A matéria publicada pelo portal de "O Estado de S. Paulo" -o "Estadão" - apesar da linguagem sempre empolada do economês, mostra bem a que ponto o "deus mercado" chegou nessa globalização que pune os mais pobres e os países em desenvolvimento.
Não será surpresa se no meio disso estiver algum figurão tucano de alta plumagem, desses que deixaram o governo e o Banco Central para montar suas tendas de camelotagem com o câmbio, coisa assim tipo dos Armìnios, Malans, Mailsons e outros do mesmo calibre...
Suíça investiga manipulação no câmbio
Denúncia é de que os valores das moedas estariam sendo manipulados em contratos de câmbio que chegam a US$ 5,3 trilhões por dia
Jamil Chade, correspondente
GENEBRA - Bancos internacionais estariam manipulando de forma
coordenada a taxa de câmbio de moedas pelo mundo, num novo escândalo que
atinge o setor financeiro. As autoridades suíças anunciaram que abriram
investigações em relação às suspeitas de que grandes instituições
financeiras mundiais estariam se colocando de acordo sobre a taxa
cobrada para cada moeda estrangeira, influenciando também os valores das
moedas de países emergentes, como o real.
Por dia, os grandes bancos vendem e compram trilhões no mercado de
câmbio. A suspeita agora, porém, é de que os valores desses contratos e
dessas moedas não flutuam livremente, mas seriam fixados pelos bancos em
pelo menos dois momentos do dia.
Segundo as autoridades financeiras da Suíça, país que concentra um
dos maiores polos de bancos do mundo, "múltiplas instituições pelo
mundo" estariam implicadas no novo escândalo. Há um ano, os bancos já
foram pegos manipulando a Libor - taxa do mercado financeiro de Londres e
uma das principais referências de juros no mundo -, o que resultou em
condenações afetando Barclays, UBS e vários outros bancos.
Por causa dessa fraude, o banco suíço UBS recebeu uma multa de US$
1,5 bilhão e o britânico Barclays foi multado em US$ 450 milhões.
Os suíços indicaram que a investigação não está ocorrendo apenas no
país e que governos de várias partes do mundo estão colaborando. Por
enquanto, os investigadores não revelam nem os nomes do bancos afetados
nem os países. Bancos como o UBS e o Credit Suisse se recusaram a
comentar o caso e se fazem parte da investigação.
Em junho, autoridades britânicas já haviam indicado que estavam
preocupadas diante de suspeitas de que funcionários de bancos estariam
trocando informações entre eles e usando até mesmo ordens de clientes de
compra e venda de moedas estrangeiras para manipular a taxa base do
mercado de câmbio.
Oficialmente, as taxas de câmbio são estipuladas a cada dia por meio
de uma análise em momentos predeterminados do dia dos volumes de
negócios envolvendo os maiores bancos do mundo.
A suspeita recebida pelas autoridades é de que operadores (traders)
de bancos estariam se coordenando não apenas para trocar informação, mas
para atuar justamente nesses momentos de avaliação, comprando ou
vendendo moedas e, assim, influenciando em seu valor. Em Londres, por
exemplo, os horários mais importantes para fixar a taxa são às 11 horas e
às 16 horas.
Guerra. Nos últimos anos, moedas passaram a estar no
centro das atenções internacionais. Primeiro por causa da cruzada que o
governo brasileiro lançou, acusando países ricos de promoverem uma
"guerra de moedas". Nesse caso, o Palácio do Planalto não apontava o
dedo para bancos, mas sim para governos que, inundando os mercados de
liquidez, acabaram fortalecendo o real e prejudicando a competitividade
das exportações nacionais.
Mas o mercado de câmbio ganhou uma nova dimensão nos últimos anos
diante da crise e da fuga de investidores do setor imobiliário e outros
ativos para moedas. Segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS,
na sigla em inglês), organização internacional responsável pela
supervisão bancária, o volume diário de contratos de câmbio pelo mundo
chega hoje a US$ 5,3 trilhões. Em 2010, esse volume era de US$ 4
trilhões.
Londres é ainda o centro do comércio de moedas, com 41% do mercado.
Mas centros importantes como Suíça, Hong Kong e Cingapura estariam
ganhando espaço.