PAULO BERNARDO VAI GIRAR ESSA MAÇANETA?
O governador tucano, Geraldo Alckmin, levou a tiracolo um estafeta e notório
defensor da ditadura à cerimonia de entrega dos arquivos
digitalizados do DOPS, em São Paulo. O episódio ilustra o corredor de
camaradagem que liga as portas abertas da democracia e os
socavões escuros da ditadura ainda existentes na
sociedade. A mais notória delas guarda os nomes dos mortos e
desaparecidos políticos e os de seus respectivos algozes. Outra, abriga a
colaboração estreita entre o mundo empresarial, a repressão e a
barbárie.
Um lacre merecedor da mais prestigiada das omissões garante
a intocabilidade do monopólio do sistema de comunicação, setor cuja
centralidade na vida política dispensa apresentações. A
presidenta Dilma experimentou na carne , em Durban, as consequências desse
anacronismo, que seu ministro das Comunicações tinge de virtude
democrática.
A indignação de Dilma com o uso distorcido de suas declarações, na
sua volta, provocou sugestiva mudança na postura do ministro. Paulo
Bernardo concede, agora, a hipótese de desengavetar o projeto de
regulação da mídia deixado pelo antecessor. Mas exala inoxidável má vontade com
a missão de faxinar um esqueleto da ditadura, que gostaria de preservar
no confortável formol da omissão.
Resta saber por quanto tempo mais
a mão do governo poderá repousar sobre a maçaneta dessa porta. Sem
risco de ser decepada pelas baionetas aquarteladas no seu interior.