Com o translado dos restos mortais do Presidente João Goulart para Brasília onde foi recebido com as justas e devidas honras de chefe de Estado morto fora do país, a mídia se encheu de "análises" e "analistas" todos a comentar o período de governo de Jango.
Em todas elas, unanimemente, a versão difundida depois do golpe militar da figura tíbia, hesitante e frágil de Jango, numa falácia difundida pelos mentores do deposição de um presidente eleito democraticamente e uma quase exclusão da participação americana no bem costurado e planejado golpe militar.
Diante disso, postei hoje como resposta a um comentário, no site do Luís Nassif Online o seguinte texto:
Instaura-se, aos poucos, o mito de que o papel dos Estados Unidos no
Golpe de 1964 foi apenas periférico... Vivi o golpe e o enfrentei na
condição de lider estudantil em Minas e me recordo ainda com clara
lucidez a ação do IBAD - Instituto Brasileiro de Ação Democrática
financiado pela CIA e que alimentava as bancadas de oposição a Jango com
fartura de material e dólares.
Lembro-me com clareza da presença dos
"meninos yankees" da "Aliança para o Progresso" a aliciar opositores ao
governo e criar uma aura de "chegada iminente do comunismo" pelas mãos
"sindicalistas" de Jango.
Lembro dos aviões despachados por Ademar de
Barros de São Paulo, para as Associações e Sindicatos patronais rurais
recheados de armas da INA - ainda que ironicamente sem balas - e me
lembro com clareza a demonização das Ligas Camponesas e a mobilização
das forças dos proprietários rurais, à época a elite da elite no país.
Vivenciei tudo isso até a destrambelhada ação de Magalhães Pinto com
seu Banco Nacional à beira da falência pelo fechamento da Carteira de
Redescontos do Banco do Brasil, desligando Minas da Federação e nomeando
Milton Campos "ministro do Exterior", três dias antes do 1º de abril.
Lembro-me dos deslocamento da PM mineira para as fronteiras do Estado
cinco dias antes do golpe e o confisco da gasolina tudo antecipado em
relação ao 1º de abril de Olímpio Morão Filho, tudo armado com
assistência direta de Lincoln Gordon, començal do Chefe do estado Maior
das Forças Armadas, General de Exército Humberto de Alencar Castello
Branco.
E agora, para coroar tudo isso, vêm à público as pesquisas do
Ibope que mostram a aprovação do povo ao governo Jango, contrastando com
as "marchas com Deus pela Liberdade, a Família e a Propriedade" e com o
"Ouro para o Bem do Brasil" que encheu burras e burras de muitos dos
nossos novos ricos da direita.
Todo esse arcabouço de plano golpista
teve por mentor militar Wernon Walters, companheiro de Castelo em campos
da Itália na II Guerra, quando o americano - depois chefe na CIA - foi o
oficial de ligação da FEB com o Comando do V Exército americano. É
falácia tentar minizar a participação americana na logística, preparação
e no cuidadoso, antecipado e minucioso projeto do andamento do golpe.
O deslocamento da IV Frota norte-americana para nossas águas, nada mais foi que a cereja do bolo com a missão explícita de
evitar novo episódio do Cruzador Tamandaré que levara Carlos Luz a
Santos na frustrada primeira tentativa de golpe em 1955, pois se temia o
refúcio de Jango nas belonaves comandadas pelo Almirante Aragão o líder
do frágil dispositivo militar janguista.
Enfim, só mesmo quem não quer
ver ou por americanalhar-se de vez ou por cegueira histórica, negar a
ação americana é se crer avestruz a enfiar cabeça nas areias da história
e deixar livres do sangue derramado pela ditadura os caros "irmãos do
Norte".
Diante tudo isso que tenta nada
mais, nada menos, que minimizar o poderio americano entre nossos
militares da época e se atribuir a Jango uma fraqueza institucional -
uma debilidade inexistente e uma indecisão que nunca ocorreu - ela se
faz mais que necessária por razão de reposição exata dos fatos e da
história.
Qualquer outra tentativa de minimizar-se a participação americana no golpe é má fé histórica ou desonestidade intelectual, pois foi exatamente a "revolução gloriosa" que fez propagar a tibieza janguista para justificar o rompimento da estabilidade constitucional e a agressão perpetrada à democracia no País com planejamento, apoio e ação direta dos Estados Unidos da América junto a militares que ideologicamente se engajavam na "guerra fria" americana contra a União Soviética e uma elite tão gananciosa e golpista quanto a de hoje.
Qualquer outra tentativa de minimizar-se a participação americana no golpe é má fé histórica ou desonestidade intelectual, pois foi exatamente a "revolução gloriosa" que fez propagar a tibieza janguista para justificar o rompimento da estabilidade constitucional e a agressão perpetrada à democracia no País com planejamento, apoio e ação direta dos Estados Unidos da América junto a militares que ideologicamente se engajavam na "guerra fria" americana contra a União Soviética e uma elite tão gananciosa e golpista quanto a de hoje.