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quarta-feira, 1 de junho de 2016

O golpe é mais que um golpe...

Um bom texto publicado pelo Brasil Debate e pelo Jornal GGN nos dá um acertado diagnóstico do que está acontecendo no Brasil há dois anos: 


Os conservadores não escondem que desejam acabar com as conquistas sociais da Constituição e tornar irrelevante o sufrágio universal, com medidas como voto distrital, voto voluntário e independência do BC. Sobrecarregado pelas demandas populares, o capitalismo está sendo inviabilizado, acreditam





       O golpe é mais do que um golpe.

           A resposta precisa ser dura e profunda


por Reginaldo Moraes

O golpe de maio de 2016 não surgiu de repente e do nada. Está sendo preparado e alimentado há quase dois anos, por uma campanha de sabotagem dos vários agentes da oposição, que não se resumem aos partidos políticos.

Mas o golpe não foi apenas a deposição da presidenta. E, nesse sentido, ele vem de ainda mais longe e de mais fundo. Ele é um capítulo importante, revelador, de um movimento persistente, às vezes subterrâneo, às vezes escancarado. É o movimento pela mudança do regime político brasileiro – a democracia representativa presidencialista que se consolidou com a Constituição de 1988.

Os conservadores não escondem que desejam acabar com a Constituição. Segundo as associações empresariais e seus economistas, a Constituição “não cabe no orçamento do Brasil”. O que não cabem, sempre deixam claro, são as conquistas sociais e trabalhistas, bem como as vinculações orçamentárias como os gastos com saúde e educação. Mas não é apenas isso que se quer revogar: é o direito político fundamental dessa república, o sufrágio universal.

Revogar o sufrágio universal, eliminar as eleições? Não, não se trata disso, seria pouco realista, pelo menos por enquanto. Mas algumas restrições são cogitadas: voto distrital, voto voluntário. Também não se trata de eliminar as eleições – pelo menos como antídoto as já longínquas lembranças da ditadura servem. Não é isso. O que está em marcha são seguidos experimentos, homeopáticos, visando a tornar as eleições irrelevantes.

Tornar as eleições irrelevantes – guardemos essa ideia. Eleições seguiriam existindo, mas seu efeito seria inócuo. Ou seja, trata-se de esterilizar o poder do voto. É uma receita velha dos neoconservadores, já anunciada pela famosa Comissão Trilateral em 1972: o Estado está sobrecarregado pelas demandas populares, o capitalismo está sendo inviabilizado pela democracia, resta apenas o caminho de ‘disciplinar’ a democracia submetendo-a a regras superiores, isto é, definidas por seres superiores, os guardiães do mercado e da oligarquia.


Texto completo em: http://jornalggn.com.br/noticia/o-golpe-e-mais-do-que-um-golpe-por-reginaldo-moraes