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sábado, 14 de dezembro de 2013

Que aí tem coisa, tem....

O Fernando Brito, do "Tijolaço" acha que tem coisa na campanha quase explícita que o O Globo vem fazendo contra as investigações sobre possíveis assassinatos de Jango, JK e Lacerda. Por conta disso ele publica hoje um excelente artigo cotejando análise de Maurício Dias na Carta Capital em textos que vão fundo no assunto.

Confesso que depois de lê-los eu também acho que aí tem coisa... 

Os fantasmas da ditadura ainda nos assombram

14 de dezembro de 2013 | 13:28 Autor: Miguel do Rosário
jango

Maurício Dias, em sua coluna desta semana na Carta Capital, faz uma reflexão importantíssima:

“JK, JG e Lacerda morreram entre agosto de 1976 e maio de 1977. Apenas dez meses separam o desaparecimento dos três líderes políticos. Dois anos após isso, o general João Baptista Figueiredo, último presidente do ciclo militar, assinou a lei da anistia. Com os três vivos, a passagem da ditadura para a democracia teria sido diferente. Há uma história que sustenta isso.”

Me parece evidente que é preciso investigar a fundo o que aconteceu aos três líderes. Que a ditadura era assassina, já sabemos, mas precisamos saber até onde ela foi capaz de chegar. Precisamos saber a história completa. Aliás, quero registrar aqui que o jornal O Globo vem plantando várias notinhas para desqualificar as investigações sobre os assassinatos políticos da ditadura. 

Ancelmo Gois já plantou duas notinhas desmerecendo as suspeitas, com base em dezenas de indícios, sobre o assassinato de JK. Hoje foi a vez do Ilimar Franco dar uma notinha sonsa:

Retrabalho
 
Na onda da exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, a Câmara criou uma comissão para investigar a morte do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. Comissão semelhante há 12 anos, em 2001, concluiu: “Não há qualquer indício ou evidência que justifique a tese de assassinato. O acidente que o vitimou, restringiu-se a fatalidade”.


Eu chamo a notinha de sonsa mas deveria chamá-la hipócrita, porque em 2001 vivíamos outro momento político. Não tínhamos ainda a internet em sua pujança. Não tínhamos a blogosfera. Lula ainda não tinha vencido as eleições de 2002. 

Aliás, o fato da Globo estar pressionando para se abafar, mais uma vez, as investigações sobre as mortes de JK, Jango e Lacerda, é sinal de que aí tem coisa. 

Agora mesmo é que fiquei curioso.

Abaixo, o artigo de Dias.

FANTASMAS DA DITADURA

Além da lei da anistia, as dúvidas sobre as causas das mortes de Jango, JK e Lacerda provam que a conciliação traiu a democracia

Por Maurício Dias, na Carta Capital.

Essa suspeita não é nova. Entretanto, é oportuna, e será sempre até o esclarecimento das dúvidas. Não há provas concretas e nem se sabe se serão encontradas. Permanece, no entanto, por quase quatro décadas, a coincidência estranhável das mortes dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, e do ex-governador Carlos Lacerda.

Os restos mortais de Jango foram exumados para uma perícia. Com ela se saberá, de fato, se ele foi vitimado por um ataque cardíaco. Na Câmara de Vereadores de São Paulo, formou-se um dossiê, no qual são reafirmadas as dúvidas sobre o acidente com o carro de JK. Há suspeitas de que Lacerda também tenha sido assassinado.

Esses homens eram adversários históricos. JK lavou as mãos na deposição de Jango. Lacerda participou do golpe de 31 de março de 1964. Apenas três anos depois, em 1967, os obstáculos entre eles foram eliminados. Criaram a Frente Ampla. Ia da esquerda (Jango), passava pelo centro (JK) e chegava à direita (Lacerda). Reuniram-se em Portugal (Lisboa). Surgiu, além-mar, a primeira resistência articulada pacificamente contra a ditadura vigente no Brasil.

JK, JG e Lacerda morreram entre agosto de 1976 e maio de 1977. Apenas dez meses separam o desaparecimento dos três líderes políticos. Dois anos após isso, o general João Baptista Figueiredo, último presidente do ciclo militar, assinou a lei da anistia. Com os três vivos, a passagem da ditadura para a democracia teria sido diferente. Há uma história que sustenta isso.

No início da década de 70, emergiu o movimento pela anistia. Propunha uma solução “ampla, geral e irrestrita” contrapondo-se à proposta oficial de analisar processo por processo. Uma filtragem. O movimento social era forte. Não o suficiente, porém, para forçar a ditadura a incluir os integrantes da ação armada que cometeram “crimes de sangue” e, menos ainda, para excluir dela a proteção aos torturadores.

A lei da anistia foi promulgada em 1979, somente dois anos após as mortes de Jango, JK e Lacerda. Os generais brasileiros perceberam a hora de entregar os anéis para não perder os dedos. Fizeram o movimento de antecipação. O modelo econômico dava sinais de cansaço. A resistência interna crescia. O mundo girou e, no giro, o então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, veio ao Brasil. Falou com figuras da sociedade civil em afronta ao general-presidente Ernesto Geisel. Àquela altura, a ditadura já costurava a aliança com os conservadores.

Com Jango, JK e Lacerda no cenário a saída seria a mesma? A primeira eleição pós-ditadura foi indireta. O presidente civil era o conluio das articulações no Congresso. O cauteloso conciliador Tancredo Neves, naquele contexto, era mais forte que o impetuoso e combativo Ulysses Guimarães.

Em eleição direta, proposta derrotada no Congresso, seria essa? Prevaleceu a conciliação e não a renovação esperada. A lei da anistia ainda protege os torturadores. E, até recentemente, estava bloqueada uma apuração independente sobre as causas das mortes de Jango, JK e Lacerda. Podem ter sido ocasionais. Mas há indícios que sustentam dúvidas.

Na transição, com o acordo entre generais e conciliadores, a democracia foi traída.