O Luís Nassif Online publica em seu Blog um texto que mostra bem a quantas andam as influências americanas no golpe no Brasil. O texto está no endereço nele marcado, no original.
Diplomacia cifrada de Washington apoia tentativa de golpe no Brasil
Por Mark Weisbrot *
No HuffPost (EUA) - Versão original pode ser lida aqui
Tradução de Marina Lang
No dia seguinte à votação de impeachment
na Câmara dos Deputados do Congresso do Brasil, um dos líderes da
iniciativa, senador Aloysio Nunes, viajou a Washington D.C. Ele tinha reuniões agendadas com diversas autoridades, incluindo Thomas Shannon, do Departamento de Estado.
Shannon tem um perfil relativamente
discreto na mídia, mas ele é o número três no Departamento de Estado.
Até mais significativo neste caso, trata-se da pessoa mais influente na
política do Departamento de Estado dos EUA para a América Latina. Ele
será o único a fazer recomendações ao secretário de Estado John Kerry
sobre o que os EUA devem fazer caso os esforços em andamento para
afastar a presidenta Dilma Rousseff prossigam.
A disposição de Shannon para se encontrar
com Nunes, apenas dias depois da votação do impeachment, emite um sinal
poderoso de que Washington está embarcando com a oposição neste
empreendimento perigoso. Se ele quis demonstrar que Washington era
neutra neste conflito político violento e profundamente polarizado, não
deveria ter uma reunião com um protagonista de alto escalão do outro
lado, especialmente neste momento em particular.
A reunião entre Shannon e Nunes é um
exemplo do que pode ser chamado de “diplomacia cifrada” (“dog-whistle
diplomacy”). Ela mal aparece no radar midiático que reporta o conflito
e, portanto, é improvável que gere reação. Mas os protagonistas sabem
exatamente o que isso significa. É por isso que o partido de Nunes, o
PSDB, tornou público o encontro.
Para ilustrar com outro exemplo de
diplomacia cifrada: em 28 de junho de 2009, militares hondurenhos
sequestraram o presidente do país, Mel Zelaya, e colocaram-no num avião
para fora do país. Em resposta, o comunicado da Casa Branca não condenou
este golpe, mas preferivelmente invocou “todos os atores políticos e
sociais em Honduras” a respeitar a democracia.
O sinal cifrado funcionou perfeitamente;
mais importante, os líderes do golpe e seus apoiadores em Honduras,
assim como cada diplomata em Washington, sabiam exatamente o que isso
significava, assim como os comunicados condenando o golpe e exigindo a
restauração do governo democrático que se espalharam ao redor do globo.
Todo o mundo sabia que aquilo era, em código diplomático, um claro
comunicado de apoio ao golpe. Os eventos que seguiram ao longo dos seis
meses seguintes, com Washington fazendo tudo o que pudesse para ajudar a
consolidar e legitimar o governo golpista, foram muito previsíveis a
partir desta declaração inicial. Hillary Clinton, posteriormente, admitiria em seu livro “Hard Choices”, de 2014, que trabalhou com sucesso a fim de prevenir o retorno do presidente democraticamente eleito.
Tom Shannon tem uma reputação de parceiro
amigável entre os diplomatas latino-americanos, um oficial de carreira
experiente no serviço diplomático que está disposto a sentar e conversar
com governos em desacordo com a política dos EUA para a região. Mas ele
também tem muita experiência com golpes.
Alguns dos e-mails vazados de Hillary Clinton lançam luz adicional sobre o papel dele
no auxílio da consolidação do golpe hondurenho. Ele foi, também, um
funcionário de alto escalão do Departamento de Estado durante o golpe na
Venezuela, em abril de 2002, sobre o qual existem evidências documentais substanciais do envolvimento dos Estados Unidos.
E quando o golpe parlamentar no Paraguai
aconteceu em 2012 – algo similar ao que está acontecendo no Brasil, mas
com um processo que impediu e removeu o presidente em apenas 24 horas –
Washington também contribuiu
com a legitimação do governo golpista na sequência. (Em contraste,
governos sul-americanos suspenderam o governo golpista via Mercosul, o
bloco comercial regional, e UNASUR – a União das Nações Sul-Americanas.)
Shannon era embaixador no Brasil à época, mas ainda era uma das
autoridades mais influentes na política hemisférica.
O Departamento de Estado dos EUA
respondeu às questões sobre as reuniões de Nunes dizendo: “Este encontro
foi planejado por meses e foi organizado a pedido da embaixada
brasileira”. Isto, porém, é irrelevante. Significa, apenas, que a equipe
da embaixada brasileira estava, como questão de protocolo diplomático,
envolvida na realização das reuniões. Não implica em consentimento da
administração de Dilma Rousseff, tampouco altera a mensagem política que
o encontro com Shannon envia à oposição do Brasil.
Tudo isso é, claro, consistente com a
estratégia de Washington em resposta a governos de esquerda que
lideraram a maior parte da região no século 21. Raramente se perdeu uma oportunidade
de quebrar ou de se livrar de qualquer um deles, e o desejo de
substituir o governo do Partido dos Trabalhadores no Brasil – por um
governo mais complacente, de direita – é bastante óbvio.
