Nessas 72 horas que demos ao governo surgido do golpe parlamentar que denominaram "impeachment" uma trégua de comentários, um texto instigante chamou-nos a atenção. Foi escrito por Maria Inês Nassif e publicado no site da Agência Carta Maior.
Ali é feita uma narrativa histórica de como começou o processo que culminou no golpe de 11 de maio. A exposição da jornalista é concisa, baseada em dados reais e termina com os dois parágrafos que abaixo tratam da influência de Sérgio Moro no desfecho da crise do governo Dilma Rousseff.
E narrativa para a História e mostra como todos estamos sendo enganados pelo Judiciário que criou no Brasil um quadro de exceção institucional e deu o golpe sempre temido desde que Rui Barbosa afirmou que "a pior das ditaduras é da Judiciário.
Estamos vendo que sim.
Já são 11 anos de massacre, com armações com grande similaridade. O Ministério Público encontra um escândalo qualquer e começa a investigar, considerando provas basicamente de um lado. Sem consistência para pedir um inquérito, vaza os dados para um órgão de imprensa, que os publica como grande escândalo, desconhecendo o fato de que as provas não existem. Imediatamente, a matéria do jornal, baseada em vazamentos do próprio MPF, vira o indício que o MPF usa para pedir ao juiz – a Moro, ou ao STF, ou a algum outro – para abrir o inquérito. No caso de Moro, seguem-se prisões sem base legal e coações à delação premiada. Chovem no Youtube reproduções de interrogatórios presididos pelo próprio juiz Moro onde ele deixa claro ao interrogado – normalmente um velho com problemas de saúde -- que será libertado apenas se delatar; e de advogados protestando contra ele por não considerar sequer uma prova apresentada pela defesa antes de condenar um implicado. Nesses vídeos, é claro que Moro está investido da intenção de condenar antes de ouvir a defesa. Para ele, não existem inocentes em um campo político. No outro campo político, suas intenções são dóceis. O justiceiro é bastante permissivo com o campo político da direita.
Nada justifica que um juiz de um tribunal de exceção sobreviva numa democracia com amplos poderes, acima daqueles que a Constituição lhe confere, sem a aquiescência da maior instância judiciária. Moro existe e faz o que quer porque o sistema jurídico está contaminado pelo partidarismo. Moro não existiria sem um Barbosa que o precedesse. Moro não existiria sem o ministro Gilmar Mendes, que impunemente transformou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em palanques contra os governos do PT. Não existiria sem o ministro Dias Toffoli, que se tornou moleque de recados de Mendes; sem a tibieza das duas ministras mulheres; sem o conservadorismo ideológico de Teori Zavascki (que contamina o seu discernimento jurídico); sem a falsa objetividade jurídica de Celso Melo; sem a frouxidão de Edson Fachin; sem a excessiva timidez de Ricardo Lewandowisk. A Justiça não evitou o golpe porque é parte do golpe. O Ministério Público não reagiu ao golpe porque era um dos conspiradores.
Texto completo em: http://jornalggn.com.br/noticia/o-golpe-do-impeachment-usou-a-toga-por-maria-ines-nassif