Sucupira era a cidade fictícia da novela "O Bem Amado" eternizada pela interpretação inesquecível de Paulo Gracindo com base na obra de Jorge Amado. Lá o prefeito Odorico Paraguassu tentava achar um cadáver para inaugurar sua maior obra, um cemitério, mesmo à custa de maracutaias, enganos, farsa e mentira...
Hoje, por obra e graça do Fernando Brito, do "Tijolaço" podemos reproduzir um artigo de Ricardo Mello, publicada - acredite, é verdade - pela Folha de S. Paulo, a "Faia do Otavinho" que clama por honestidade por parte do grupelho que quer por que quer ver o Brasil no buraco...
Por que não medidas ‘populares’?
Ricardo Mello
Diz o novo Odorico enganadoramente: vamos conversar???
Vamos tentar entender. Um Prêmio
Nobel como Paul Krugman, também colunista da Folha, considera que
estamos bem longe do precipício, ao contrário. “O Brasil passou por um
momento difícil, mas provou não ser vulnerável como se imaginava. Uma
década e meia depois, o Brasil é ainda menos vulnerável. Não há um
déficit gigantesco em moeda estrangeira, a situação fiscal é aceitável e
a inflação não é significativamente alta”, disse à revista “Carta
Capital”.
Já por aqui o cenário predominante entre analistas é o
de uma bomba-relógio. Fez-se tanta burrada, afirmam eles, que não
haverá outro jeito: em 2015, o bicho vai pegar. O quadro fiscal está uma
catástrofe, a inflação decola, a indústria perde fôlego, a gasolina
precisa de um reajuste “para ontem” e os salários sobem rápido demais. A
culpada? A política “desenvolvimentista” baseada em aumentos de gastos
públicos e maior presença estatal.
Sabe-se que previsões de economistas, na maioria das vezes, valem
tanto quanto uma nota de três reais. Após o fiasco de 2008, então, a
desmoralização ganhou as alturas -ainda que exista gente séria neste
meio. O melhor caminho, de todo modo, é avaliar como o país está depois
do já feito.
Nem precisa lembrar o sucesso de programas sociais contra a
miséria que ajudaram a melhorar a vida de dezenas de milhões de
brasileiros. Num cenário mundial para lá de conturbado, o Brasil não
apenas manteve, como estendeu o emprego para muita gente. As taxas de
desocupação estão entre as mais baixas da história.
Para sentir o tamanho desta conquista, experimente ligar para
alguém do Primeiro Mundo. Pode ser um americano ou um francês. Ou um
morador da Espanha, onde a taxa média de desemprego ronda os 25% —40% ou
mais no caso dos jovens. Se a linha não cair, fale com a alta roda.
Pergunte se alguém perdeu dinheiro investindo no Brasil. A bem da
verdade, para isso nem precisa de DDI. Ou alguém duvida de que nossos
banqueiros nunca sorriram tanto?
Ah, mas indicadores macro estão horrorosos, insistem os sábios.
Nem isso soa verdadeiro, vide Paul Krugman. De resto, a situação parece
coerente com um país que, entre os gênios que lançaram o mundo numa
recessão brutal, e um programa voltado ao bem estar social, escolheu a
segunda. Ainda bem.
Problemas há, sem dúvida. E aos poucos a oposição desenha o que
seria seu governo. Esqueça o horário pago da TV e preste atenção no que
os cardeais pensam de fato. Para estes, é batata: a hora é de medidas
amargas e impopulares.
O principal adversário, Aécio Neves, chegou a
fazer uma declaração espantosa: “Por mais que elas sejam impopulares
[...] Se o preço for ficar quatro anos com impopularidade, pagarei este
preço. Que venha outro presidente depois. Quero fazer o maior governo da
história do país”!
Claro, o tucano não estava num palanque. Sobra-lhe algum juízo
para não falar certas coisas em praça pública. A confissão ocorreu num
jantar coalhado de sobrenomes de bolso cheio.
Aécio evitou descer a
detalhes, mas é o caso de informar o público, não? Ou seja, como vão
ficar os salários? Haverá tarifaço? A gasolina subirá quanto? O preço do
pãozinho vai disparar? O que vai acontecer com os juros? E os impostos e
tarifas de transporte? A CLT vai acabar? O que será da aposentadoria?
Os programas sociais estão com os dias contados? Enfim, onde o povo fica
nessa plataforma “amarga e impopular”?
É curioso imaginar um candidato destes num comício: “Gente,
prometo medidas amargas e impopulares. Mas fiquem tranquilos: será o
maior governo da história. Sinto muito, mas estou pouco me lixando em
agradar vocês. Só não esqueçam de votar em mim.”
Nem Odorico Paraguaçu
seria capaz. A semelhança e diferença ficam por conta do cemitério. Se
em Sucupira o drama era achar um cadáver inaugural, as tais políticas
amargas e impopulares costumam produzir vítimas aos montões, em vários
sentidos.
Esse é o debate a fazer.