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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Ihhhh...faz tempo!!!.


 


MATUSALÉM USANDO CALÇA CURTA  

Por Diogo Costa

- Existe no Brasil uma renhida disputa entre dois pólos que se pretendem hegemônicos, capitaneados por PT e PSDB, desde o ano de 1994. Não foram poucos os candidatos e partidos que tentaram quebrar esta polarização ao longo das últimas eleições, sem sucesso algum. Esta polarização não surge de sonhos e desejos d'alguns e de outros, mas sim dos acontecimentos concretos vivenciados pela população brasileira nos últimos 25 anos, em nível federal e estadual.

O PT conseguiu fincar estaca no campo da centro esquerda desde o processo eleitoral de 1989 e o PSDB afirmou-se na centro direita desde a eleição de 1994, onde o Plano Real de Itamar Franco serviu de escada para os partidários da 'social-democracia' verde amarela. Em todos os processos eleitorais, desde 1994, houveram candidaturas que se prestaram a acusar a "falsa" polarização existente entre os dois rivais que hoje comandam e disputam o cenário nacional.

Para além da vontade, estas candidaturas que se pretendiam enquanto "terceiras vias" pecavam por não haver conseguido fixar no imaginário popular um significado minimamente crível a respeito de seus projetos e programas. Para 2014 muito se fala em quebra da polarização. Pode até acontecer, mas o fato é que não há elementos que confirmem esta tese.
O PT tem a imensa vantagem de disputar em 2014 com uma candidata que está consolidada no imaginário social como a sucessora das bem sucedidas políticas públicas empreendidas por Lula. Ressalte-se que Dilma Rousseff ostenta hoje índices de aprovação popular (pessoal e de governo) superiores aos índices atingidos por FHC em 1998 e por Lula em 2006. Este é um feito absolutamente notável.

Se em 2010 Dilma era ampla, geral e irrestritamente desconhecida do povo brasileiro, afinal de contas jamais havia disputado uma única eleição sequer, agora em 2014 é justamente o contrário. Ela tem luz própria, afirmou-se no cenário nacional, terá um valiosíssimo recall e conservará integralmente o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva. E lembrem também que José Serra era o governador do Estado mais poderoso do Brasil até abril de 2010 e possuía um grande recall de eleições passadas (2002, 2004 e 2006). Uma destas, inclusive, presidencial.

Os oposicionistas atuais, ao contrário, não possuem recall presidencial algum. Eles é que precisam se afirmar e mesmo assim já ostentam índices de rejeição similares aos de Dilma Rousseff. Ora, quem serão os cabos eleitorais privilegiados da oposição neste ano? Fernando Henrique Cardoso tira um ponto percentual de Aécio Neves a cada vez que aparece lhe prestando apoio. Marina Silva pensa erroneamente que possui um 'imenso' cabedal político, quando não o tem. Os votos que ela teve em 2010 se deveram muito mais a alta rejeição de Serra e ao desconhecimento, até mesmo certa desconfiança da população em relação ao novato nome de Dilma, principiante em disputas eleitorais.

O atual ocupante do Palácio das Princesas também não conseguiu até agora (e nada aponta que irá conseguir) atravessar a ponte entre Petrolina e Juazeiro. Ou seja, trata-se de uma típica candidatura regional (no sentido de estadual), que terá imensas dificuldades para entrar no eleitorado do Sul e do Sudeste além de não ter nenhum refresco no próprio Nordeste. Tirando Pernambuco, onde o postulante está praticamente empatado em votos com Dilma, nos outros estados do Nordeste Dilma vem aplicando uma impiedosa goleada.

Talvez ele tenha acreditado na piada que lhe contaram a respeito do voto dos nordestinos, como se um eleitor do Ceará fosse votar em alguém de Pernambuco, a priori, pelo simples fato dele ser um "representante" do Nordeste... Ora, acreditar nesta estultice é o mesmo que acreditar que um paulista votaria num candidato do Rio de Janeiro pelo simples fato deste candidato ser um "representante" do Sudeste! Seria como acreditar que um gaúcho votaria num catarinense, a priori, porque este candidato catarinense seria um "representante" da região Sul! Isto é simplesmente ridículo.

