Élio Gaspari, colunista dos jornais "Folha de S. Paulo" e "O Globo", apontado no meio jornalístico por "o italiano (ele o é de nascença) que mais odeia o Brasil", escreveu uma série de quatro livros sobre a ditadura militar de 1964 no Brasil.
Valendo-se de sua proximidade e intimidade com o General Golbery do Couto e Silva, apelidado "o bruxo" e articulador de governos ditatoriais, colecionou um bom volume de documentos sobre aquela época e os usou nos quatro livros que tiveram boa vendagem e público.
Agora, em pleno ano de 2014, de forma, para nós no mínimo estranha, Gaspari resolve relançar sua obra a ela adicionando documentos inéditos que, ao que se diz, já estavam em seu poder e não integram nenhuma gravação de Edward Snowden. Entre eles gravação em que o presidente americano John F. Kennedy trata de intervenção militar no Brasil três meses antes de ser assassinado em Dallas, em novembro de 1963.
É revelação é chocante e mostra que ainda há muita gente no Brasil enganada a respeito de Kennedy que, por influência do anticomunismo rançoso da guerra fria e dos conservadores brasileiros, teve seu nome colocado em ruas, avenidas, praças e até cidade.
Junto a nossa sugestão de que protestemos contra essas homenagens transcrevemos texto do Fernando Brito de "Tijolaço" em que ele faz um paralelo entre Brasil, Vietnam e Kennedy, bem atual, por sinal....
Justiça a Jango: não deixou o Brasil virar um Vietnam
A gravação do diálogo de John Kennedy em que ele cogita de uma intervenção militar americana no Brasil e no Vietnã faz justiça ao ex-presidente João Goulart.
Jango não foi um covarde que deixou de reagir, quando podia, aos golpistas daqui.
Em agosto de 64, quatro meses depois do golpe no Brasil, o governo
americano forjou um ataque da marinha norte-vietnamita a seus navios,
para justificar a intervenção direta dos EUA naquele país.
Ali ficariam 10 anos, até serem escorraçados, mas deixando um rastro
de morte, destruição e sofrimento que aterrorizou o mundo inteiro.
Faria o mesmo aqui, naqueles dias, se houvesse resistência?
A gravação mostra que isso não é um delírio ou propaganda antiamericana.
A Quarta Frota já vinha para cá, em princípio para fornecer combustível e armas para os militares subversivos do golpe.
Jamais se saberá se Jango tinha ideia das intenções americanas em toda a sua extensão e até onde estavam dispostos a ir.
Mas, sabendo até que ponto foram em um país muito mais distante deles
e muito menos estratégicos, como o Vietnam, é possível imaginar.
Muitas vezes a estatura de um governante deve ser medida não pelo o que ele fez.
Mas pelo que ele impediu que se fizesse.
As mortes, as torturas, os exílios, banimentos e cassações foram imensos, cruéis, graves e imperdoáveis.
Mas, com certeza, nada perto do que fizeram ao povo vietnamita.
Jango teve uma grandeza tão extrema quanto o foi a pequenez daqueles
que estavam a pedir a invasão estrangeira em seu próprio país.
E que, se não os entregaram pelas armas, fizeram isso com nossa soberania.
Lentamente, a história, apesar de nossos Ministros do STF, vai apontando a gravidade de seus crimes.
Não foram apenas destruidores de vidas. Foram, alguns deles, traidores de sua pátria.
E há suas novas versões, que seguem desejando entregar este país, seu povo e nossas imensas riquezas.
Tomara que as novas gerações de militares consigam ver que o que
eles fizeram e representaram, sob palavras hipócritas, são aquilo que
mais ofende a nossa consciência de brasileiros, pedir e oferecer-se a
uma invasão militar estrangeira em nosso país.
Autor: Fernando Brito