Dilma derrota o ódio: 2018 é logo ali!
por Rodrigo Vianna
Existem vitórias maiúsculas pela margem obtida sobre o oponente. E existem vitórias gigantescas, obtidas por estreita margem.
A reeleição de Dilma é uma vitória do segundo tipo. Gigantesca, pela onda conservadora que a candidata teve que enfrentar.
Dilma derrotou o ódio, derrotou a maior onda conservadora no Brasil desde 1964.
Muita gente comparou essa campanha de 2014 à eleição de 1989 – que
opôs Collor a Lula. Concordo, apenas em parte. O grau de tensão e
terrorismo midiático foi semelhante. Mas há uma diferença importante…
Collor era um líder solitário, com apoio da Globo e um discurso
messiânico. Aécio representa outra coisa: a direita orgânica, com apoio
dos bancos, de toda a velha mídia, da classe média raivosa, do
pensamento econômico conservador, dos pastores mais reacionários, dos
pitboys de academia que querem pendurar negros nos postes, do discurso
antipetista, anitinordestino.
Ganhar, contra uma onda desse quilate, significa uma vitória
gigantesca – que precisa, sim, ser comemorada. Com serenidade. Mas
também com alegria.
Dilma derrotou Aécio Neves, o típico garotão arrogante da elite
brasileira.
Derrotou o sorriso de deboche e a (falsa) superioridade que
Aécio exibiu nos debates. Derrotou o discurso de ódio que ele ajudou a
disseminar – dizendo que pretendia “libertar o Brasil do PT”.
O Brasil se libertou de Aécio e seus aeroportos privados, de Aécio e
sua irmã das sombras, de Aécio e sua corja de apoiadores na imprensa
mais porca que o Brasil já teve.
Dilma derrotou a revista da marginal e seus colunistas de longas e
conhecidas carreiras. Nos momentos de euforia, esses colunistas
enxergam-se gigantes. Mas são anões do jornalismo.
Dilma derrotou os blogueiros apopléticos e seus castelos de areia,
derrotou os comentaristas gagos, as mirians, os mervais e outros
quetais.
A vitória de Dilma é a derrota de ex-cineastas e ex-roqueiros que se afogam agora na baba elástica do ódio.
Mas Dilma também derrotou os neoliberais, os armínios e fhcs. Esses,
talvez, os mais honestos adversários – posto que apresentaram seu
programa e o debateram de forma aberta.
O Brasil rejeitou, pelo voto, o discurso de combate aos programas
sociais, de redução do Estado: foi a quarta derrota seguida do
liberalismo tucano – que quebrou o país nos anos 90.
Também derrotados foram a Globo e Ali Kamel. Quarta derrota seguida –
apesar dos pequenos golpes e das edições malandras na véspera do voto. O
JN perdeu peso. Kamel é o comandante de um império jornalístico em
decadência.
O Brasil rejeitou Kamel e suas teses de negação do racismo. O Brasil
apostou no combate à desigualdade, que deve seguir. O Brasil apostou num
governo que enfrentou a maior crise da história, desde 1929, sem jogar o
peso do ajuste nas costas dos trabalhadores.
O Brasil votou pelo planejamento e contra o privatismo que entrega até água para o mercado – matando São Paulo de sede.
Foi a vitória da razão de Estado contra o fundamentalismo do Mercado.
Foi a vitória do trabalhismo contra o moralismo rastaquera.
Foi a vitória de Vargas contra Lacerda, de Brizola contra Roberto Marinho.
De quebra, Dilma enfrentou e derrotou o oportunismo marinista. A Rede
– criada como aposta na “terceira via” e na “nova política – terminou a
eleição abraçada ao conservadorismo tucano.
Depois de destruir dois partidos (PSB e a própria Rede), Marina destruiu a própria imagem e o patrimônio politico acumulado.
Dilma derrotou o ódio nas urnas. Agora é preciso derrotar o ódio e o golpismo midiático.
Na última semana de eleição, já estava claro que o aparato midiático conservador apostaria num terceiro turno.
O PSDB e a velha mídia partirão para o ataque agora, porque sabem que
em quatro anos terão que encarar outro osso duro de roer: Lula.
O Brasil deve dizer a eles que tenham paciência. 2018 é logo ali.
Os tucanos que se recolham às fronteiras de 1932. E façam o debate com Lula em 2018.
Dilma certamente sabe que sua vitória gigantesca só foi possível
porque a campanha caminhou alguns graus à esquerda – incorporando jovens
e coletivos populares que são até críticos ao governo petista, mas
sabem que significa o tucanato.
Com a onda popular no segundo turno, a presidenta deixou de ser a
“gerente”, a administradora escolhida por Lula. Dilma virou a líder de
um projeto que só avançará se tiver coragem para colher nas ruas o apoio
que talvez lhe falte no Congresso.
Alianças ao centro serão necessárias, mas o apoio popular é que vai
garantir apoio verdadeiro, se o aparato conservador partir mesmo para o
terceiro turno.
O Brasil ficou mais forte. O ódio perdeu. De novo.