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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O pijama que fala...

Quando nos referimos a saudade da "ditabranda", de pronto vem à memória os generais de pijama que ainda hoje esbravejam contra as conquistas democráticas e em defesa de seus anos de chumbo... 

O "Direto da Redação" publica excelente texto do Mário Augusto Jakobskind sobre o assunto: 

A velha linguagem da época da Guerra Fria






O jornal o Globo a cada dia se supera em matéria de reacionarismo e manipulação da informação. A edição do último dia 7 talvez tenha batido recordes nesse sentido. De Arnaldo Jabor a José Casado, os leitores foram “agraciados” com artigos gênero Clube Militar.
Jabor começou a destilar bílis criticando a exumação dos restos mortais de João Goulart, pedido feito pela família do Presidente deposto e atendido pela Comissão Nacional da Verdade em função dos fortes indícios de que o Presidente deposto pode ter sido assassinado com troca de remédios. Com linguajar da época da Guerra Fria, o comentário de Jabor deve ter agradado sobremaneira os associados do Clube Militar saudosistas da ditadura.
Já José Casado, em linguagem similar ao Departamento de Estado destilava ódio contra o governo boliviano de Evo Morales. Ao estilo sujíssima Veja, este jornalista repetia baboseiras acusando o governo democrático do país vizinho de vínculos com o narcotráfico e assim sucessivamente.
No caso de Casado, por coincidência ou não, o artigo foi postado em O Globo quase ao mesmo tempo em que o Presidente Evo Morales assumia a presidência pró tempore do G-77 e mais a China, cargo que ocupará por todo ano de 2014. Morales tinha sido eleito pelo Grupo no ano passado e nos primeiros dias do novo ano foi a Nova York assumir a função designada pelos integrantes do G-77, espaço criado na Organização das Nações Unidas em junho de 1964 com o objetivo de articular interesses das nações do Sul em questões econômicas. 
Além de não divulgar o fato para os seus leitores, O Globo concedeu espaço para o articulista José Casado misturar alhos com bugalhos no artigo intitulado Rede Coca em que falou da folha de coca como se fosse a droga. E de quebra ainda criticou o governo brasileiro no episódio do político boliviano, Róger Pinto Molina, que se encontra em Brasília, depois de fugir da Bolívia com a ajuda do diplomata Eduardo Saboia.
Ao se referir ao senador boliviano, Casado simplesmente omitiu que Molina responde a vários processos de corrupção em seu país. Mas aí, o articulista de O Globo comentou apenas a versão dos opositores do governo de que o senador é “político ameaçado por denunciar o avanço do narcotráfico no governo Morales”.
A fúria de O Globo contra o governo Morales se ampliou quando o Presidente boliviano declarou, após assumir a Presidência do G-77, que no seu país “atualmente o poder está em mãos do povo e não de impérios, pelo que não devem estar submetidos a condicionamentos e paternalismos”.  E foi mais adiante ao afirmar que quando não há grupos que exploram, saqueiam e discriminam, a situação muda. Não estamos em tempos de monarquias nem de outros grupos de elites que sempre dominaram”. 
E assim caminha a mídia de mercado. Se diz imparcial, mas na hora do vamos ver fica geralmente do lado contrário aos governos de países que não aceitam as imposições do Departamento de Estado norte-americano, como notoriamente é o  caso do governo Evo Morales.
Por estas e outras, não será de se estranhar se em pouco tempo, tanto Jabor como Casado sejam convidados a apoiar os associados do Clube Militar, saudosistas da ditadura e dispostos a defender de todas as formas o regime que levou o país a uma longa noite escura que durou 21 anos. Na galeria dos convidados desta gente, já apareceram Merval Pereira e Reynaldo Azevedo. Podem os leitores imaginar o motivo.
Enquanto isso, em Haia, a Corte Internacional está para examinar mil casos de torturas e 200 assassinatos cometidos por soldados do Reino Unido entre 2003 e 2008,. segundo informou a cadeia de televisão britânica Sky News com base em fontes próprias.
Espera-se que o jornal mais vendido no Rio de Janeiro divulgue essa informação.

 Mário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOP