A vaia da área vip é como nossa elite: padrão Fifa
Autor: Fernando Brito
A melhor coisa do jogo de ontem, para mim, foi a vaia dada à Presidenta Dilma Rousseff.
Partiu, como registra o Painel da Folha, da área VIP do estádio,
embora, claro, tenha tido gente nas arquibancadas acompanhando, como
também teve gente que fez “a vaia da vaia”.
Normal, nada demais.
O famoso “vaia-se até minuto de silêncio” de que falava Nélson Rodrigues.
Tirante o fato de que ela ter partido das pessoas mais privilegiadas –
os “padrão” Fifa, que ganharam seus ingressos no “bocão” dos
patrocinadores, Globo à frente, é o que acontece com qualquer autoridade
política anunciada em estádio.
Da vaia, falou muito bem o Juca Kfouri:
Se em Brasília, na abertura da Copa das Confederações, a
presidenta foi vaiada, em São Paulo foi xingada mesmo, com palavrões
típicos de quem tem dinheiro, mas não tem um mínimo de educação,
civilidade ou espírito democrático.
Ninguém precisava aplaudi-la e até mesmo uma nova vaia seria do jogo.
Mas os xingamentos raivosos foram típicos de quem não sabe
conviver com a divergência, mesmo em relação a uma governante
legitimamente eleita pelo povo brasileiro.
A elite branca tão bem definida pelo insuspeito ex-governador
paulista Cláudio Lembo, mostrou ao mundo que é intolerante e mal
agradecida a quem lhe proporciona uma Copa do Mundo no padrão Fifa.
Aliás, tivemos mesmo o ”padrão Fifa” tão cantado em prosa e verso
também na festa de abertura: um espetáculo frio, mecânico, bonitinho
mas ordinário. Com direito até a sumirem com o exoesqueleto do Miguel
Nicolelis.
Ninguém publicou uma notícia sequer sobre a preparação daquela coreografia glacial, não é?
Claro, era da Fifa, não era do Governo. Se fosse tinha especulação até com o custo da fantasia de samambaia.
Não tinha negro, exceto um ou dois, entre as centenas de bailarinos e figurantes.
Não tinha a arte popular, exuberante, lasciva, irreverente.
Não tinha improviso, mas também não tinha espontaneidade.
Ainda bem que no campo teve.
Gol contra com dez minutos é uma traulitada pra ninguém botar defeito.
E nosso time teve a calma para não entrar em parafuso e deixar Neymar empatar o jogo.
Com direito a uma bela exibição de Oscar, a quem a mídia já havia morto e enterrado.
O pênalti em Fred pode ter sido marcado com rigor excessivo, sim, mas
houve o puxão e um entrelaçada de braço do zagueiro croata. E o nosso
centroavante fez a malandragem que os “politicamente corretos” detestam,
o povão aplaude e a história consagra.
Ou o “la mano de Dios” de Maradona não é uma das histórias mais saborosas e repetidas do futebol?
Sigo repetindo o que venho dizendo.
A oposição brasileira virou o fio.
A Copa que funciona e a grosseria que Kfouri descreveu – e que Aécio
Neves confirmou com suas declarações de que “a presidente está sitiada” –
vão paulatinamente fazer que as pessoas percebam que não há frase mais
adequada para descrever nossa elite do que aquela que o colunista
esportivo escreveu:
Mostrou que “é intolerante e mal agradecida a quem lhe proporciona uma Copa do Mundo no padrão Fifa.”
E com quem quer lhe proporcionar um país com desenvolvimento e níveis
melhores de justiça social que não mantenham o Brasil no que sempre foi
o seu padrão, o “padrão selva”.
Mas também não surpreende: afinal, é gente completamente selvagem, apesar de ser elite.
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Do:
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Do:
Quem é essa turma do vai tomar no c…
O Brasil é um país
complexo e muito difícil de explicar, mas a sua elite não. Ela é
previsível e está sempre no mesmo lugar. As elites do mundo não costumam
ser muito diferentes, mas a brasileira é das piores.
Não à toa o Brasil foi o último país do planeta a acabar com a escravidão, não à toa somos um dos poucos países que só agora está vivendo um ciclo democrático de três décadas. Todos os outros nossos períodos de democracia duraram menos do que isso.
E todas as ditaduras e a escravidão longínqua que tivemos são obras da nossa elite. Que se julga o Brasil. Que se acha a dona do país. Que é altamente corrupta, mas que faz de conta que o que lhe move na política é a defesa do interesse público.
Os que xingaram Dilma na tarde de ontem de maneira patife e abjeta são os netos e bisnetos daqueles que torturam negros nas senzalas. São os filhos daqueles que apoiaram a tortura na ditadura militar. São os mesmos que há pouco fizeram de tudo para que não fosse aprovada a legislação da empregada doméstica e que nos seus almoços de domingo regados a champanhe francês e a vinho italiano sobem na mesa para gritar contra o Bolsa Família.
Essa elite que xingou Dilma daquela maneira no Itaquerão sempre envergonhou o país. E ontem só aprontou mais uma. Não foi um ponto fora da curva no processo histórico. E também não foi nada inocente.
Aécio Neves mais do que todos os outros candidatos que o PSDB já teve simboliza esse elite. É o típico bon-vivant, que nunca trabalhou na vida, que surfou até os 20 anos no Rio de Janeiro e que depois foi brincar de motocross até os 25 anos na montanhas de Minas Gerais, para só depois entrar na política e ir defender os interesses da família e de seu segmento social.
Ontem, Aécio deu uma entrevista ao Globo onde atiçava seu eleitorado a sitiar a presidenta da República. E ao mesmo tempo milhares de panfletos eram distribuídos na entrada do Itaquerão associando o PT à corrupção. Pra criar o clima do ataque à presidenta.
O mesmo Aécio que botou a polícia do Rio para invadir a casa de pessoas que ele suspeita estarem criticando-o na Internet. O mesmo Aécio que silenciou a imprensa de Minas Gerais e colocou-a de joelhos para os seus projetos pessoais.
Quem xingou Dilma não foi nem um punhado de inocentes e nem a massa ignara. Foi o pedaço do Brasil que odeia o brasileiro.
Para este pedaço do Brasil que é a cara de Aécio, tanto faz se o presidente é Dilma, Lula, José ou Maria. O que eles não aceitam e que o país não seja apenas um lugar para eles exercerem sua sanha dominadora.
E por isso que o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo, as políticas de cotas, a legislação da empregada doméstica e alguns outros programas sociais são tão abominados por essa gente. Eles querem que o povo morra de fome. Querem que o povo vá tomar naquele lugar. O xingamento não é para a presidenta. É para o Brasil que a elegeu. Porque na democracia desses patifes, o voto deles teria que valer mais do que o do sertanejo ou da mulher que luta pela sobrevivência dela e dos filhos nas periferias das grandes cidades.
Os netos e bisnetos dos escravistas e os filhos dos que apoiaram a tortura na ditadura. É esse Brasil que nos envergonha do ponto de vista histórico que nos envergonhou ontem xingando uma presidenta legítima, uma chefe de Estado que tem atuado dentro dos limites da Constituição.
Esse Brasil precisa ser derrotado mais uma vez. Porque se o projeto petista tem seus limites e poderia ser muito melhor, o desses caras é o que há de mais asqueroso. É o vai tomar no cu.
Não à toa o Brasil foi o último país do planeta a acabar com a escravidão, não à toa somos um dos poucos países que só agora está vivendo um ciclo democrático de três décadas. Todos os outros nossos períodos de democracia duraram menos do que isso.
E todas as ditaduras e a escravidão longínqua que tivemos são obras da nossa elite. Que se julga o Brasil. Que se acha a dona do país. Que é altamente corrupta, mas que faz de conta que o que lhe move na política é a defesa do interesse público.
Os que xingaram Dilma na tarde de ontem de maneira patife e abjeta são os netos e bisnetos daqueles que torturam negros nas senzalas. São os filhos daqueles que apoiaram a tortura na ditadura militar. São os mesmos que há pouco fizeram de tudo para que não fosse aprovada a legislação da empregada doméstica e que nos seus almoços de domingo regados a champanhe francês e a vinho italiano sobem na mesa para gritar contra o Bolsa Família.
Essa elite que xingou Dilma daquela maneira no Itaquerão sempre envergonhou o país. E ontem só aprontou mais uma. Não foi um ponto fora da curva no processo histórico. E também não foi nada inocente.
Aécio Neves mais do que todos os outros candidatos que o PSDB já teve simboliza esse elite. É o típico bon-vivant, que nunca trabalhou na vida, que surfou até os 20 anos no Rio de Janeiro e que depois foi brincar de motocross até os 25 anos na montanhas de Minas Gerais, para só depois entrar na política e ir defender os interesses da família e de seu segmento social.
Ontem, Aécio deu uma entrevista ao Globo onde atiçava seu eleitorado a sitiar a presidenta da República. E ao mesmo tempo milhares de panfletos eram distribuídos na entrada do Itaquerão associando o PT à corrupção. Pra criar o clima do ataque à presidenta.
O mesmo Aécio que botou a polícia do Rio para invadir a casa de pessoas que ele suspeita estarem criticando-o na Internet. O mesmo Aécio que silenciou a imprensa de Minas Gerais e colocou-a de joelhos para os seus projetos pessoais.
Quem xingou Dilma não foi nem um punhado de inocentes e nem a massa ignara. Foi o pedaço do Brasil que odeia o brasileiro.
Para este pedaço do Brasil que é a cara de Aécio, tanto faz se o presidente é Dilma, Lula, José ou Maria. O que eles não aceitam e que o país não seja apenas um lugar para eles exercerem sua sanha dominadora.
E por isso que o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo, as políticas de cotas, a legislação da empregada doméstica e alguns outros programas sociais são tão abominados por essa gente. Eles querem que o povo morra de fome. Querem que o povo vá tomar naquele lugar. O xingamento não é para a presidenta. É para o Brasil que a elegeu. Porque na democracia desses patifes, o voto deles teria que valer mais do que o do sertanejo ou da mulher que luta pela sobrevivência dela e dos filhos nas periferias das grandes cidades.
Os netos e bisnetos dos escravistas e os filhos dos que apoiaram a tortura na ditadura. É esse Brasil que nos envergonha do ponto de vista histórico que nos envergonhou ontem xingando uma presidenta legítima, uma chefe de Estado que tem atuado dentro dos limites da Constituição.
Esse Brasil precisa ser derrotado mais uma vez. Porque se o projeto petista tem seus limites e poderia ser muito melhor, o desses caras é o que há de mais asqueroso. É o vai tomar no cu.