Ainda que isso agora não passe de mero sonho de todos os idealismos do mundo, o documento que o "Diário do Centro do Mundo" publica em seu site é um grito pela liberdade e pela democracia. Vale a pena lê-lo:
Morto aos 76 anos no final do ano passado, Thomas Naylor foi um
dos mais originais e provocativos intelectuais americanos de seu tempo.
Professor emérito de economia da Universidade Duke, autor de trinta
livros e libertário por inteiro, Naylor dedicou seus últimos anos à
causa da separação do estado em que vivia, Vermont, da federação
americana. Ele via nos Estados Unidos semelhanças notáveis com a tirania
soviética, encerrada com a desintegração do império russo
A causa de Naylor foi brilhantemente defendida no Manifesto Vermont, que o Diário se orgulha em compartilhar com o público.
Manifesto Vermont
Um espectro ronda os Estados Unidos, o tecnofascismo, um sistema em
que indivíduos livres permitem ao governo e às grandes empresas
controlar suas vidas através do dinheiro, dos mercados, da mídia e da
tecnologia. O resultado disso tudo é a perda de vontade política, de
liberdades civis e da cultura tradicional.
Nós, o povo de Vermont, acreditamos que os Estados Unidos da
América se tornaram muito grandes, muito poderosos, muito intrusivos,
muito materialistas, muito high tech, muito globalizados, muito
imperialistas, muito violentos, muito antidemocráticos e muito
ineficazes no atendimento às necessidades dos cidadãos e das pequenas
comunidades. Eleições presidenciais e parlamentares são compradas e
vendidas pelo maior lance. Governos estaduais e municipais também
assumem pouca responsabilidade para a solução de seus problemas
sociais, econômicos e políticos, de bom grado abdicando de suas tarefas
vitais.
Nossa nação sofre de megalomania – uma obsessão com poder
pessoal, influência, grandeza, riqueza. Vivemos sob o culto
obsessivo-compulsivo de tudo o que é grande – grande governo, grandes
cidades, grandes negócios, grandes escolas, grandes armas, grandes
redes de computadores, grande ciência e grandes, grandes partidos
políticos.
Mega-empresas, que não prestam contas a ninguém, nos dizem o que
comprar, quanto pagar e quando devemos substituir o que compramos.Também
nos dizem onde trabalhar, quanto receberemos, e quais serão nossas
condições de trabalho .
O World Trade Center foi o santuário da globalização, onde os fiéis
prestaram homenagem ao sistema internacional de produção em massa,
marketing de massa, distribuição de massa, consumo de massa,
mega-instituições financeiras e sistema global de telecomunicações — um
universo que funcionaria melhor se todos nós fôssemos o mesmo. Mas
muitas vezes a globalização foi conseguida através de coerção,
do coletivismo, da exploração, do monopólio e do poderio militar
americano.
A política externa americana é baseada na premissa da infalibilidade do
poder político, econômico, tecnológico e militar. Nossa história
difere pouco da de qualquer outro império. Ela está enraizada
no imperialismo diante dos nativos americanos, dos afro-americanos e das
nações que se colocam em nosso caminho. Desde o fim da II Guerra
Mundial, os EUA intervieram nos assuntos de 22 países, e nenhuma destas
intervenções foi precedida por uma declaração de guerra.
Como a guerra contra o terrorismo niilista se expande, é apenas uma
questão de tempo antes de o Pentágono restabelecer o serviço militar
obrigatório. Quantos habitantes de Vermont estão preparados para morrer
ou sacrificar suas crianças para fazer o mundo seguro para o McDonalds,
a Wal-Mart, os automóveis beberrões de gasolina, Bill Gates e o resto
dos 400 americanos mais ricos da Forbes?
Os EUA correm o risco de exaustão imperial, em que a soma das nossas
interferências globais excede o poder de defendê-las
todas simultaneamente. Como outros impérios – o romano, o otomano, o
espanhol, o napoleônico, o britânico e o soviético –, o império
americano pode vir abaixo por uma doença interna e não por uma ameaça
externa.
Pequenos ajustes pouco servirão para nosso país aleijado. Há apenas
uma solução: a dissolução pacífica dos Estados Unidos. Muitos habitantes
de Vermond vêem o American Way of Life com um olhar de desprezo —
afluência, tecnomania, culto corporativo, a militarização do espaço,
bajulação dos ricos e poderosos. Eles estão desiludidos com a
arrogância e a concupiscência do país, e anseiam por uma vida mais
simples, menos materialista, mais gratificante.
Vermont pode cuidar de si mesmo. O estado não tem bases militares,
nem grandes cidades, nem grandes instalações governamentais, e
praticamente não tem indústrias estratégicas. Como Noruega, Dinamarca,
Suécia e Suíça, Vermont não é uma ameaça a ninguém. Por que alguém iria
invadir Vermont? O que fariam com Vermont ?
Vermont tem pouco em comum com Boston, Nova York, Houston,
Los Angeles ou Chicago. Por que os moradores do estado deveriam ser
taxados para pagar a proteção militar de Nova York, o epicentro do
capitalismo global e ganância corporativa, ou Washington, a insípida
capital do Império ? Como é que Vermondt pode evitar uma guerra global
entre os que têm e os que não têm?
Não há soluções rápidas para os nossos problemas de grandeza e de
falta de conexão. Capacitar, alimentar e apoiar pequenas comunidades é
um processo lento e árduo.
Thomas Jefferson disse na Declaração de Independência: “Sempre
quequalquer forma de governo se tornar destrutiva, é direito do
povo alterá-lo ou aboli-lo, e instituir um novo governo.”
Chegou a hora de todos os cidadãos de Vermont pacificamente
se rebelarem contra o Império para (1) recuperar o controle de suas
vidas que foi tomado pelo grande governo, pelos grandes negócios, pelas
grandes cidades, pelas grandes escolas e pelas grandes redes de
computadores; (2) reaprender a cuidar de si mesmos num ambiente
descentralizado, menor, desmilitarizado e humanizado; e (3) aprender a
ajudar os outros a cuidar de si para que todos nós nos tornemos menos
dependente de um grande negócio, de um grande governo e de uma grande
tecnologia.
Nós, os cidadãos de Vermont, pacificamente e respeitosamente pedimos
aos deputados estaduais democraticamente eleitos para considerar uma e
apenas uma questão – a retirada de Vermont dos Estados Unidos da
América e o retorno a sua condição de república independente como foi
até1791. Uma vez que a declaração de secessão seja aprovada por uma
maioria de dois terços dos deputados, o governador de Vermont
terá poderes para negociar um acordo de separação com o secretário
de Estado.
No mundo do terrorismo global, qualquer estado pertencente aos EUA
está exposto aorisco de ataque terrorista, bem como ao recrutamento
militar de sua juventude. Secessão já não é apenas uma causa abstrata
libertária, mas um caminho para a sobrevivência.
Chegou a hora de
enfrentar a realidade de desunir ou morrer.