Um bom texto publicado pelo Brasil Debate e pelo Jornal GGN nos dá um acertado diagnóstico do que está acontecendo no Brasil há dois anos:
Os conservadores não escondem que desejam acabar com as conquistas sociais da Constituição e tornar irrelevante o sufrágio universal, com medidas como voto distrital, voto voluntário e independência do BC. Sobrecarregado pelas demandas populares, o capitalismo está sendo inviabilizado, acreditam
O golpe é mais do que um golpe.
A resposta precisa ser dura e profunda
por Reginaldo Moraes
O golpe de maio de 2016 não surgiu de repente e do nada. Está sendo
preparado e alimentado há quase dois anos, por uma campanha de sabotagem
dos vários agentes da oposição, que não se resumem aos partidos
políticos.
Mas o golpe não foi apenas a deposição da presidenta. E, nesse
sentido, ele vem de ainda mais longe e de mais fundo. Ele é um capítulo
importante, revelador, de um movimento persistente, às vezes
subterrâneo, às vezes escancarado. É o movimento pela mudança do regime
político brasileiro – a democracia representativa presidencialista que
se consolidou com a Constituição de 1988.
Os conservadores não escondem que desejam acabar com a Constituição.
Segundo as associações empresariais e seus economistas, a Constituição
“não cabe no orçamento do Brasil”. O que não cabem, sempre deixam claro,
são as conquistas sociais e trabalhistas, bem como as vinculações
orçamentárias como os gastos com saúde e educação. Mas não é apenas isso
que se quer revogar: é o direito político fundamental dessa república, o
sufrágio universal.
Revogar o sufrágio universal, eliminar as eleições? Não, não se trata
disso, seria pouco realista, pelo menos por enquanto. Mas algumas
restrições são cogitadas: voto distrital, voto voluntário. Também não se
trata de eliminar as eleições – pelo menos como antídoto as já
longínquas lembranças da ditadura servem. Não é isso. O que está em
marcha são seguidos experimentos, homeopáticos, visando a tornar as
eleições irrelevantes.
Tornar as eleições irrelevantes – guardemos essa ideia. Eleições
seguiriam existindo, mas seu efeito seria inócuo. Ou seja, trata-se de
esterilizar o poder do voto. É uma receita velha dos neoconservadores,
já anunciada pela famosa Comissão Trilateral em 1972: o Estado está
sobrecarregado pelas demandas populares, o capitalismo está sendo
inviabilizado pela democracia, resta apenas o caminho de ‘disciplinar’ a
democracia submetendo-a a regras superiores, isto é, definidas por
seres superiores, os guardiães do mercado e da oligarquia.
Texto completo em: http://jornalggn.com.br/noticia/o-golpe-e-mais-do-que-um-golpe-por-reginaldo-moraes