Luiz Fernando Veríssimo, em coluna para os jornais comenta a atual situação política no Brasil:
Quando vamos acordar para a barbárie golpista que ameaça o Brasil?
Às vezes imagino como seria ser um judeu na Alemanha dos anos vinte e
trinta do século passado, pressentindo que alguma coisa que ameaçava
sua paz e sua vida estava se formando mas sem saber exatamente o quê.
Este judeu hipotético teria experimentado preconceito e discriminação na
sua vida, mas não mais do que era comum na história dos judeus. Podia
se sentir como um cidadão alemão, seguro dos seus direitos, e nem
imaginar que em breve perderia seus direitos e eventualmente sua vida só
por ser judeu.
Em que ponto, para ele, o inimaginável se tornaria imaginável? E a
pregação nacionalista e as primeiras manifestações fascistas deixariam
de ser um distúrbio passageiro na paisagem política do que era, afinal,
uma sociedade em crise mas com uma forte tradição liberal, e se tornaria
uma ameaça real? O ponto de reconhecimento da ameaça não era evidente
(…). Muitos não o reconheceram e morreram pela sua desatenção à barbárie
que chegava.
A preocupação em reconhecer o ponto pode levar a paralelos
exagerados, até beirando o ridículo. Mas há algo difuso e ominoso se
aproximando nos céus do Brasil, à espera que alguém se dê conta e diga
“Epa” para detê-lo? Precisamos urgentemente de um “Epa” para acabar com
esse clima. Pessoas trocando insultos nas redes sociais, autoridades e
ex-autoridades sendo ofendidas em lugares públicos, uma pregação
francamente golpista envolvendo gente que você nunca esperaria, uma
discussão aberta dentro do sistema jurídico do país sobre limites
constitucionais do poder dos juízes… Epa, pessoal.
Se está faltando algo para nos avisar quando chegamos ao ponto de
reconhecimento irreversível, proponho um: o momento da posse do Eduardo
Cunha na presidência da nação, depois do afastamento da Dilma e do
Temer.