Esta matéria está no "Diário do Centro do Mundo" e mostra bem que no Brasil deste ano da graça de 2014 do nascimento de N. Senhor Jesus Cristo, há homens que agem pela lei e outros, sem ela...
Savonarola e o rolezinho de Demóstenes
em Florença
Nunca
as fotos de um homem e uma mulher passeando em Florença geraram tanto
barulho. Seriam absolutamente ordinárias se o casal não fosse formado
pelo ex-senador Demóstenes Torres e uma senhora.
As imagens foram publicadas no Blog da Cidadania.
Numa boa, Demóstenes passeia com a loira mais alta que ele olhando as
lojas — lambendo vitrines, como dizem os franceses. Estão ali flanando,
como dois turistas. Dois turistas ricos.
Eles param em frente à Louis Vuitton, na Piazza degli Strozzi. Estão
no coração da cidade. A algumas quadras está o Duomo, a alguns outros a
Basílica de Santa Maria Novella. Stendhal teve uma síncope diante da
beleza florentina, da herança do Renascimento pelas ruas, e escreveu um
ensaio sobre isso. Os sintomas ficaram conhecidos como “Síndrome de
Stendhal”.
O senhor calvo e a mulher certamente passaram pela Piazza della
Signoria, a magnífica Piazza della Signoria, onde ficava a sede governo.
É ali que se ergue uma réplica do Davi de Michelangelo. Foi ali que o
padre Savonarola foi queimado e o conspirador Francesco Pazzi enforcado.
Florença, que já foi a cidade mais poderosa do mundo, tem uma
história imensa de dinheiro, política e traição. No século 15, Lourenço
de Medici tinha uma rede de espiões e era implacável com os inimigos. O
tirano esclarecido comandou um império. É também um lugar caríssimo e
sofisticado. Estão lá todas os nomes famosos da moda italiana:
Ferragamo, Cavalli, Gucci, Prada, Enrico Coveri, Emilio Pucci etc.
Demóstenes está torrando uma grana, é evidente. Por quê?
Bem, porque ele pode.
É acusado de participação nos esquemas do bicheiro Carlinhos
Cachoeira. Foi cassado pelo Senado em julho de 2012 por quebra de decoro
parlamentar.
Segundo a Polícia Federal, que deflagrou a Operação Monte Carlo,
recebeu “vantagens indevidas”: viagens em aviões particulares, dinheiro
(R$ 5,1 milhões em diversos pagamentos; um deles de R$ 20 mil em notas
de 20 reais), garrafas de bebida e eletrodomésticos.
Está afastado das funções de procurador de Justiça do Ministério
Público de Goiás, mas é membro vitalício do MP. Recebe R$ 25 753 por
mês. Já ganhou, sem trabalhar, perto de R$ 400 mil, apenas aguardando a
decisão do processo (seu advogado, aliás, é o onipresente e onisciente
Kakay).
“Não existe animal mais cruel que o homem sem lei”, dizia o velho
Savonarola nos tempos em que organizava sua Fogueira das Vaidades.