Há duas historinhas sobre a Bolívia que me veem à monte quando leio determinados textos. A primeira lembra o Barão do Rio Branco nas primeiras décadas do século vinte quando informado de que a Bolívia havia nomeado embaixador no Brasil o diplomata Dom Jose de Porras y Porras teria afirmado num rompante: "nesse caso do boliviano, o que irrita é a insistência".
A outra diz dos tempos da ditadura que, providencialmente, adaptamos aos dias de hoje. Conta ela que um diplomata brasileiro chegando a La Paz estranhava o fato de ser a Bolívia um país interior e ter um Ministro da Marinha. Questionando colega boliviano dele ouviu a seguinte frase: sí..la Bolívia tiene um ministro de Mariña e el Brasil lo tine un ministro de Justicia, Dom Jose Cardozo...
Pois é isso...
Invertendo o raciocínio, após ler o texto abaixo eu me pergunto: afinal para que serve José Eduardo Cardoso no Ministério da Justiça?
Eis o texto do Fernando Brito no "Tijolaço":
As instituições de
“brincadeirinha” do Brasil.
Autor: Fernando Brito
Estamos sabendo, desde ontem
, pela Folha, que ” a Polícia Federal tenta há sete meses ouvir o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas investigações instauradas a
partir de novos depoimentos dados em 2012 pelo operador condenado no
mensalão, o empresário Marcos Valério de Souza”.
Os repórteres da Folha esclarecem que ”não é uma intimação”, mas “um convite”.
Ou seja, nada, coisa alguma.
Não tem sentido “bater um papo” sobre acusações a sua honra. Ou há
acusações com um mínimo de evidências que justifiquem um depoimento ou
não se leva ninguém – menos ainda um ex-presidente da república – a
depor numa delegacia, na base do “ouvi dizer”.
Quer ver como isso é obvio?
O que a imprensa diria se Fernando Henrique Cardoso fosse “convidado”
para um “papinho” sobre as acusações de compra de votos para a
releeição, denúncia que está feita, documentada e publicada? Ou sobre o
que seria a “bomba atômica” referida por André Lara Resende, chefe
econômico da campanha de Marina Silva, sobre a tentativa de
favorecimento do grupo de Daniel Dantas na privatização das teles?
Afinal, uma acusação da Veja deve ter mais ou menos a credibilidade de um Marcos Valério, não é?
Mas a Folha passou todo o dia de ontem sustentando a história, plantada por “fontes” da Polícia Federal.
Mesmo depois de o próprio Lula dizer que “nunca fui convidado, notificado, nem pela Polícia Federal, nem pelos meus advogados”, o jornal não dá o braço a torcer.
Insiste na armação, dizendo que o convite tem sido reiterado desde
fevereiro e que Lula não o atende por achar que se trata de exploração
eleitoral.
O que, aliás, é obvio.
Marcos Valério prestou declarações acusatórias em setembro de 2012.
Porque se teria esperado um ano e meio, até a véspera da eleição, para
“convidar” Lula, se é que convidaram?
Se a Polícia Federal está com este ânimo de “Vamos Conversar?” bem
que poderia chamar o senhor Apolo Santana Vieira, que responde a um
processo por contrabando, e perguntar-lhe como e porque comprou um jato
para Eduardo Campos e Marina Silva.
Assim, sei lá, só por curiosidade...
Mas isso não é “republicano” na visão sabuja do Ministro da Justiça do Brasil.