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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Um pouco lá de fora...

Um assunto externo nos interessa a todos: a intervenção militar na Síria prevista para as próximas horas ou dias. E a propósito, um polêmico comentarista do Luís Nassif Online, Jorge Nogueira Rebolla publica hoje no "Fora da Pauta" daquele site uma boa análise que nos serve a todos de alerta sobre como agem os governos ocidentais para impor seus interesses...


         Por: Jorge Nogueira Rebolla

De um lado um tirano homicida do outro assassinos sectários ainda mais totalitários. Um destes lados será apoiado militarmente pela conjuração dos maus, o pior dos dois. Pobre sírios.
Há mais de vinte anos que o clube dos cafajestes escolhe um país a ser desmembrado e eviscerado. O sócio principal é sempre o mesmo, United Stasi of América, os minoritários variam. Um deles com maior participação. Para a destruição da Iugoslávia foi a Alemanha. Na Líbia o papel coube aos franceses. Para a Síria chegou a vez dos britânicos. Estes três casos nada têm a ver com direitos humanos ou democracia. Apenas negócios. Em nenhum deles existe uma declaração formal de guerra. Dizem que é uma missão humanitária. Bombas e mísseis pela paz. Os conjuradores: Barack Obama, David Cameron e François Hollande.

         I have a drone
A Iugoslávia foi destruída. Os primeiros massacres supostamente cometidos pelos sérvios foram na realidade de bandeira falsa. O ataque ocorrido contra civis em Sarajevo, no dia 27 de maio de 1992, o primeiro de grande repercussão internacional, divulgado pela OTAN como fogo de artilharia do Exército Sérvio da Bósnia, foi na realidade um atentado a bomba praticado pelos mujahedins bósnios. A maioria das vítimas eram ortodoxos sérvios.
A contagem das vítimas dessa guerra, posteriormente encontradas, é muito inferior ao informado na época, como em Sbrenica. Sendo que muitos dos cadáveres resgatados não possuíam marcas de tiro ou a possibilidade da confirmação da época do sepultamento. Isto sem considerar que praticamente não foram encontrados corpos dos combatentes islâmicos e eles existiam e morreram em grande número. Todos foram posteriormente classificados pelo Tribunal Penal Internacional como civis. Mesmo assim os números estão muito distantes de um genocídio.

O enclave de maioria sérvia de Krajina, na Croácia, foi limpo etnicamente. Somente nesta área o número de civis sérvios massacrados pelas forças do bem chegaram aos milhares. Aldeias inteiras foram devastadas e os sobreviventes despojados de todas as suas posses. Alguém conhece algum processo por crimes de guerra contra os líderes croatas? Não existem e não serão sequer considerados, tendo em vista que o avanço só foi possível devido ao maciço apoio aéreo da OTAN, destruindo as instalações militares que defendiam a região.

O último desdobramento desta agressão foi a independência do Kosovo. Um dos principais líderes políticos deste país fantoche, Hashim Thaci, foi um dos apoiados pela OTAN durante a guerra. De líder criminoso a aliado de confiança. Na época expandiu os negócios, agregou ao tráfico de drogas o de órgãos. Estes extraídos dos prisioneiros executados com esta finalidade.

Ouve-se muito falar em Sarajevo e Sbrenica. Quem conhece Krajina?

Os outros dois

Na Líbia a intervenção teve o mesmo objetivo. Tornar falido um Estado soberano. A tirania de Kadafi apenas foi derrubada por não atender de modo satisfatório aos interesses americanos e europeus. Se não como explicar a Casa de Saud?
Praticamente dois anos após a morte do ditador o país se tornou uma colcha de retalhos. Aliás o patchwork desejado pela Casa Branca. O país encontra-se dividido em feudos dominados por milícias. O governo central não exerce quase nenhuma autoridade real. O governo efetivo é dos senhores da guerra locais. Em muitas regiões os direitos civis não tiveram nenhuma evolução, continuam sob a discrição do líder. Em todas a situação das mulheres piorou. O laicismo que existia está perdendo terreno e a garantia de um regime democrático cada vez mais distante.

A bola da vez é a Síria. Lá os ocidentais apoiam os netos dos combatentes da liberdade da guerra do Afeganistão, não a atual, a dos anos 1980. Quando eles lutavam contra a URSS. Quando a franquia da Al-Qaeda foi criada, sob os auspícios dos ingleses e americanos. Osama Bin Laden era um aliado com forte apoio. O mesmo que agora destinam aos seus seguidores, rebatizados como Exército Livre da Síria. Os perpetradores dos ataques do 11/09, de Madri e de Londres terão a cobertura aérea paga com impostos da suas vítimas, os cidadãos desses países. Esses povos, devidamente doutrinados, são absoluta e totalmente incapazes de exigirem que os seus governantes não alimentem os seus inimigos futuros. Acreditam que tudo isso é em defesa dos seus interesses, manipulados estúpidos!

O Saara líbio está ocupado por campos de treinamento de terroristas, utilizando para o adestramento o equipamento bélico que receberam para a ofensiva e os que herdaram após a tomada do poder. Com estes santuários e os recursos que arrecadam nas áreas que dominam estão recrutando e se fortalecendo. Agregar agora uma novo país, com muitos mais recursos militares, incluíndo armas químicas (quem as irá controlar após a derrocada do Bashar Al-Assad?) é uma nova e tenebrosa realidade.

Quem acredita que o lado que está levando vantagem nos combates age como desesperado, utilizando armas químicas e atraindo sobre si retaliações bélicas, precisa rever urgentemente as suas fontes de informações. 

O que está em jogo é o interesse das grandes corporações e não a liberdade. A velha teoria do dominó em ação. Todos os países que não estão devidamente subordinados, sejam eles de qualquer quadrante, democracias ou tiranias aguardam a sua vez. Este poder de polícia autoatribuido é a face mais visível de um governo mundial cada vez com maior controle sobre todos nós.

Apoiar ações como as desencadeadas contra a Iugoslávia, a Líbia e agora contra a Síria nada tem a ver com a defesa da democracia e da Liberdade. Serve apenas para fortalecer um poder central que com os seus Temporas, XKeyscores e Prisms vão transformando o mundo num local de vigilância absoluta. A resistência ao totalitarismo não deve seguir à lógica binária capitalismo X socialismo, vai muito além. Neste caso o inimigo do meu inimigo não é automaticamente meu amigo. Temos primeiro que ver a quem estão servindo. Neste caso claramente os beneficiários não são a democracia, a liberdade e o indivíduo.