O assassinato de Santiago: a lógica da violência está nas ruas… e nas mídias
O cidadão Santiago Ilídio Andrade, colega cinegrafista da Band, foi
assassinado. Segmentos mais doentios da sociedade, e da baixa política,
buscam um mártir desde junho passado.
Santiago, atingido por aquele rojão ao cobrir uma manifestação no
Rio de Janeiro na última quinta-feira. Um dia antes tratamos aqui da
violência que se espalha.
Violência que têm causas seculares. E que tantos fazem de conta ser
produto apenas do aqui e do agora. Como fazem de conta ser produto
apenas da ação do Outro, dos Outros.
A violência é produto também do aqui e do agora. Mas não apenas.
Não cansaremos de repetir: nas últimas 3 décadas, a média de 50 mil
brasileiros têm sido assassinados a cada ano.
Em todo o país, no fim de semana, mais de uma centena de homicídios.
No estado de São Paulo, em dezembro, 436 mortes por violência. A
violência está ai, num país que tem toque de recolher quando escurece e
já nem se dá conta disso.
A violência está, esteve num dos pilares da formação da sociedade
brasileira. Ou a escravidão por 380 anos, quatro quintos da nossa
história oficial, não é violência?
O menino pobre e preto preso a um poste por "justiceiros", no Rio
de Janeiro, não é só violência. É uma assombrosa revisita ao passado dos
Pelourinhos.
A violência não está só nas ruas. Quem viaja pelo país sabe qual é o
prato servido, em cada cidade, antes do almoço ou do jantar: violência
em estado bruto.
Aqueles programas policiais com cenas cruas da barbárie nas ruas
são mera informação? Ou terminam sendo uma fórmula, também comercial, de
retroalimentação da violência?
E isso em espaços, Tv e rádio, que são concessões do Estado.
Há quem se valha da violência que está aí para pregar ainda mais
violência; filme já visto aqui e mundo afora e que sabemos como termina:
com o fascismo no poder.
Há quem, mesmo sem perceber, esteja alimentando essa caminhada. A
violência, antes e depois de tudo, pode estar também na palavra, e nas
linguagens todas.
O banditismo é violência. Como é violência a ação de "justiceiros",
"milícias", e a ação de polícias ainda treinadas com o receituário das
ditaduras.
Discursos de ódio induzem à violência, e tanto faz se nos
parlamentos ou em púlpitos. Não importa se na mídia das redes sociais ou
nas mídias tradicionais, chamadas de 'Grande". Ódio é ódio.
O verniz, seja ele real ou simulação, não esconde ódios e
recalques, o ressentimento e o oportunismo que embalam a lógica da
violência.
Tanto faz se em nome da pátria, religião, do futebol ou de
ideologias. Assim como miséria pode alimentar a violência, os ódios,
todos eles, fomentam essa lógica da violência.
O cidadão Santiago Andrade morreu nas ruas. A lógica daquela
violência mais refinada, a da linguagem, quase sempre travestida, já
opera nos espaços midiáticos. Os operadores supõem ter encontrado seu
mártir.