Numa ironia da História, o Brasil, um vasto continente que quando Império, tentou pelas armas evitar que o ditador paraguaio Francisco Solano Lopes ampliasse seus domínios por terras brasileiras, vê hoje quase 150 anos depois aquilo que se pensava ser um país diferente na América Latina, transformar-se na "Grã República Del Paraguay".
E é isso que nos mostra texto de autoria de Paulo Nogueira publicado hoje no "Diário do Centro do Mundo":
Conforme previsto, Renan se ajoelhou diante da plutocracia.
Disse uma vez que a única diferença entre o circo da Câmara e o circo do Senado é que o circo da Câmara tem mais palhaços.
Isso ficou claro mais uma vez hoje na sessão do Senado em que Renan
Calheiros atropelou o presidente interino da Câmara Waldir Maranhão.
Maranhão decidira anular a sessão esdrúxula em que, sob o comando de
Cunha, os deputados federais aprovaram o impeachment.
Na prática, Renan se ajoelhou diante da plutocracia. A Globo
pressionou e intimidou, como sempre faz quando seus interesses podem ser
contrariados.
Um helicóptero da Globo seguiu o carro em que Renan se dirigia ao
Senado para deliberar sobre a decisão de Maranhão. O significado do
helicóptero era: faça o que queremos que você faça ou nós acabamos com
você.
Renan, evidentemente, entendeu o recado, e se acoelhou. Sua biografia
era virgem em atos de bravura, e não foi hoje que isso mudou. Mesmo
assim, senadores golpistas como Caiado louvaram a “coragem” e a
“altivez” de Renan.
Que coragem, que altivez?
Parecia que Renan tinha se deixado atropelar por um caminhão no
esforço desesperado e bem sucedido de salvar uma criancinha no meio da
rua.
Coragem, num país como o Brasil, é enfrentar os plutocratas e, entre estes, sobretudo a Globo.
O dinheiro da plutocracia compra tudo no país, incluído o Congresso
que está derrubando Dilma. O financiamento privado das campanhas deu
nisso que fomos obrigados a ver nas últimas semanas na Câmara primeiro e
agora no Senado.
É o pior Parlamento que o dinheiro pôde comprar.
Pelo menos nisso Waldir Maranhão mostrou bravura. Ele será perseguido
implacavelmente pela mídia, daqui por diante. Mas alguma coisa nele o
levou a um tipo de enfrentamento que os políticos sempre recusam.
Renan, não.
Agora é previsível que o caso seja submetido ao SFT, onde não se deve
esperar dos eminentes magistrados nenhuma demonstração de independência
diante da plutocracia.
Um STF sério jamais teria deixado Cunha comandar, com sua ficha
corrida e sua volúpia por golpes sujos, um processo no qual estavam em
jogo a democracia e 54 milhões de votos.
Tudo isso posto, o Brasil virou um imenso Paraguai.
Tarde demais, o governo decidiu agir à maneira paraguaia. Em Roma,
aja como os romanos. Na Suécia, como os suecos. Só que não estamos na
Suécia, e sim no Paraguai.
O governo demorou a entender isso. Em sociedades avançadas não existe
nada parecido com uma Globo para sabotar, sem pudor e sem
consequências, democracias.
Com seu republicanismo suicida, tão bem expresso nas nomeações de
juízes do STF e nas quantidades fabulosas de dinheiro público dado à
imprensa plutocrática, o PT agiu como se estivesse em algum lugar onde
as instituições funcionam e os votos populares são respeitados.
Mas estava no Paraguai. Neste grande, lastimável Paraguai chamado
Brasil. E neste engano fundamental foi apeado do poder num golpe
legitimamente paraguaio.