Saiu
hoje e sentença do juiz Sérgio Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba
contra José Dirceu. Condenado a 23 anos em regime fechado, um homem de
70 anos vê seu horizonte limitado à liberdade aos 93 anos ou à morte
numa cela imunda e fétida como o são as dos presídios no Brasil.
Para
Sérgio Moro de nada valem os documentos legais e legítimos que provaram
a correção dos rendimentos de Dirceu. Nenhum deles, mesmo com
procedência comprovada, serve para atenuar a sede sangue e de morte do
homem que deveria ser justo e correto em suas sentenças.
Não o foi e a História o dirá como bem comenta Paulo Nogueira em texto antológico publicado hoje no Diário do Centro do Mundo.
A pena de 23 anos para Dirceu é o triunfo da perversão de justiça feita por Moro.
Por Paulo Nogueira
Não era contra a corrupção. Era contra o PT.
Essa é uma das conclusões essenciais da campanha movida pela plutocracia em nome da “moralidade” da qual resultou o golpe.
Dirceu, condenado hoje por Moro a 23 anos de prisão, foi uma das vítimas dessa perversão de justiça.
Três líderes petistas tinham que ser destruídos para o golpe plutocrático funcionar. Lula, Dilma e ele, Dirceu.
O primeiro da fila foi Dirceu. A imprensa, sobretudo a Veja,
abandonou qualquer fundamento jornalístico para assassinar sua
reputação e colocá-lo na prisão.
Transformaram-no no que ele definitivamente não é: um monstro. Esquarteje-se esse monstro.
Na perseguição, a Justiça foi cúmplice da mídia. Primeiro foi Joaquim
Barbosa, durante o Mensalão. Barbosa sabia que quanto mais espezinhasse
Dirceu mais seria louvado pela imprensa.
Depois, Moro com a Lava Jato completaria o serviço sujo. A condenação
absurda de Dirceu a 23 anos é o fecho da obra de Moro contra um dos
grandes arquitetos do PT.
Uma sessão de interrogatório de Moro contra Dirceu é exemplar. Moro
revelou, ou fingiu, uma ignorância desumana em relação a atividades que
renderam dinheiro a Dirceu.
Com seus relacionamentos com líderes internacionais, Dirceu era o
consultor ideal para empresas interessadas em fechar negócios em outros
países.
É uma atividade comuníssima no mundo globalizado e capitalista. A
Ambev, para ficar num caso, tinha uma pendência na Venezuela. Quem
melhor que Dirceu, amigo de Chávez e de Maduro, para auxiliar a Ambev
nessa tarefa?
É um serviço sempre remunerado. Dependendo dos valores em questão, muito bem remunerado.
Foi constrangedor ouvir as questões de Moro, com sua voz fina tão
contrastante com a fantasia de super-heroi que a imprensa tentou lhe
por.
A única manifestação de decência, naquele interrogatório, veio do
interrogado. Pacientemente, Dirceu explicou ponto por ponto das questões
que Moro lhe fez. Num gesto de altivez e lealdade, quando lhe foi
indagado se tinha algo a dizer a mais no final, afirmou que “o
presidente Lula” jamais participara de nada que pudesse incriminá-lo.
O real crime de Dirceu, neste país que deixa um psicopata ladrão como
Eduardo Cunha roubar durante décadas, é ser um inimigo da plutocracia.
O resto é encenação.
A sentença de 23 anos lavrada por Moro é o ápice dessa antijustiça. É
uma coisa tão patética e abstrusa quanto os exercícios de “dosimetria”
que fixaram as penas do Mensalão.
Na Noruega, uma sociedade imensamente mais avançada que o Brasil
construído pelos plutocratas predadores, 21 anos de cadeia foi a
sentença de Anders Breivik, o fanático de direita que matou dezenas de
jovens de um partido para ele complacente contra a “estratégia” de
dominação muçulmana. Dois anos menos que Dirceu, portanto.
Ou a Noruega está errada ou Moro e a Justiça brasileira estão
errados. Faça sua escolha. (Breivik, caso se mostre perigoso ao fim da
sentença, poderá ficar preso mais tempo.)
Mais que tudo, a decisão de Moro sobre Dirceu é uma evidência mais do que justiça parcial é ainda pior do que justiça nenhuma.
Na justiça parcial, você autoriza determinado grupo – a plutocracia –
a esmagar o resto da sociedade. Na justiça igualmente falha, você
estabelece ao menos uma meritocracia darwiniana: vence quem melhor se
adapta às circunstâncias, não importa o dinheiro em jogo.