Não existem três ou quatro projetos alternativos hoje em Pindorama. O que há são dois projetos antagônicos e irreconciliáveis. O campo neoliberal se vê prejudicado pela letargia do PSDB e é justamente neste suposto vácuo que o rapaz de olhos verdes tenta entrar.

Não é a toa que ele e os seus empreendem um giro político de 180º, saindo da base de apoio do governo federal, onde ficaram alegremente durante 11 longos e largos anos (se beneficiando disto), e passando a compor casamentos de véu e grinalda com o PSDB (principal representante do neoliberalismo oposicionista no Brasil) nos estados. Além, evidentemente, de compor com outras figuras históricas do anti petismo mais radical que vicejou no país nos últimos 10 anos. Perderão o pouco de identidade popular que acumularam até aqui. Como confiar em quem vira a casaca com tamanha desenvoltura?

A direita quer voltar de forma travestida, envernizada, com ares modernosos e esverdeados, calcados numa suposta defesa de "valores" - existe algo mais conservador do que o debate a respeito de "valores"? - e calcados numa pseudo capacidade administrativa que inexiste na vida real. A verdade nua e crua é que as duas candidaturas oposicionistas montaram em seus estados natais amplas alianças políticas (que fazem as alianças do governo federal parecerem brincadeira de crianças), e ainda criticam o PT pelas alianças que ostenta no plano federal... Criticam no PT o que praticam a la larga, desde sempre.

A oposição não trás nenhuma ideia que seja importante para as classes laborais deste país. Ao contrário, PSDB e PSB conseguiram até agora única e exclusivamente fazer a defesa do fim da Política Nacional de Valorização do Salário Mínimo e do fim do Regime de Partilha para a exploração do pré-sal (querem tirar a Petrobrás desta exploração acabando com a participação percentual mínima da mesma).

Fizeram também a defesa do fim da PPSA (Petrosal), que definem como sendo um "excesso" intervencionista do governo atual. Dizem os neoliberais, onde já se viu uma empresa 100% estatal ser a operadora ÚNICA dos poços de petróleo do pré-sal, além de ter poder de VETO na comercialização dos barris e no ritmo da produção? Segundo eles, isto "afugenta" os investidores.

A direita tradicional (PSDB) e a nova direita, representada pelos esverdeados "socialistas", não apresenta absolutamente nada de novo! São o que há de mais velho e atrasado na política brasileira desde sempre. Os "socialistas" chegaram já ao mais alto padrão de fisiologismo e de oportunismo político que se poderia imaginar. Marina é tão 'nova' quando o banco Itaú... Fugirão do debate econômico como o diabo foge da cruz, pois não podem dizer de verdade o que pretendem fazer, que é retornar com as pérfidas políticas de arrocho salarial e de concentração de renda. Para desviar as atenções dos inocentes úteis virão com o papo furado dos "valores"...

Ou seja, vote nos neoliberais e receba um cálice de "valores" dos homens bons da nação! Quem precisa de salário e de distribuição de renda? Quem precisa de políticas públicas como as cotas e o PROUNI, além da expansão das universidades federais? Dizem os neoliberais que isto é uma bobagem, que o que importa são os "valores"! Passe fome mas tenha "valores"! Perca o emprego mas tenha "valores"! Os pobres são pobres não por um problema estrutural da economia, mas sim porque se afastaram de bons "valores"!

Enfim, há dois projetos existentes no Brasil, como já foi dito. Um defende o pleno emprego, a distribuição de renda, a diminuição das desigualdades sociais e regionais, a inserção soberana do Brasil no conserto das nações, a unidade sulamericana e o multilateralismo. O outro projeto, antagônico, defende que a salvação para o Brasil é transformá-lo numa Grécia, mas recuperando os "valores"... É o projeto pronto e acabado do capital financeiro (esverdeado ou não).

Absolutamente nada de novo. Apenas o fato de que uns e outros tentarão se fantasiar de jovens com jovens e arejadas propostas... Não se enganem, é o velho Matusalém usando calça curta.

Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/sobre-o-processo-politico-e-eleitoral-brasileiro