Hoje, o colunista Jânio de Freitas, da Folha de S. Paulo - é isso mesmo, a Faia do Otavinho - comenta mais uma do Eduardim, o Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, neto de Miguel Arraes que, como bem se sabe, foi um dos mais íntegros e louvados líderes da esquerda deposta pelos militares, pelas armas, em 1964. O texto foi transcrito do "Tijolaço" do Fernando Brito:
Muito à vontade
Janio de Freitas
A definição de Eduardo Campos contra qualquer mudança na Lei da
Anistia, para possível punição legal de criminosos da repressão,
divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira, o pré-candidato à
Presidência adota o chavão dos militares acusados de tortura,
assassinatos e desaparecimentos: “Acho que a Lei da Anistia foi para
todos os lados. O importante agora não é ter uma visão de revanche”. Na
segunda, Eduardo Campos reforça, por um dado pessoal, a sua
identificação com aqueles militares: “Falo isso muito à vontade porque a
minha família foi vítima do arbítrio”.
Uma das maiores vítimas imediatas do golpe em 1964 foi Miguel
Arraes, então governador de Pernambuco. Retirado do palácio sob a mira
de armas, Arraes foi preso e, depois dos maus-tratos esperáveis,
deportado para a ilha de Fernando Noronha como prisioneiro sem
condenação e sem prazo. Quando, afinal, pôde voltar ao continente e à
vida civil, a iminência de nova prisão levou-o a asilar-se e daí ao
exílio.
Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes. Por isso diz estar “muito
à vontade” quando subscreve o pretexto da “anistia para os dois lados”.
Nas duas condições, está, portanto, desafiado a indicar os crimes de
que seu avô foi anistiado. Os crimes cuja anistia justifica, no que lhe
cabe, a anistia do lado dos que o prenderam depois de o derrubarem do
governo conquistado pelo voto e exercido com o que sempre se achou ser
impecável dignidade.
No exterior, residente na Argélia e depois na França, Arraes
integrou a oposição ativa à ditadura brasileira. É possível que, do
ponto de vista de Eduardo Campos, oposição ao regime dos generais
ditadores fosse prática criminosa, como os próprios consideraram. A
identificação de Eduardo Campos com o pretexto usado pelos militares
reforça tal hipótese. A ser assim, porém, sua pretensão a concorrer à
Presidência de um regime democrático não poderia ser vista senão como
farsa. Farsa perigosa, como sugerem as identificações que exibe.
Não menos sugestivo é que esse mesmo Eduardo Campos integra, com
os seus conceitos, o Partido Socialista Brasileiro. Vê-se que aprecia
essa coisa de “para todos os lados”. Mas, se não tem fatos a narrar que
justifiquem a anista de Arraes como compensação para a anistia do “outro
lado”, então Eduardo Campos está manchando a história de um homem
honrado. Da qual e do qual até agora só tirou proveito: sem ambas, não
se sabe o que seria, mas por certo não teria sido o que já foi e não
seria o que é.
*********
Agora, só falta o outro neto, o Arrocho das Neves renegar o passado de seu avô Tancredo.. Aí a coisa fica completa....