Armando Coelho Neto
Depois do golpe, a violência e o escárnio. Um golpe no qual os
golpistas têm vergonha de tratar pelo nome, posto que nas suas visões
restritas, golpe só com tanques e baionetas. Há quem diga que o Criador
impôs sérios limites à inteligência, mas foi tolerante e pusilânime
diante da ignorância. A ignorância de quem tem a obrigação de saber e
não sabe, mas que sabe e tem a arrogância de ignorar. A ignorância
escamoteada e assumida, com ares provocantes contra o interlocutor.
Num golpe marcado pela violência literal promovida pela assassina
Polícia Militar de São Paulo, o escárnio veio por intermédio de “Tchau
Querida” e com um governo impostor que de pronto pôs fim ao Ministério
da Educação e, para inaugurar a era do cinismo, o ato liminar
pró-educação foi receber um ator pornô. É escárnio ou não é? Desse modo,
a mídia entreguista e moralmente desqualificada, passou a dar voz a
qualquer bandido que queira insultar Dilma, PT, Lula ou qualquer pessoa
que, mesmo não sendo petista, como eu, ouse dizer: não é bem assim.
- Respeitável público! Depois do sucesso de “Não tenho provas, mas a
literatura jurídica me autoriza!”... Depois do espetáculo do “Barnabé
Apressado”, que queria prender o ex-Presidente da República Luiz Inácio
Lula da Silva antes de Sérgio Moro, mais uma grande obra no circo da
Farsa Jato! Senhoras e senhores, depois da “Sentença Bíblica” (Dilma que
vá se queixar ao papa!) e do sucesso de crítica, de público do “O Dia
do Sim, Sim, Sim, Sim”; depois do igualmente consagrado espetáculo de
“Inquérito de Gaveta”, temos a grande desonra de anunciar a novíssima
opereta do golpe das baratas (morde e assopra)! Antes, porém, um pouco
de suspense...
Como alguém já disse que seria cômico se não fosse trágico, permitam-me enveredar não apenas pelo humor, mas também pela poesia.
“Quando mais ao povo a alma falta, mais a minha atlântica se exalta e
entorna...”, consta da obra de Fernando Pessoa, cujas contradições
políticas não quero debater. Mas, depois que a dita grande mídia roubou a
alma do povo, quanto mais essa mesma alma falta, mais a minha alma
atlântica se exalta, se exaspera, se perde em inócuos ensaios de
resistência a esse momento de escárnio humano. Inquieto, só me veio um
pouco de consolo no dia de ontem, após a fala do grande líder Lula, que
de tão tripudiado por almas opacas, nunca tive tempo para dizer dele
minhas queixas. Calmo, ele pediu calma e não serei eu que não sou PT e
nem me coliguei com o impostor Michel Temer que irei me exasperar...
Que vergonha! O que fazer com o título de eleitor e o diploma do
curso de Direito? O país da Constituição rasgada, do Judiciário com
Partido, da imprensa do pensamento único acaba de lançar “A Opereta do
Power Point”, que de tão insólita agrediria dos mais conservadores aos
mais revolucionários juristas da Historia do Direito e intelectuais de
outras áreas. De Hans Kelsem a Jürgen Habermas. Como pode? Durante um
espetáculo grotesco e medieval as fogueiras da inquisição foram trocadas
por holofotes. Seguidores de “Janaina 45 dinheiros” anunciaram
solenemente: “não temos provas, mas temos convicção”.
Desesperado, corri para a internet e vi um texto que republico mesmo sem provas, mas com toda a convicção.
“Chamado de quatro olhos na escola, sofria bullying e apanhava dos
amigos. Nunca conseguiu namorada. Passou na UFPR, nunca ganhou eleição
do Centro Acadêmico e desenvolveu raiva contra os ‘esquerdinhas’ de quem
sempre perdia. Mas, “passou em Harvard”, ainda que discriminado por ser
terceiro mundista. Aprovado em concurso público, nunca conseguiu se
eleger para o sindicato de sua categoria. Passou a sonhar com um cargo
maior nacional e a saída que os quatro olhos encontraram foi tentar
prender o Lula”.
“Delenda est Carthago” (Cartago precisa ser destruída) tem
protagonizado cenas deprimentes. “A Opereta do Powers Point” foi uma das
mais grotescas no vergonhoso circo da Farsa Jato. Dizem que até alguns
de seus capitães do mato não gostaram. Uma violência tão absurda contra
os direitos humanos, que desisti da raiva e aderi ao histriônico.
Nesse
contexto circense a mais sugestiva e irônica frase teria vindo de um
juiz carioca: o que esperar de alguém que tem nome laxante?
Armando Rodrigues Coelho Neto é advogado e jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo