Um texto do Miguel do Rosário, no Blog "O Cafezinho" veio a público com uma sensação de alívio para todos nós editores de Blog de esquerda, os chamados "blogs sujos" por Zé Serra e, como se vê na matéria, também pelo jornal O Globo.
A propósito, pedimos aos leitores para conferir os anúncios do governo federal publicados neste Blog e que nos rendem mensalmente a imponente cifra de US$ 123,456,789,00, isto é a sequência numérica do teclado deste computador, ou em valores: nada mais do zero reais, dólares, euros ou outras moedas quetais...
Mas, a matéria de Miguel é série e merece leitura:
O ataque da Globo aos “blogs sujos” e as chances de um mundo novo
É
o tipo de matéria para ler com um brilho malicioso nos olhos. Quer dizer que a
toda poderosa Globo está mesmo preocupada com os “blogs sujos”? Aliás, que
sintomático a Globo usar a mesma expressão usada por José Serra, em 2010, para
se referir aos blogs políticos que lhe davam combate.
A
pretexto de escrever sobre a demissão de Helena Chagas, atual chefe da Secretaria
de Comunicação Social da Presidência da República, e sobre uma possível mudança
de rumo na política de comunicação da presidência da república, a Globo mostra
todo seu pavor de perder a “boquinha” que, há décadas, mantém junto à Viúva.
Em
matéria estampada na capa do site, a Globo dispara alguns
comentários sobre os “blogs sujos” que, evidentemente, foram sopesados a dedo
para nos prejudicar. Mas acabam nos dando mais cartaz do que talvez merecemos.
Por isso o brilho malicioso nos olhos.
Trecho
em questão:
*
Em
uma das reuniões do presidente do PT, Rui Falcão, com a bancada e integrantes
do Diretório Nacional, para discutir saídas para a crise depois das
manifestações de junho, houve um debate sobre pontos fracos na equipe
ministerial, com críticas à comunicação do governo e da presidente. A
reclamação era em relação à pequena margem de financiamento dos chamados “blogs sujos”, que fazem o enfrentamento com a
mídia tradicional e atacam a oposição.
— A comunicação do
governo é uma porcaria! O governo não tem a estratégia de comunicação nas redes
sociais. O Lula mantinha uma canalização de recursos para alguns blogs, mas a Dilma cortou tudo —
reclamou naquela reunião o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR),
segundo petistas presentes.
Na época, Vargas
desmentiu as críticas, mas nesta quinta-feira, diante da notícia da saída de
Helena Chagas, disse ao GLOBO:
— Não gosto dela. A
Helena foi pro pau! Beleza.
*
Eu
gostaria muito que algum órgão de pesquisa, público ou privado, fizesse uma
investigação sobre todas as verbas que a Globo recebeu do Estado desde a sua
fundação, em 1925. Receio que chegaríamos a uma cifra próxima ao PIB do Brasil
em 2013.
Tive
o privilégio de ler a História da Imprensa Brasileira, de Nelson Werneck Sodré,
onde o historiador fala sobre as campanhas da imprensa contra Getúlio Vargas. O
“mar de lama”, expressão que a mídia hoje substituiu por “mensalão”, eram os
financiamentos que o Banco do Brasil teria concedido a Samuel Wainer, para ele
fundar a Última Hora.
Sodré
levanta exatamente a quantia emprestada à Wainer. E revela a
indescritível hipocrisia dos jornais: todos haviam, obtido, em seu nascimento,
polpudos empréstimos do mesmo Banco do Brasil. Maiores, inclusive, do que os
dados à Última Hora. Mas não de Vargas e sim de governos anteriores. Por isso o
apego da nossa imprensa à “República Velha”.
Mais
tarde, alguns jornais brasileiros passariam a contar com uma outra segura fonte
de renda. Os EUA passam a injetar dinheiro, ilimitadamente, na mídia
brasileira.
O
tempo passa, a ditadura termina, vem a redemocratização, e os mesmos grupos de
mídia continuam drenando para si quase toda a verba publicitária federal.
Lula
e Dilma deram 6 bilhões de reais à Globo. É estatística. De 2000 a 2012,
a Globo recebeu 54,7% de toda a verba federal no período. É evidente que se
trata de uma caso absurdo de concentração, estimulada pelo Estado.
