O canto da sereia...
Luís Fernando Veríssimo é hoje, sem a menor sombra de dúvida, o melhor cronista brasileiro. Seus textos sempre têm um sentido de realidade que nos encanta pela forma e pelo conteúdo.
Hoje, navegando pela Internet descobri uma crônica reproduzida pelo Blog "O Esquerdopata" que é primorosa e reproduz a crônica "Muito cuidado com os bons oradores - texto e contexto" do qual separei trecho muito curioso:
Já contei (umas cem vezes) que vi o Millôr Fernandes levantar uma plateia num encontro literário em Passo Fundo com a leitura de um texto de candente defesa da democracia e dos direitos humanos, e depois da ovação revelar que acabara de ler o discurso de posse do general Médici na Presidência da República, quando se inaugurava o período mais escuro da ditadura.
Um período em que com frequência o discurso do poder contrastava com a realidade à sua volta, e o texto era desmentido pelo contexto. A aula do Millôr foi sobre a força autônoma da retórica, capaz de mobilizar uma multidão que ignora seu contexto. Mas pior do que isto é quando o contexto é conhecido e mesmo assim as palavras compõem outra realidade, e empolgam e mobilizam do mesmo jeito.
A história brasileira está cheia de exemplos do triunfo da oratória bacharelista sobre a realidade do momento, do dito sem a menor relação com o feito.