* Mark Weisbrot é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política em Washington D.C. e presidente do Just Foreign Policy.
Ele também é autor do novo livro “Failed: What the ‘Experts’ Got Wrong
About the Global Economy“ (2015, Oxford University Press).
(*Tradução livre de Marina Lang, com
grifos nossos; realizada sem fins comerciais ou lucrativos, apenas para
conhecimento do povo brasileiro sobre seu conteúdo)
A propósito vale reler uma análise publicada pelo ativista Francisco Costa no Facebook, com algumas coisas a se pensar...
"Em que pese a minha dificuldade com línguas que não a portuguesa e as limitações do Google Tradutor, venho passeando por blogs europeus, buscando análises independentes, e há uma unanimidade em todo o mundo: este golpe vem sendo trabalhado ha pelo menos uma década, pelos serviços de inteligência norte americanos, contando com informantes e colaboradores brasileiros, entre eles José Serra, FHC, Aloysio Nunes, Sergio Moro, Gilmar Mendes e o próprio Michel Temer, nomes confirmados pela Wikileaks, além de jornalistas, principalmente baseados na Rede Globo, a começar por William Wlack, este, mais que informante e colaborador, espião.
Temer não passa de um marionetes, um mamulengo do governo norte americano (o termo marionete, usado em relação a Temer, é corriqueiro, na Europa).
O pacote de maldades previsto inclui muito mais do que pensamos e esperamos, vai se aprofundar até a contratação, pelo governo brasileiro, de funcionários da Goldman Sachs e do Fundo Monetário Internacional – FMI, para gerir a nossa economia, conforme os acordos pré-golpe, documentados.
A Lava Jato, o boicote do parlamento, a parcialidade do judiciário e do Ministério Público, a crise artificialmente plantada, a venalidade da mídia... Não foram fatos isolados e por acaso coincidentes, foi tudo milimetricamente planejado, inclusive as manifestações lideradas por grupos como o Brasil Livre, Vem pra Rua e Revoltados on Line, financiados por mega empresários norte americanos, entre eles os irmãos Charles e David Koch.
Em jogo, a velha doutrina da “América para os americanos”, agora ameaçada pelos Brics, que os norte-americanos têm não como concorrentes, mas como inimigos.
A guerra antiga, convencional, cara, no sentido de onerosa e de querida, para os Estados Unidos e aliados, foi substituída pelo que eles chamam de guerra híbrida, onde os tiros só são dados depois que se esgotaram todas as possibilidades de golpes, via parlamento ou judiciário.
O mecanismo é simples, já deu certo em Honduras e no Paraguai, errado na Síria e o Brasil ainda é uma incógnita.
E como funciona essa guerra? Descartado o envolvimento das Forças Armadas (por isso em nenhum momento os nossos militares se manifestaram), entram o judiciário, investigando a partir de informações dadas pelos serviços de informações dos EE UU (por isso tantas viagens de Moro e de Promotores do Ministério Público aos Estados Unidos: por isso a irritação da Dilma, no episódio da espionagem sobre a Petrobras); o legislativo, obstruindo os trabalhos ou negando a aprovação de matérias necessárias ao bom desempenho do executivo; e a mídia, alardeando uma crise artificial e desconstruindo as imagens de lideranças, a partir de vazamentos das investigações.
Nas redes sociais, milhares de ativistas remunerados (só o PSDB chegou a ter 9 000), agindo em três níveis: no mais baixo, espalhando calúnias em fotos editadas, dirigidas aos analfabetos funcionais, reprodutores automáticos do lido, sem questionamento; no nível médio, desconstruindo a reação, pela desqualificação (em todas as vezes em que afirmei, em postagens, que os americanos estavam por trás do golpe, idiotas remunerados afirmaram que era a teoria da conspiração, uma neurose de esquerdistas); e no nível superior, manipulando dados, estatísticas e conceitos.
Para comover e impressionar, reeditaram velhos fantasmas, como o comunismo, agora travestido de bolivarismo, inflação galopante, desemprego em massa, roubalheira desenfreada...
Repito, nada disso foi por acaso, e podemos perceber ao consultar o documento “Wikileaks Cabos Diplomáticos Relacionados”, onde estão as trocas de mensagens, do então deputado federal Michel Temer, passando informações e recebendo orientação do Conselho Nacional de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Lastimo pela inocência do governo brasileiro, que, ao contrário de Maduro, Morales e outros, não percebeu o que estava acontecendo ou, se percebeu, foi frouxo.
Irrita-me a inocência dos militantes de esquerda, atribuindo a Moro, Gilmar ou Aécio a paternidade do golpe, quando são apenas assalariados vassalos dos norte-americanos.
E frustra-me a esperança de muitos, de que o golpe será revertido. O judiciário está comprometido com o golpe, é parte do golpe, e nada fará.
Imaginando-se que na segunda etapa do processo de impeachment os golpistas não consigam os 54 votos no Senado, ainda assim Dilma não voltará, estão se estruturando para isso, é compromisso internacional.
Reverter, agora, só o povo, tomando consciência que hoje somos um país ocupado, e que temos que expulsar os invasores, representados pelos maus brasileiros que se venderam, e depois fazer justiça, sem dó nem piedade."