Alberto Dines, meu mestre no velho Jornal do Brasil, editor que nunca deixou de ser repórter mesmo nas análises de colunista no Observatório da Imprensa, faz dura crítica sobre o cerco da mídia ao ministro José Celso de Mello no seu voto desta quarta feira no Supremo.
O observador arguto e o analista fiel do fato estão sempre presentes neste texto que publicamos como homenagem a um velho companheiro e chefe a quem aprendemos não apenas a respeitar, mas a admirar:
EMBARGOS & RESMUNGOS
O inominável cerco a Minerva
Por Alberto Dines
Por fastio, impaciência, instinto novidadeiro ou mero oportunismo,
nossa imprensa gostaria de encerrar imediatamente a AP 470, o Caso do
Mensalão, de preferência colocando alguns culpados no xilindró, ainda
que por dias. A imprensa cria tensões que não consegue manter, sobretudo
quando não dispõe de suficientes recursos, expertise ou maturidade.
É preocupante o desapontamento de grande parte da veiculação que se
ocupa de política com o empate de 5 a 5 na decisão do Supremo Tribunal
Federal sobre os embargos infringentes, mesmo que o voto de Minerva seja
proferido por um magistrado louvado pela temperança e prudência. A
deusa da sabedoria só é cultuada quando serve aos impulsivos.
A pressão exercida pela mídia sobre o decano dos ministros, Celso de
Mello, para evitar o recomeço do julgamento, além de inédita e descabida
revela encarniçamento e ferocidade inaceitáveis numa sociedade
minimamente civilizada.
O ministro não fez suspense, ofereceu todas as pistas para evitar
surpresas, revelou inclusive que o seu voto estava pronto desde a sessão
em que ocorreu o empate (quinta-feira, 12/9). Permitiu igualmente que o
colega Ricardo Lewandowski citasse em plenário uma opção anterior em
favor dos embargos infringentes.
Estímulo à insensatez
Poucos deram atenção à condenação dos réus do mensalão pelo
ministro-desempatador logo no início dos trabalhos, em 2012. Foi uma das
mais arrasadoras e veementes manifestações em plenário. E mesmo assim
jornais e jornalistas não souberam respeitar o seu livre-arbítrio ou o
que antigamente se designava como liberdade espiritual.
Os valores simplistas e primários destilados pelos telefolhetins na
mentalidade brasileira não admitem que um magistrado convencido da
culpabilidade dos réus lhes ofereça todas as oportunidades para se
defender.
O incessante e pertinaz resmungar da mídia chegou ao quintal – as redes
sociais –, que logo começaram a articular manifestações na hora do
julgamento diante da sede da suprema corte, na Praça dos Três Poderes.
A imprensa é absolutamente livre para convocar cruzadas, opinar,
reclamar, cobrar e denunciar órgãos públicos, autoridades, empresas ou
cidadãos. Mas uma imprensa que não sabe respeitar a consciência de um
magistrado favorece a inconsciência e a insensatez.
Favorece os equívocos.