A
Constituição Brasileira tem cinco fundamentos e um deles é o “pluralismo
político”; não creio que este fundamento esteja sendo rigorosamente cumprido
pelo Estado, quando se trata de propaganda federal.
Além
de receber tal quantidade de verbas, a Globo agora também resolveu intimidar os
blogs. O seu diretor de jornalismo, Ali Kamel, vem processando vários
blogueiros, inclusive eu, pedindo indenização financeira. Meu julgamento em
primeira instância acontece no dia 11 de fevereiro. Ali Kamel quer me arrancar
41 mil reais, ou seja, quase a minha renda de um ano.
A
Globo recebe dinheiro do Estado e o usa para pagar advogados que tentam sufocar
financeiramente os “blogs sujos”.
Essa
é a situação que a Globo quer manter por tempo indeterminado.
O
curioso é a decisão da Globo em centrar fogo nos blogs. A Secom de Dilma cortou
verba, sim, mas não para os blogs, que nunca a tiveram (com exceção de Reinaldo
Azevedo e Noblat, sempre ricos em propaganda estatal), mas para toda a mídia
alternativa: jornais médios ou pequenos, sites de notícia, revistas, agências.
A Secom até passou a distribuir verba a alguns sites e blogs, mas em geral
espaços neutros, tipo “Bolsa de Mulher”. Ou pior, aplicando os recursos no
Adsense, do Google, o que apenas ajuda os EUA a ficarem ainda mais poderosos.
Não
vou cair, na armadilha da Globo de criminalizar Helena Chagas. Mantive o bom
combate contra o que ela representava, fazendo críticas duras, mas sempre de
maneira democrática e elegante. Muito esperta a estratégia da Globo, de
transformar Helena Chagas em heroína mal compreendida, atacada por vilões
truculentos do PT, possivelmente para incentivá-la a assumir posições políticas
de oposição. Aposto que a estratégia será repetida em toda grande imprensa.
Entretanto,
Helena Chagas fazia o que fazia por orientação de Dilma Rousseff. Minhas
críticas, portanto, tinham como endereço a própria presidente da república e
seu entorno. Se não deixei isso claro antes, faço-o agora.
Pela
mesma razão, cumprimento agora Dilma pela decisão de substituir Helena Chagas.
Antes tarde do que nunca.
Quanto
aos recursos da Secom, espero que assuma uma posição mais generosa em relação à
imprensa alternativa.
Que
tenha um olhar mais humano e mais democrático em relação à fauna midiática
nacional.
Que
libere recursos para os jornais e sites de movimentos sociais, sindicatos e
cooperativas, inclusive daqueles que lhe fazem oposição.
Que
estimule o surgimento de blogs de pesquisa universitária, educação e cultura.
Uma
iniciativa ousada e moderna, por exemplo, seria o governo incentivar, via
editais monitorados por escritores e acadêmicos, a criação de centenas de blogs
de ficção literária. De crítica de cinema. De crítica de artes plásticas!
A
Secom poderia incentivar o surgimento de blogs escritos por médicos,
psiquiatras e dentistas, devidamente monitorados por algum conselho do setor,
para ajudar os internautas a conhecer suas doenças e respectivos
tratamentos. Blogs voltados para estimular o empreendedorismo, ou discutir
mobilidade urbana e economia sustentável!
E
que faça anúncios, por que não?, em blogs políticos de esquerda!
A
nova Secom pode ajudar o Brasil, enfim, a incrementar sua produtividade
intelectual e aprimorar seu desenvolvimento na área de tecnologia das
informações.
Enquanto
a Globo se preocupa se os “blogs sujos” vão receber alguns trocados, a
sociedade brasileira está preocupada se haverá ou não um dia uma oferta mais
rica e mais plural de informações. Quer acesso a conhecimentos, dados e
opiniões diferentes daqueles propagados diariamente na grande mídia.
Sei
o quanto essas ideias parecem utópicas, ingênuas. Mas sonhar não custa nada.
De
qualquer forma, desejo bom trabalho a Thomas Traumann, novo ministro da Secom;
que não esqueça a lição de T.S.Eliot: “Aqueles que confiam em nós, nos educam.”