofadíssimo dos vestibulares, do ensino elitizado, dos postos de saúde sem médicos e dos desmatamentos sem controle. Talvez “o Brasil” do candidato também sinta falta dos jurássicos empréstimos do FMI, da dívida pública líquida de mais de 60%, da inflação de 12,5%, da vulnerabilidade externa e de outras coisas que a presidenta “que o Brasil não aguenta mais” contribuiu muito para extinguir.
Tudo isso nos deixa intrigados. Não conseguimos identificar, com precisão, quais os interesses que movem “o Brasil” do candidato. Eles não parecem ser consentâneos com uma identidade política socialista.
Nessas horas de crise de identidade e confusão, o melhor é recorrer aos frescos e atuais conselhos dos antigos. Podemos lembrar, em especial, o grande Miguel Arraes, o qual, em seu discurso de posse como governador de Pernambuco, em janeiro de 1963, afirmou para a posteridade:
“No Brasil de hoje, como em qualquer outro país em atraso, as lutas sectárias têm de ser evitadas; no processo da revolução brasileira devem participar todos aqueles realmente interessados na superação da miséria e do atraso”.

Definitivamente, “o Brasil” do candidato parece ter se esquecido dos bons conselhos que nos davam os avôs. Será que o Brasil aguenta?


Marcelo Zero é formado em Ciências Sociais e assessor legislativo do PT