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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Moro: o juiz quer a morte

Saiu hoje e sentença do juiz Sérgio Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba contra José Dirceu. Condenado a 23 anos em regime fechado, um homem de 70 anos vê seu horizonte limitado à liberdade aos 93 anos ou à morte numa cela imunda e fétida como o são as dos presídios no Brasil. 

Para Sérgio Moro de nada valem os documentos legais e legítimos que provaram a correção dos rendimentos de Dirceu. Nenhum deles, mesmo com procedência comprovada, serve para atenuar a sede sangue e de morte do homem que deveria ser justo e correto em suas sentenças. 

Não o foi e a História o dirá como bem comenta Paulo Nogueira em texto antológico publicado hoje no Diário do Centro do Mundo. 


A pena de 23 anos para Dirceu é o triunfo da perversão de justiça feita por Moro. 

 Por Paulo Nogueira


Perseguido impiedosamente: Dirceu
Perseguido impiedosamente: Dirceu

Não era contra a corrupção. Era contra o PT.

Essa é uma das conclusões essenciais da campanha movida pela plutocracia em nome da “moralidade” da qual resultou o golpe.

Dirceu, condenado hoje por Moro a 23 anos de prisão, foi uma das vítimas dessa perversão de justiça.
Três líderes petistas tinham que ser destruídos para o golpe plutocrático funcionar. Lula, Dilma e ele, Dirceu.

O primeiro da fila foi Dirceu. A imprensa, sobretudo a Veja, abandonou qualquer  fundamento jornalístico para assassinar sua reputação e colocá-lo na prisão.

Transformaram-no no que ele definitivamente não é: um monstro. Esquarteje-se esse monstro.
Na perseguição, a Justiça foi cúmplice da mídia. Primeiro foi Joaquim Barbosa, durante o Mensalão. Barbosa sabia que quanto mais espezinhasse Dirceu mais seria louvado pela imprensa.

Depois, Moro com a Lava Jato completaria o serviço sujo. A condenação absurda de Dirceu a 23 anos é o fecho da obra de Moro contra um dos grandes arquitetos do PT.

Uma sessão de interrogatório de Moro contra Dirceu é exemplar. Moro revelou, ou fingiu, uma ignorância desumana em relação a atividades que renderam dinheiro a Dirceu.

Com seus relacionamentos com líderes internacionais, Dirceu era o consultor ideal para empresas interessadas em fechar negócios em outros países.

É uma atividade comuníssima no mundo globalizado e capitalista. A Ambev, para ficar num caso, tinha uma pendência na Venezuela. Quem melhor que Dirceu, amigo de Chávez e de Maduro, para auxiliar a Ambev nessa tarefa?

É um serviço sempre remunerado. Dependendo dos valores em questão, muito bem remunerado.
Foi constrangedor ouvir as questões de Moro, com sua voz fina tão contrastante com a fantasia de super-heroi que a imprensa tentou lhe por.

A única manifestação de decência, naquele interrogatório, veio do interrogado. Pacientemente, Dirceu explicou ponto por ponto das questões que Moro lhe fez. Num gesto de altivez e lealdade, quando lhe foi indagado se tinha algo a dizer a mais no final, afirmou que “o presidente Lula” jamais participara de nada que pudesse incriminá-lo.

O real crime de Dirceu, neste país que deixa um psicopata ladrão como Eduardo Cunha roubar durante décadas, é ser um inimigo da plutocracia.

O resto é encenação.

A sentença de 23 anos lavrada por Moro é o ápice dessa antijustiça. É uma coisa tão patética e abstrusa quanto os exercícios de “dosimetria” que fixaram as penas do Mensalão.

Na Noruega, uma sociedade imensamente mais avançada que o Brasil construído pelos plutocratas predadores, 21 anos de cadeia foi a sentença de Anders Breivik, o fanático de direita que matou dezenas de jovens de um partido para ele complacente contra a “estratégia” de dominação muçulmana. Dois anos menos que Dirceu, portanto.

Ou a Noruega está errada ou Moro e a Justiça brasileira estão errados. Faça sua escolha. (Breivik, caso se mostre perigoso ao fim da sentença, poderá ficar preso mais tempo.)

Mais que tudo, a decisão de Moro sobre Dirceu é uma evidência mais do que justiça parcial é ainda pior do que justiça nenhuma.

Na justiça parcial, você autoriza determinado grupo – a plutocracia – a esmagar o resto da sociedade. Na justiça igualmente falha, você estabelece ao menos uma meritocracia darwiniana: vence quem melhor se adapta às circunstâncias, não importa o dinheiro em jogo.

Moro vai passar para a história como um servo da plutocracia. Dirceu, como uma vítima dela.