Quando nos referimos a saudade da "ditabranda", de pronto vem à memória os generais de pijama que ainda hoje esbravejam contra as conquistas democráticas e em defesa de seus anos de chumbo...
O "Direto da Redação" publica excelente texto do Mário Augusto Jakobskind sobre o assunto:
A velha linguagem da época da Guerra Fria
O jornal o Globo a cada dia se supera em matéria de reacionarismo e
manipulação da informação. A edição do último dia 7 talvez tenha batido
recordes nesse sentido. De Arnaldo Jabor a José Casado, os leitores
foram “agraciados” com artigos gênero Clube Militar.
Jabor começou a destilar bílis criticando a exumação dos restos
mortais de João Goulart, pedido feito pela família do Presidente deposto
e atendido pela Comissão Nacional da Verdade em função dos fortes
indícios de que o Presidente deposto pode ter sido assassinado com troca
de remédios. Com linguajar da época da Guerra Fria, o comentário de
Jabor deve ter agradado sobremaneira os associados do Clube Militar
saudosistas da ditadura.
Já José Casado, em linguagem similar ao Departamento de Estado
destilava ódio contra o governo boliviano de Evo Morales. Ao estilo
sujíssima Veja, este jornalista repetia baboseiras acusando o governo
democrático do país vizinho de vínculos com o narcotráfico e assim
sucessivamente.
No caso de Casado, por coincidência ou não, o artigo foi postado em O
Globo quase ao mesmo tempo em que o Presidente Evo Morales assumia a
presidência pró tempore do G-77 e mais a China, cargo que ocupará por
todo ano de 2014. Morales tinha sido eleito pelo Grupo no ano passado e
nos primeiros dias do novo ano foi a Nova York assumir a função
designada pelos integrantes do G-77, espaço criado na Organização das
Nações Unidas em junho de 1964 com o objetivo de articular interesses
das nações do Sul em questões econômicas.
Além de não divulgar o fato para os seus leitores, O Globo concedeu
espaço para o articulista José Casado misturar alhos com bugalhos no
artigo intitulado Rede Coca em que falou da folha de coca como se fosse a
droga. E de quebra ainda criticou o governo brasileiro no episódio do
político boliviano, Róger Pinto Molina, que se encontra em Brasília,
depois de fugir da Bolívia com a ajuda do diplomata Eduardo Saboia.
Ao se referir ao senador boliviano, Casado simplesmente omitiu que
Molina responde a vários processos de corrupção em seu país. Mas aí, o
articulista de O Globo comentou apenas a versão dos opositores do
governo de que o senador é “político ameaçado por denunciar o avanço do
narcotráfico no governo Morales”.
A fúria de O Globo contra o governo Morales se ampliou quando o
Presidente boliviano declarou, após assumir a Presidência do G-77, que
no seu país “atualmente o poder está em mãos do povo e não de impérios,
pelo que não devem estar submetidos a condicionamentos e
paternalismos”. E foi mais adiante ao afirmar que quando não há grupos
que exploram, saqueiam e discriminam, a situação muda. Não estamos em
tempos de monarquias nem de outros grupos de elites que sempre
dominaram”.
E assim caminha a mídia de mercado. Se diz imparcial, mas na hora do
vamos ver fica geralmente do lado contrário aos governos de países que
não aceitam as imposições do Departamento de Estado norte-americano,
como notoriamente é o caso do governo Evo Morales.
Por estas e outras, não será de se estranhar se em pouco tempo, tanto
Jabor como Casado sejam convidados a apoiar os associados do Clube
Militar, saudosistas da ditadura e dispostos a defender de todas as
formas o regime que levou o país a uma longa noite escura que durou 21
anos. Na galeria dos convidados desta gente, já apareceram Merval
Pereira e Reynaldo Azevedo. Podem os leitores imaginar o motivo.
Enquanto isso, em Haia, a Corte Internacional está para examinar mil
casos de torturas e 200 assassinatos cometidos por soldados do Reino
Unido entre 2003 e 2008,. segundo informou a cadeia de televisão
britânica Sky News com base em fontes próprias.
Espera-se que o jornal mais vendido no Rio de Janeiro divulgue essa informação.
Mário Augusto JakobskindÉ
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador
do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da
Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de
Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOP